Ivan Cordeiro: o maior representante do bolsonarismo na Câmara Municipal de Vitória da Conquista
Por Letícia Mendes - 27 de janeiro de 2023
Conquistense nato, o vereador tem uma trajetória marcada pelo envolvimento com o cristianismo e com o movimento ultraconservador que tomou conta do país a partir de 2018.
Ivan Cordeiro da Silva Filho (PTB), de 39 anos, é assumidamente um defensor do slogan que ficou nacionalmente conhecido pelas incontáveis vezes que saiu da boca do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus apoiadores: “Deus, pátria, família e liberdade”. É com essas quatro palavras que qualquer internauta se depara ao visitar o perfil do vereador no Instagram. Não à toa, ele encarnou o papel de político mais bolsonarista de Vitória da Conquista.
Nascido em 20 de abril de 1983, Ivan é filho de pais cristãos, e passou a frequentar a igreja ainda na adolescência, envolvendo-se nas atividades da juventude evangélica sempre que podia. Suas vivências no ambiente religioso o influenciaram a cursar Teologia e engatar uma pós-graduação em Liderança, pouco tempo depois de receber o diploma em Administração de Empresas pela Faculdade Juvêncio Terra (atual Maurício de Nassau), em 2002.
Segundo o vereador, essa atitude aflorou nele a vontade de usar a teologia como uma ferramenta de transformação social na chamada capital do sudoeste baiano. “Eu sempre tive o interesse de servir a minha cidade. Eu acho que essa questão religiosa ajudou também. Na verdade, a própria teologia em si, de você trabalhar para o bem da sociedade, trabalhar para o bem do lugar onde você mora”, explica.
Para tornar isso possível, em 2007, Ivan Cordeiro deu o pontapé inicial em sua trajetória política. Ingressou no Conselho Municipal da Juventude, a fim de representar a juventude evangélica de Conquista no planejamento e aprovação de projetos municipais voltados para essa população.
Sua participação em movimentos liderados por esse grupo estendeu-se até 2014, quando Ivan esteve à frente do movimento Amigos de Conquista, cujo objetivo era reunir jovens universitários para realizar ações solidárias na zona urbana e rural de Vitória da Conquista. “O que me motivou mesmo foi o serviço; trabalhar para o bem das pessoas da minha cidade”, diz.
Relação com Herzem Gusmão
Quando surgiu o interesse de se candidatar a vereador pela primeira vez, o teólogo ainda se considerava muito novo para exercer o cargo. Por isso, em 2014, dedicou-se a acompanhar as eleições nos bastidores. Nesse período, estreitou os laços com o ex-prefeito Herzem Gusmão Pereira (MDB), que na época disputava as eleições para deputado estadual.
Os dois foram apresentados um ao outro durante uma Assembleia Legislativa que ocorreu no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima. “De lá pra cá comecei a entrar mais em sintonia com Herzem”. Ivan conta que sua admiração pelo radialista aumentou ainda mais naquele dia. “Percebi o carinho, o amor que ele tinha pela cidade, a questão da coragem dele também”. No mesmo ano, acompanhou de perto o então candidato ao Legislativo estadual perder as eleições de 2014.
Sua lealdade à Herzem chamou a atenção do político. Depois de ser eleito prefeito pela primeira vez, em 2016, o radialista convidou Ivan para integrar a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra). Naquele ano, o teólogo havia concorrido ao cargo de vereador pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), primeira sigla a qual foi filiado. Entretanto, não obteve sucesso.
Sete meses após o início do mandato do então chefe do Executivo municipal, Ivan mudou de cargo na Prefeitura: Herzem o nomeou secretário de Serviços Públicos, pasta ocupada até então por Esmeraldino Correia (Solidariedade). Nesse vai e vem entre cargos, pouco tempo depois, em 2018, Cordeiro assumiu a chefia da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob).
Crise no transporte público
O período de apenas um ano em que ficou responsável pela Semob foi conturbado para Ivan. Isso porque sua atuação na pasta foi marcada pelo rompimento do contrato da Prefeitura com a empresa de transporte coletivo Viação Vitória, em agosto de 2018, devido a irregularidades na operação dos ônibus.
O município chegou a decretar estado emergencial diante da crise do transporte público municipal, enquanto estudantes e trabalhadores lotaram o terminal de ônibus em protestos. A solução foi firmar contrato apenas com a Viação Cidade Verde, que também foi denunciada por fraude no processo licitatório e rapidamente deixou a cidade por determinação do Tribunal de Justiça da Bahia.
Ivan conta que, durante o período de crise, a imprensa esteve à frente noticiando cada passo da secretaria. Ainda segundo ele, apesar de toda a tensão do momento, a Semob tomou a responsabilidade de solucionar o problema. “Enfrentamos naquele instante todo o dilema, todas as dificuldades que a cidade passava com a questão do transporte público”.
Mudança de filiação partidária
Após a sua experiência em diferentes secretarias municipais, Ivan decidiu que estava pronto para concorrer ao cargo de vereador novamente. Assim, em 2020, deixou a coligação do PSDB por não se sentir representado na legenda como oposição ao Partido dos Trabalhadores (PT). Filiou-se ao PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) à convite da então vice-prefeita, Irma Lemos, e venceu a corrida eleitoral com 2.057 votos.
Ele acredita que o projeto de lei que mais marcou o seu mandato até hoje foi o que resultou na criação “Semana do Produtor de Leite”, promovida pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural (SMDR). Em sua primeira edição, a iniciativa reuniu produtores de toda a Bahia para uma programação que contou com palestras sobre inovação, tecnologia e empreendedorismo rural. “Eu tive uma alegria muito grande de criar esse projeto pensando justamente nessa capacidade que Conquista tem”, diz.
A identidade bolsonarista
Por acreditar na necessidade de ter mais representantes da política conquistense no Congresso Nacional, o parlamentar reuniu forças políticas para tentar se eleger como deputado federal nas eleições federais de 2022. Para isso, recorreu ao capital político de duas das suas maiores inspirações na política: o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal e ex-ministro da Cidadania, João Roma (PL).
Entre posts nas redes sociais e manifestações de apoio declaradas à mídia, Ivan se consagrou como o principal candidato bolsonarista de Vitória da Conquista. “Eu carreguei essa identidade, de ser o candidato da direita conservadora aqui em Vitória da Conquista, representando o bolsonarismo”.
Por acreditar que sua linha de pensamento conservadora e de repúdio ao PT, características tradicionais da direita brasileira, estivesse refletida na figura de Bolsonaro, Ivan decidiu apostar suas fichas no então candidato à reeleição. “Eu dizia que mesmo que fosse arriscado tomar essa decisão, mesmo assim eu ia acreditar, dar o voto de confiança a Bolsonaro para que a gente pudesse mudar os rumos do nosso país”, afirma.
Em agosto de 2022, quando o ex-chefe do Executivo Federal esteve em Vitória da Conquista para uma motociata em apoio à própria campanha, Cordeiro o recepcionou no aeroporto e, na mesma semana, organizou uma série de adesivaços para reunir apoiadores e defensores de Bolsonaro.
No entanto, apesar de todos os esforços empregados no pleito eleitoral, os três candidatos que tanto se apoiaram não foram eleitos. Mesmo assim, Ivan, que recebeu pouco mais de 13 mil votos, avaliou positivamente a sua participação na eleição federal. Além disso, ele afirma que não tem pretensão de deixar de apoiar Bolsonaro.
Terrorismo em Brasília
Por não se conformarem com a derrota do ex-presidente nas eleições de 2022, centenas de bolsonaristas radicais realizaram um ato terrorista em Brasília. No dia 8 de janeiro deste ano, grupos de extrema-direita invadiram e depredaram o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto, sede da Presidência da República. Destruíram móveis, obras de arte e partes da estrutura dos prédios, exigindo intervenção militar imediata.
Apesar do apoio a Bolsonaro, Ivan se declarou contrário aos ataques e repudiou o ocorrido. “Eu não tenho compromisso algum com o extremismo”, disse. Para ele, manifestações devem ser feitas na base do diálogo e de forma pacífica. “Eu acho que não é na violência, não é depredando o equipamento público que a gente vai conseguir convencer as pessoas”, completou.
O parlamentar também afirmou que é a favor das pessoas serem identificadas e devidamente punidas pelos seus atos, mas ressaltou que “não pode aceitar a forma desumana como estão sendo tratadas as pessoas” que foram presas preventivamente após o 8 de janeiro.
No dia 7 de setembro de 2021, Ivan participou de um ato pró-Bolsonaro, que pedia o fim do Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar desse ato também ter sido considerado antidemocrático, o vereador não concorda com tal afirmação. “Foi um movimento pacífico e eu acho que é isso que a gente precisa que aconteça cada vez mais no nosso país”, finalizou.
Foto de capa: Ascom CMVC
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