Especial REC Conquista | Mulher, rotina e cinema

Por - 9 de março de 2023

Durante a programação da 2ª Semana de Projeção REC Conquista, trazemos em nosso site textos produzidos por professores, pesquisadores e realizadores audiovisuais que refletem sobre os filmes e temáticas do evento.

Para todas as mulheres o Dia da Mulher é uma rotina como qualquer outro dia, mesmo o domingo, quando almoçamos fora ou na casa de alguém querido. Existe sempre uma demanda, uma rotina a ser cumprida. Algumas nem se lembram dessa data, a não ser quando entram no mercado e encontram uma promoção na prateleira de cosméticos e shampoos. Ou quando ganham flores no trabalho ou do companheiro.

O fato é que, internacionalmente, mulheres são invisibilizadas, seus corpos e sanidade mental são violentados e cada país precisa se dedicar à criação de leis a seu favor, diariamente, por longos anos.
O terceiro dia de projeção da REC Conquista foi em homenagem a essa luta com o tema “Gênero e Patriarcado”.

Antes do programa realmente começar, eu me sentei no sofá pensando em como eu passei esse dia, lavando, limpando, esfregando, estendendo, cuidando, cortando, cozinhando e organizando as coisas para que a rotina do restante da semana fosse mais leve para mim e para com as pessoas que vivem e dividem suas vidas comigo. A diferença foi apenas um bombom que minha companheira ganhou, antes de uma consulta médica pela manhã.

Enquanto retorno os pensamentos para o presente, me lembro da pipoca e do suco, mas nossos corpos já estavam jogados no sofá pela fadiga diária. Desisto, me concentro em pensar que tive a honra de participar, enquanto atriz, fotógrafa still e making-of, das produções que seriam exibidas. Em Canções para não dormir foi a primeira vez que me aventurei em participar como atriz figurante no audiovisual conquistense.

Recordo de Daniel Leite, o diretor do filme, me convidar para interpretar a personagem, porque eu tinha justamente o mesmo espírito independente e confiante que ela. Ao contrário da personagem principal que vive uma violência psicológica diária, culminando em física. Em O ovo, de Rayane Teles, fiz figuração rápida em algumas cenas, mas estive no set todos os dias para registro do making-of e still do filme.

Penso em como foi difícil gravar em plena pandemia, um roteiro que provocava a realidade da convivência humana e como isso é dilacerante em uma relação, quando o outro não compreende que a mulher não é alguém para servi-lo, mas sim para compartilhar, construir e realizar, juntos, os seus sonhos.
Depois de assistir aos dois filmes, consigo ver uma linha tênue entre os dois personagens homens, maridos, violentos e incompreensíveis das histórias.

As “suas” mulheres precisam ser suas mães. Ocupar aquele lugar do perdão, do colo, da servidão e compreensão, como se elas também não precisassem ser compreendidas e acalentadas. O auge dessas relações é quando o olhar já não fala como antes e a língua torna-se afiada demais ou uma mão dura avança. Daí, parafraseando Jacque Tamboo, devo dizer que a sorte de vocês é que a gente quer justiça e não vingança.


*Rebeca S. Reis é natural de Vitória da Conquista e estuda Cinema e Audiovisual na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). É fotógrafa, assistente de produção em projetos culturais, atriz e realizadora audiovisual. Atualmente, se envolve nas produções audiovisuais enquanto assistente de fotografia, logger e still.

Foto de capa: Reprodução / O Ovo.

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