Opinião | Enquanto sucateia o ensino público, gestão municipal se mostra subserviente a interesses privados

Por - 7 de fevereiro de 2022

Prefeitura de Vitória da Conquista cede às pressões do setor privado para revogar o adiamento das aulas, mas mantém retorno escalonado para estudantes de escolas públicas a partir do dia 21.

Desde o início da pandemia da covid-19, a rede pública de educação de Vitória da Conquista vem sofrendo com as consequências da falta de investimento e do descaso da atual gestão com os estudantes e suas famílias. Atitudes como demora para a adaptação ao ensino remoto, atraso para o retorno presencial e lentidão no processo de reforma das escolas municipais, mostram como tudo vem sendo realizado para satisfazer os interesses dos colégios privados, em detrimento do ensino público.

A mais recente decisão que escancara essa realidade diz respeito à revogação do decreto que adiava o início do ano letivo 2022. Enquanto foi autorizada a retomada presencial em todas as instituições particulares a partir desta segunda-feira, 7, nas escolas públicas, foi mantido o retorno escalonado somente a partir do dia 21, conforme havia sido previamente informado.

Vale destacar ainda que o decreto 21.700 foi publicado na noite da última sexta-feira, 4, a tempo dos anúncios de volta às aulas chegarem aos pais e responsáveis de alunos da rede privada. Por outro lado, a data de retorno para a rede pública só foi divulgada hoje, 7. Será que apenas as queixas dos representantes dos estabelecimentos de ensino privado importam para a gestão municipal?

O descaso com a rede municipal de educação não é recente e ficou ainda mais claro a partir do dia 17 de março de 2020, quando as aulas foram suspensas e foi decretado o lockdown, em decorrência da situação pandêmica que começava a assolar o Brasil e o mundo. À época, a primeira medida da Prefeitura foi cortar incentivos dos professores efetivos e diminuir a carga horária dos contratados. As decisões relacionadas à vida dos estudantes, no entanto, demoraram a acontecer.

Uma plataforma de ensino foi desenvolvida quando as instituições privadas já tinham se adaptado ao ensino remoto e, ainda assim, não foi capaz de atingir muitos dos estudantes mais pobres, sobretudo os que moram nas áreas rurais do município. A insegurança alimentar também foi um dado alarmante no primeiro ano de pandemia, já que não poderia ser resolvida com os pequenos kits de alimentação distribuídos entre as famílias.

O ano de 2021, mais uma vez, marcou a disparidade entre os estudantes da rede pública e privada. As aulas presenciais estavam acontecendo, mesmo sem liberação por meio de decreto, nas instituições particulares. Porém, as famílias e os alunos da rede pública, os que mais necessitavam do suporte escolar, só puderam retomar as atividades presenciais já no final do ano.

E aqui não defendemos esse retorno antes da hora, sem a vacinação dos responsáveis, profissionais da educação e das crianças. Entretanto, reconhecemos que as famílias mais pobres são aquelas que mais necessitam do espaço seguro do ambiente escolar, para que os mais velhos possam sair para trabalhar e os mais novos tenham pelo menos uma refeição garantida no dia.

É revoltante perceber que inúmeras crianças e adolescentes vêm tendo o seu direito ao ensino de qualidade negado. Não pelos profissionais da educação, mas sim pelo poder público, que se curva ao capital e auxilia no sucateamento das escolas municipais.

Foto de capa: Secom/PMVC.

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