“É nós por nós mesmo, ainda é bem difícil encontrar apoio na arte urbana”

Por - 21 de julho de 2021

Os grafites que colorem as ruas de Conquista são frutos da resistência de artistas que tentam transformar muros em galerias de arte a céu aberto

“Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza, só ficou no muro tristeza e tinta fresca”, cantou Marisa Monte após os escritos do Profeta Gentileza terem sido apagados pelo Governo de São Paulo. E para que nós, ao passarmos “apressados pelas ruas da cidade” de Vitória da Conquista, possamos ter contato com a arte e as cores dos grafites, artistas resistem e tentam manter vivo o cenário no município. O Conquista Repórter conversou com dois deles: os grafiteiros Tiano Vilarino e Manolo Araújo.

Tiano Vilarino: “Eu entrei no grafite através dos movimentos sociais. Meu pai é artesão, minha mãe é artesã, então eu venho sendo alimentado com a arte desde novo. Vamos dizer assim: vendo o pessoal movimentar e viver de arte. Ocupar um espaço com grafite foi uma forma que eu vi de levar o meu trabalho, minha arte pra todas as pessoas do meio urbano e também a forma de me expressar. Eu achava que o grafite estava mais próximo de mim, das pessoas periféricas, do pessoal que não tinha acesso à galeria [de arte].”

Manolo Araújo: “Eu comecei a grafitar há muitos anos, há mais de quinze, dezesseis anos. Já desenhava desde criança. A arte sempre estava ali no paralelo. E aí quando eu começo a me considerar artista profissionalmente, eu entendo que a arte merece avançar pela cidade, porque a arte comunica, faz pensar, estimula o pensamento crítico. Então, é daí que vem o meu desejo de avançar na cidade pra trazer mais sensibilidade. As cidades que, via de regra, são palcos e territórios de dessensibilização social.”

Para Tiano e Manolo, as ruas das cidades são um quadro a céu aberto ou uma galeria de arte ao ar livre. Eles lamentam, entretanto, que o cenário em Vitória da Conquista não seja tão favorável para quem trabalha com grafite. “Infelizmente, é um cenário que está adormecido, porque a arte de rua não é estimulada aqui, muito pelo contrário, ela é reprimida”, afirma Manolo. Já Tiano diz que o grafite precisa ocupar mais espaços no município, o que segundo ele, depende de uma valorização e preocupação maior do Poder Público com relação à arte.

“Tem é que seguir pintando”

Apesar dos desafios e da desvalorização, a arte de rua continua viva em Conquista, principalmente nas periferias. Para tanto, a colaboração e o apoio mútuo entre os artistas é fundamental. “Um ajudando o outro”, explica Tiano. “Eu mesmo tenho várias telas aqui na cidade e na Bahia, e costumo sempre pintar. Assim, eu posso estimular outras pessoas a pintarem. Essa é a nossa forma de levar o grafite para nossa cidade”, acrescenta.

“É seguir tentando pintar sempre e estimular essas novas gerações, oferecer e compartilhar conhecimento”, diz Manolo. Antes da pandemia da covid-19, ele fazia atividades com crianças, no intuito de estimular a criatividade e o crescimento de novos artistas urbanos no município. “Os mutirões, por exemplo, são atividades que amadurecem a cena. E está 100% parado em Conquista [no momento]”. Em breve, Manolo conta que pretende voltar a realizá-los,

Atualmente, ele está grafitando um painel na Avenida Jorge Pedral, no bairro Vila América, e já pensa em fazer atividades livres com as crianças, em um campo de futebol. O artista também acredita que um painel dá uma amplitude maior ao que produz e faz com que outras pessoas tenham interesse pelo grafite.

*Foto de capa: Manolo Araújo.

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