Covid-19: movimento de mulheres pede vacinação para gestantes, puérperas e lactantes em Conquista
Por Karina Costa - 27 de maio de 2021
Mobilizadas através de um grupo no WhatsApp com mais de 150 participantes, elas irão se reunir com a Diretoria de Vigilância à Saúde nesta sexta, 28
Desde segunda-feira, 24, um grupo de mulheres de Vitória da Conquista solicita a vacinação de todas as gestantes, puérperas (aquelas que estão na fase do pós-parto), e lactantes do município. A mobilização acontece através de um grupo no WhatsApp, que já conta com mais de 150 participantes, e por meio de uma página no Instagram denominada ‘Lactantes Pela Vacina VCA’.
Em ações coordenadas nas redes sociais, as integrantes do grupo deixam comentários nas publicações da Prefeitura e da chefe do Executivo municipal, Sheila Lemos (DEM), no Instagram. “Quando será a vacinação de lactantes, gestantes e puérperas? Já temos direito pelo PNI e pela CBI. Pode nos responder?”, questiona uma usuária.
Outra mulher faz a mesma pergunta e acrescenta: “uma vergonha para Vitória da Conquista, cidade linda, grande e mais desenvolvida que muitas da Bahia. Está deixando a desejar nessa questão”. Os dois comentários foram feitos na publicação em que a Prefeitura anunciou o recebimento de um novo lote da vacina CoronaVac, na terça-feira, 25.
Inspirado em um movimento que nasceu em Salvador e cuja página no Instagram já possui mais de 30 mil seguidores, o grupo de conquistenses pede que o município cumpra as diretrizes do Plano Nacional de Imunização (PNI) e as resoluções da Comissão Intergestores Bipartite da Bahia (CIB). O PNI, de 15 de março, prevê a vacinação de gestantes e puérperas com comorbidades até 45 dias após o parto. E a resolução nº 85/2021 da CIB, publicada no Diário Oficial do Estado em 20 de maio, dispõe sobre a imunização de mulheres que amamentam bebês de até 12 meses.
“Embora a gente reconheça que a Bahia está avançada na vacinação para lactantes, já que foi autorizada pela CIB, aqui em Vitória da Conquista, nós não tivemos nenhuma resposta em relação a essa imunização. Não tem vacina para mulheres que amamentam, nem para gestantes e puérperas com comorbidades, embora essa última tenha sido autorizada pelo Ministério da Saúde”, disse Viviane Sobrinho, 31, mãe de Tito, de 3 anos, e gestante de 32 semanas.
De acordo com Viviane, apenas no dia 18 de maio, através de uma nota, a Prefeitura de Conquista se manifestou sobre o assunto. Na publicação, a Secretaria Municipal de Saúde informou que as gestantes, puérperas e lactantes estavam inclusas na segunda fase da vacinação na cidade. Mas, como o estoque da CoronaVac – único imunizante aprovado para a aplicação em mulheres grávidas e puérperas – estava esgotado, não era possível realizar a imunização do grupo.
Já nessa quarta-feira, 26, a Secretaria de Saúde publicou outra nota a respeito do tema, após repercussão do assunto nas redes sociais e na imprensa conquistense. A justificava apresentada foi a mesma. Segundo o órgão municipal, a única vacina disponível na cidade é a AtraZeneca/Oxford, suspensa temporariamente para aplicação em gestantes e puérperas, após determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Saúde, por meio da Nota Técnica Nº 651/2021.
Maternidade na pandemia
Enquanto não há vacinas para essas mães, elas sentem medo, principalmente pelos filhos, que ainda são muito pequenos para se protegerem sozinhos. “Diversas lactantes trabalham presencialmente e isso eleva o risco de contágio da mãe e dos filhos. Além disso, não existe previsão de vacinação para os bebês. A imunização da mulher que amamenta é a única forma de garantir algum grau de proteção a essas crianças”, contou Loyana Muniz, 36, mãe de Bento, 6 anos, e de Serena, 8 meses.
Pesquisas científicas realizadas ao longo de 2020 e 2021 apontam que os anticorpos da mãe que recebeu a vacina contra a covid-19 podem ser transferidos através do leite materno, o que garante a proteção do bebê. Um dos estudos foi realizado por pesquisadoras do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Para Loyana, esse é um dos argumentos que comprova a importância da vacinação de gestantes, puérperas e lactantes. “Essa é uma política pública que, além de eficiente, é econômica. Com apenas uma vacinação, ficam protegidas duas pessoas”, explicou.
Mãe de Gael, de 5 meses, Aline Mattos acredita que a vacina é um sinal de esperança em meio à ansiedade e as incertezas da maternidade durante a pandemia. “Ter um bebê nesse período me deu alegria porque desejava muito ser mãe, mas ao mesmo tempo me provocou medo. Dia após dia, vemos os casos de covid-19 aumentarem sem saber quando nós e os nossos bebês serão protegidos”, desabafou.
Thailana Santana, 32, é mãe de Tarcísio, de 11 meses. Ela também iniciou a maternidade em meio à crise sanitária e sente medo pela segurança do seu bebê. “Como ele não pode usar máscara, eu fico sempre insegura sobre a possibilidade de contaminação, especialmente agora com as novas variantes que são mais agressivas com as crianças”.
A enfermeira Gau Barros, mãe de Benjamin, 4 anos, e de Moana, 5 meses, disse que se sente extramente assustada e espera que a vacinação avance em Conquista para os grupos que devem ser prioritários. “A gente vê milhares de mortes todos os dias e agora tem as novas variantes que agravam os quadros dos bebês e crianças. A gente vai ficando com cada vez mais medo, mas a vacina é uma luz no fim do túnel”, disse.
Os próximos passos
Com o apoio da ex-vereadora Nildma Ribeiro, o grupo ‘Lactantes Pela Vacina VCA’ conseguiu agendar uma reunião com a diretora de Vigilância à Saúde, Ana Maria Viana Ferraz. O encontro acontecerá nesta sexta, 28.
Além disso, as integrantes do movimento terão espaço na plenária da Câmara de Vereadores de Conquista, obtido através de uma parceria com a vereadora Viviane Sampaio (PT). Também na sexta-feira, 28, representantes da mobilização irão apresentar as reivindicações das gestantes, puérperas e lactantes durante a sessão do Legislativo conquistense.
Foto de capa: Pixabay
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