Chico Estrella: de vereador da oposição a líder do governo na Câmara Municipal

Por - 8 de setembro de 2021

Conheça a história do edil que se elegeu para o seu primeiro mandato criticando a chapa da qual, posteriormente, seria o principal representante no Poder Legislativo conquistense

O vereador Francisco Estrela Dantas Filho, publicamente conhecido como Chico Estrella, nasceu em 7 de abril de 1964, uma semana após o golpe militar que instaurou, no Brasil, uma ditadura que perdurou por cerca de duas décadas. Cresceu, portanto, em um período marcado por censura, tortura, supressão de liberdades, sequestros e execuções. 

Entretanto, está longe de acreditar no que os historiadores contam acerca dessa época sombria para o país. “No meu convencimento, foi uma intervenção militar feita a pedido do povo, das instituições democráticas de direito, da Igreja Católica, que não suportavam mais a corrupção generalizada”, diz.

Natural de Indiaroba, pequena cidade localizada em Sergipe, Estrella veio para Vitória da Conquista quando tinha 5 anos, junto com seus três irmãos, o pai Francisco Estrela Dantas e a mãe Luzinete Cardoso Dantas. “A única recordação que eu tenho é que saí de um calor insuportável e vim pra Conquista, onde o clima é absurdamente frio. Demoramos muito para nos adaptar à cidade, mas depois que nos adaptamos, a gente deslanchou nossa vida normalmente”, lembra.

Mudaram-se para o sudoeste baiano depois que o patriarca da família, que era prefeito do município sergipano onde moravam, teve o seu mandato cassado pelo governo militar. Diante disso, ele nunca mais quis saber de política, dedicando o resto da sua vida ao ramo empresarial. 

Ao chegarem em Conquista, passaram seis meses em uma casa na Rua Laudicéia Gusmão, no Centro, até que o ex-prefeito comprou uma residência definitiva para morar com a esposa e os filhos, na Rua João Pessoa, onde Dona Luzinete mora até hoje, segundo Chico. O edil, por sua vez, vive no bairro Candeias, com a família que ele mesmo constituiu. 

Depois de concluir o que costumava ser chamado de “segundo grau”, ele se casou, pela primeira vez, aos 17 anos. Dos cinco filhos que possui, um é fruto do primeiro matrimônio, que durou pouco tempo se comparado à união que mantém com sua atual esposa, com quem vive há 31 anos. O casal teve dois filhos. Os outros dois, nas palavras de Chico, “são de fora do casamento”. E o vereador fala de todos com orgulho. 

Antes da política, o futebol

Chico Estrella não chegou a cursar o ensino superior. Nem sequer fez vestibular. Mas diz que o sonho da sua vida era ter se graduado em Direito. Segundo ele, o curso lhe ajudaria a lidar melhor com os vários termos técnicos com os quais se depara durante os trabalhos da Comissão de Legislação, Justiça e Redação Final da Câmara Municipal de Vitória da Conquista. Aos 57 anos, descarta a possibilidade de se tornar um estudante universitário.

“Estou com minha vida arrumada, tenho um cargo de vereador aqui na cidade que me honra muito. Eu acho que não se faz mais necessário. O que eu aprendi na vida, acho que dá pro gasto. O resto eu vou aprendendo com os meus colegas que tanto dignificam os seus mandatos”, explica.

Além de vereador, Chico é empresário. Junto com os irmãos e a mãe, herdou os negócios do pai, que faleceu quando ele tinha 15 anos. Hoje em dia, se dedica ao ramo de finanças, mas já teve empresas de outros segmentos, como supermercado e loja de confecções. Antes disso tudo, porém, foi jogador de futebol.

Começou a carreira no esporte aos 17, no Serrano. Depois, foi para a equipe juvenil da Catuense, onde ficou por um ano. Então, retornou ao time no qual havia iniciado sua trajetória como atleta. Segundo o próprio Chico, nessa época, ele era o goleiro de primeira divisão mais jovem do país. Só deixou o futebol aos 42 anos, por conta da idade. Sua última partida como profissional foi contra a equipe do Vasco da Gama, no Estádio Lomanto Júnior, jogo que resultou em empate. 

“O esporte está intrínseco em mim, desde a minha adolescência. Hoje, infelizmente, não dá mais pra jogar futebol, mas a gente ainda dá uma enganada, ainda bate uns babinhas. À frente do futebol, eu acredito que já dei a minha colaboração para o esporte profissional. E o que eu posso fazer pra ajudar o amador, dentro das minhas possibilidades, eu estou fazendo”, relata Chico, que é flamenguista. 

O interesse pela política, segundo ele, “vem do sangue”, devido ao fato de vários membros de sua família terem exercido cargo público, e não apenas o seu pai. “Meu irmão foi deputado por vários mandatos. O outro foi vereador lá na cidade de Indiaroba. Além disso, meu avô, meus tios, todos sempre estiveram inseridos na política. Eu, particularmente, entrei na política para fazer alguma coisa para que todos tivessem pelo menos as mesmas oportunidades que eu tive”, diz.

“Fui eleito criticando a chapa que hoje está no governo”

Apesar de ter sido eleito, em 2020, pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC), durante a maior parte da sua trajetória político-partidária, Chico foi filiado ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Passou a integrar a sigla tucana em 1988, quando concorreu pela primeira vez ao cargo de vereador. Até conquistar o espaço que ocupa hoje no Legislativo municipal, foram quatro tentativas. 

“Após 30 anos no PSDB, eu fui para o PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro) e depois me filiei ao PTC em uma conjuntura que seria mais fácil para eu ganhar a eleição, como realmente aconteceu. Foi uma escolha estratégica, não ideológica”, ressalta. Para o empresário, vencer a eleição foi a realização de um sonho. “Acredito que o mesmo sentimento quando sai o resultado da votação e você vence é quando você está numa partida de futebol e consegue defender um pênalti. É emocionante”, acrescenta.

O vereador Chico Estrella (PTC), durante pronunciamento na Câmara Municipal de Vitória da Conquista. Foto: Ascom / CMVC.

Suas duras críticas à gestão do ex-prefeito Herzem Gusmão, de quem já havia sido aliado, foi uma das suas principais plataformas eleitorais. Chico rompeu com Gusmão pouco antes de deixar o PSDB, tornando-se um dos seus principais opositores, sobretudo nas eleições municipais de 2020, quando o ex-gestor concorreu ao seu segundo mandato ao lado da atual prefeita Sheila Lemos, então candidata à vice. 

“Eu fui eleito criticando a chapa que hoje está no governo”, reconhece. E em seis meses de mandato, Estrella se envolveu em polêmicas como nenhum outro vereador de Vitória da Conquista. Logo quando assumiu o cargo, em 1º de janeiro deste ano, chegou a dizer, em entrevista concedida ao Blog do Sena, que sua trajetória política e o que havia feito durante a campanha eleitoral de 2020 o credenciava para liderar a bancada de oposição na Câmara Municipal. 

O que se sucedeu, posteriormente, foi o oposto disso, e levou o edil Alexandre Xandó (PT) a chamá-lo de “vira-casaca”. A convite de Sheila Lemos, em maio, Chico se tornou líder do governo municipal no Legislativo, meses depois de ele ter falado para a prefeita “descer do salto” e “parar de fazer turismo” ao administrar o município. Ainda assim, ambos negaram que a mudança tenha sido fruto de estratégia política

“Ao me fazer o convite, a prefeita me perguntou se eu só sabia criticar, se eu só sabia denunciar ou se eu tinha a capacidade de ajudar a resolver. Eu decidi vir para o governo porque, apesar de hoje ter o poder de criticar e apontar o que está errado, tenho o poder de, junto com a prefeita, tentar solucionar os problemas de Vitória da Conquista”, afirma. 

O lado crítico, que sempre foi uma de suas marcas, continua a existir, segundo ele. “Sempre faço as minhas críticas, só que, primeiro, levo à prefeita para que a gente possa tentar resolver. Me tornei da bancada de oposição pelas críticas que fazia ao prefeito anterior. Se eu fosse para a bancada de situação logo depois de Herzem vencer as eleições, aí sim acho que seria uma incoerência da minha parte”, conclui. 

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Foto de capa: Ascom / CMVC

*’Os eleitos’ é uma série especial do Conquista Repórter que tem como objetivo traçar o perfil dos candidatos escolhidos pelos conquistenses nas eleições municipais de 2020 para os Poderes Legislativo e Executivo.

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