Casos de câncer de mama diminuem na Bahia, mas doença é a terceira maior causa de mortes de mulheres no estado

Por - 27 de outubro de 2021

Segundo oncologista do Icon, redução ocorreu porque muitas mulheres não procuraram o sistema de saúde durante a pandemia da covid-19, sendo diagnosticadas tardiamente, o que eleva as chances de mortalidade

Dos mais de 40 mil casos de câncer de mama registrados no Brasil no ano passado, 2.076 ocorreram na Bahia. Os dados, coletados pela Agência Tatu de Jornalismo, são do Datasus e apontam uma redução de 19% no número de mulheres que contraíram a doença no estado em relação a 2019, quando 2.578 baianas foram diagnosticadas com um tumor na região mamária. Uma diminuição como essa não era registrada desde 2015.

Entre 2016 e 2019, o número de casos de câncer de mama na Bahia foi crescente. Levando em consideração a estimativa populacional feminina divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2020, os dados revelam uma taxa de 27 casos a cada 100 mil baianas. Em todo o país, essa taxa é de 37 casos a cada 100 mil brasileiras.

A Bahia tem a terceira menor incidência do Nordeste, ficando atrás apenas de Alagoas, com 24, e Piauí, com 22. Já o Rio Grande do Norte é o estado com a maior incidência de casos de câncer de mama não apenas no Nordeste, mas em todo o país, com 62 casos a cada 100 mil mulheres. Veja os detalhes nos gráficos a seguir.

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Apesar da diminuição dos casos de câncer de mama na Bahia e da menor incidência da doença em comparação a outros estados do Nordeste, ela foi a terceira maior causa de mortes de mulheres baianas em 2020, atrás apenas da covid-19 e de problemas cardiovasculares. Foram 1.031 óbitos em decorrência dessa comorbidade no ano passado, o que equivale a 16,2% do total de mortes por tumores, segundo pesquisa divulgada pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI)

Esse número também é o equivalente a quase metade dos casos registrados no Datasus em 2020, o que demonstra a alta taxa de mortalidade do câncer de mama. Só este ano, até junho, 488 mulheres baianas já tiveram suas vidas interrompidas pela doença e 1,6 mil pacientes foram internadas. Dados como esses explicam porque, entre todos os tipos de neoplasias malignas, ela é uma das mais temidas pela população feminina. 

Prevenção e sintomas

Causado pela multiplicação desordenada de células anormais da mama, que forma um tumor que pode invadir outros órgãos, o câncer de mama atinge, principalmente, mulheres a partir dos 50 anos. Em 2020, 72% das baianas que morreram em decorrência da doença tinham idade igual ou superior a essa, de acordo com o estudo da SEI. Segundo especialistas, quando o tumor é encontrado com até um centímetro, as chances de cura ficam acima de 90%. Por isso, o diagnóstico precoce é tão importante.

De acordo com o oncologista Leonardo Cunha, do Instituto Conquistense de Oncologia (Icon), nesses últimos dois anos, houve uma diminuição do número de diagnósticos de câncer de mama, pois muitas mulheres não procuraram o sistema de saúde, em decorrência da pandemia da covid-19. Por isso, realizaram exames, sobretudo a mamografia, tardiamente e, assim, descobriram neoplasias avançadas. 

“Infelizmente, quanto mais avançada é uma neoplasia, pior é o prognóstico. Então, isso explica o fato de que, apesar de o número de casos de câncer de mama ter sido um pouco menor em 2020, em comparação a outros anos, a mortalidade foi alta. Quando falamos de prevenção, nossa intenção é diagnosticar o câncer numa fase no qual a mulher ainda não consiga identificar nenhum sintoma”, esclareceu Leonardo. 

Dr. Leonardo Cunha: “Quando falamos de prevenção, nossa intenção é diagnosticar o câncer numa fase no qual a mulher ainda não consiga identificar nenhum sintoma”.

Ele lembrou ainda que um dos sintomas mais comuns é a existência de nódulos na região mamária, que podem ser percebidos com o toque, através do autoexame. Outros sinais são inchaço, irritação, dor, vermelhidão e espessamento ou retração da pele da região mamária ou do mamilo. “Caso a paciente identifique algum desses sintomas, a recomendação é que procure um profissional de saúde para que ele possa, de fato, fazer o diagnóstico. O autoexame tem muito mais a ver com a conscientização da mulher em relação ao autocuidado, à atenção à sua mama. O que é mais relevante é que ela procure o atendimento especializado e realize a mamografia”, ressaltou o oncologista.

A importância do Outubro Rosa

A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda que esse exame seja feito anualmente em mulheres acima de 40 anos. Para aquelas com idade inferior a essa, o procedimento de avaliação mais recomendado é a ultrassonografia mamária. Como forma de intensificar essas e outras ações de prevenção ao câncer de mama, um movimento internacional realiza, no décimo mês de todo ano, o Outubro Rosa. 

Em Vitória da Conquista, o Dia D da campanha ocorreu no último domingo, 24, e foi marcado por um passeio ciclístico. Nas unidades de saúde do município, ao longo deste mês, foi ampliada a oferta de exame preventivo, exame clínico das mamas e solicitação de mamografias. Além disso, foram promovidas palestras, rodas de conversa e consultas médicas. Na Câmara de Vereadores, ocorreu uma sessão especial sobre o assunto na última sexta-feira, 22.

Já no sábado, 23, ocorreu o 1º Simpósio ‘Outubro Rosa: Saúde e Direitos da Mulher’, que contou com a participação de diversos profissionais das áreas da Medicina, Psicologia, Direito, Sociologia, Gestão e Política. Para o Dr. Leonardo Cunha, o Outubro Rosa se torna ainda mais relevante neste ano de 2021, porque, segundo ele, “estamos saindo de um período de pandemia no qual muitas pacientes  adiaram os cuidados com o seu corpo e com sua saúde. Então, elas precisam aproveitar essa oportunidade e realizar os exames”. 

Foto de capa: Jefferson Peixoto / Secretaria de Comunicação do Governo da Bahia

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