“A REC Conquista é um espaço de inspiração e celebração”

Por - 16 de março de 2023

2ª Semana de Projeção chega ao fim com mais de 30 filmes exibidos em canais de TV educativos e em sessões presenciais. O evento contou com diversas produções de alunos e egressos do curso de Cinema e Audiovisual da UESB.

A 2ª Semana de Projeção REC Conquista reuniu, entre os dias 6 e 14 de março, uma seleção de mais de 30 filmes produzidos nos últimos anos por diversos profissionais do audiovisual de Vitória da Conquista e do Sudoeste da Bahia. De forma totalmente gratuita, o evento buscou democratizar o acesso ao cinema produzido na região para garantir que o público pudesse desfrutar de uma programação diversificada.

Para tornar isso possível, a REC Conquista foi planejada para funcionar em formato híbrido ou semipresencial. Houve exibições tanto na TV UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia) e TV UFMA (Universidade Federal do Maranhão) – emissoras universitárias e educativas – quanto em sessões presenciais em salas de cinema do interior baiano. Os filmes foram transmitidos ainda no canal da Ato3 Produções no YouTube.

A primeira sessão ocorreu presencialmente, com direito a uma cerimônia de abertura no Povoado do Pradoso, distrito de Vitória da Conquista. O local foi um dos principais cenários para a gravação do longa-metragem Alice dos Anjos, do diretor executivo da Ato3 e organizador da 2ª Semana de Projeção, Daniel Leite Almeida. 

Na ocasião, a comunidade pôde celebrar sua participação no filme, se identificando com o que viu na tela do cinema. Para Daniel, essa é uma das principais formas de cumprir o objetivo do evento, pois “muitas dessas pessoas vão conseguir ver seus cenários, suas paisagens e seus personagens” refletidos na produção. Ainda segundo ele, é preciso cada vez mais “fazer os filmes para os nossos, mas também levar esses filmes para os nossos”.

De geração em geração

Os demais dias que sucederam o evento foram divididos em mostras temáticas, trazendo discussões que perpassaram temas como gênero, memória e patrimônio cultural, infância, entre outros. Essas conexões surgiram a partir das perspectivas individuais e coletivas dos mais diversos realizadores que, com muito orgulho, viram suas produções alcançarem pessoas para além das fronteiras do Sudoeste baiano. 

Os filmes exibidos foram escritos e dirigidos, em sua maioria, por alunos e egressos do curso de Cinema e Audiovisual da UESB, que cada vez mais buscam novas possibilidades de se inserir no mercado da área. Para o professor Glauber Lacerda, diretor do filme Reviramundo (2014), os alunos têm avançado de geração em geração. “Já fazemos filmes que passam em festivais do mundo inteiro. É muito bonito vermos os jovens desejando essa carreira e podendo se formar entre nós”, conta. 

Esse desejo sempre morou no coração de Edmundo Lacerda, que, aos 70 anos, cursa Cinema na UESB. Ele dirigiu “O Sonho de Zezinho”, filme que mescla fantasia com autobiografia ao narrar a história de um menino que sonha em ser diretor de cinema. A produção foi ao ar na mostra “Olhares sobre a infância”, no segundo dia da REC Conquista. 

Para Edmundo, ver o seu filme e tantos outros serem exibidos na Semana de Projeção “vai muito além do esperado como alguém que está começando seu processo no ramo do audiovisual”. “Isso é um Oscar pra nós. Toda vez que nosso filme é exibido, ainda mais em TV aberta, mostra que o cinema é uma força que estabelece a relação de um povo com suas histórias. E eu estou nesse meio com muita alegria”, acrescenta. 

Cinema feito por mulheres

O protagonismo da mulher à frente de projetos cinematográficos também se fez presente durante a 2ª Semana de Projeção REC Conquista. No Dia Internacional da Mulher, Rayane Teles, bacharel em Cinema e Audiovisual pela UESB e mestre em Roteiro pela Escuela Internacional de Cine Y Televisión, teve o seu curta-metragem “O Ovo” exibido na mostra “Gênero e Patriarcado”.

De acordo com Rayane, ver o seu filme extrapolando fronteiras através da televisão é uma grande conquista. Mas ela destaca que ainda existem dificuldades para que mulheres cineastas ocupem espaços no mercado de trabalho. “É muito difícil, muito mesmo. Eu acho que algumas coisas tem mudado, temos avançado em algumas discussões. Tenho visto mais gente preta, mais mulheres à frente de muitas produções, mas acho que ainda é muito pouco comparado aos homens”.

Outra realizadora que chamou atenção para as discussões de gênero foi Shirley Ferreira, que dirigiu os filmes “Bicho” e “Solo seco e rachado”, esse último ao lado de Daniel Leite Almeida e Ricardo Fraga. Em ambas as produções, a artista mescla vídeo-arte, documentário e performances corporais que revelam histórias de violência vividas por mulheres.

Shirley é mãe, crocheteira, performer, multiartista, e trabalha com teatro desde os anos 2000. Agora, a atriz se dedica também à realização de filmes e produções colaborativas. E acredita que a conexão entre o cinema e o teatro gera grandes aprendizados. “É uma soma grandiosa para o nosso trabalho. A gente acaba abrindo a cabeça para várias outras possibilidades”, conta. 

A Semana de Projeção REC Conquista abriu as portas para que diversas realizadoras, além de Rayane e Shirley, tivessem suas produções exibidas durante a programação, dentre elas: Natalia Maia, co-diretora do filme “Rua Dinorá”; Manoela Ziggiatti, com o filme “O vôo”; Patrícia Moreira, diretora de “Amoras” e “Madrigal de memórias”; Ana do Carmo, com “Mulher no fim do mundo”; Leticia Cristina, co-diretora de “Os dias com você”; Rayssa Coelho, com “Coleção Preciosa” e “Central de Memórias”; e Yasmin Rocha, diretora de “Não é só isso”.

Sessão acessível

Para o encerramento do evento, no dia do 84° aniversário de Glauber Rocha, foram escolhidos filmes que apresentam figuras expressivas da cultura do Sudoeste baiano. Além disso, foi realizada uma sessão acessível do filme “Alice dos Anjos”, de Daniel Leite Almeida, para pessoas surdas, ensurdecidas e cegas, com libras e audiodescrição. Na ocasião, também ocorreu o pré-lançamento da HandsPlay, primeira plataforma de streaming desenvolvida pela startup Mãos Tagarelas com obras audiovisuais totalmente acessíveis para pessoas surdas.

“A REC Conquista é um espaço de inspiração e celebração. E como se não bastasse isso, traz essa preocupação com novas direções, outros públicos”. É o que acredita Rogério Luz Oliveira, realizador audiovisual e professor do Curso de Cinema e do Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade, da UESB.

Ele destaca a importância da Semana de Projeção ter adotado esse tom inclusivo, principalmente a partir de discussões que trazem à tona pautas sociais voltadas às minorias. “Iniciativas como essa de fazer uma última projeção do Alice dos Anjos com audiodescrição fazem com que o cinema chegue a um público que dele precisa, que deve e tem direito a ter acesso a esse tipo de produção”, finalizou. 

Foto de capa: Ato 3 Produções

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