Solidariedade move projeto social criado no bairro Jardim Valéria

Por - 6 de junho de 2023

Existente há mais de três anos, o “Amor em Ação” já alcança, atualmente, dezenas de outros bairros e comunidades de Vitória da Conquista. O projeto utiliza o poder de engajamento das redes sociais para promover diversas campanhas de arrecadação de doações.

Solidariedade

A técnica de laboratório Juciara Soares, mais conhecida como Juci, no bairro Jardim Valéria, onde nasceu e vive até hoje, já passou fome, sede e perdeu metade dos seus 11 irmãos em meio às dificuldades que ela e sua família enfrentaram quando ainda era criança. Superar as adversidades decorrentes da extrema pobreza só foi possível graças à solidariedade de vizinhos, que os ajudavam com doações de alimentos, roupas e brinquedos.

A bondade alheia inspirou Juci a fazer o bem ao próximo desde a infância. “Eu cresci vendo as pessoas nos ajudarem. Então, tinha o desejo no meu coração de que, quando crescesse, Deus me desse a condição para eu ajudar outras pessoas também. Não sabia de que forma, quando, como, com que condição, mas eu tinha esse desejo”, conta.

Começou a concretizá-lo de forma anônima, acompanhando pessoas em hospitais e arrecadando alimentos para doação, até que, em maio de 2020, em pleno início da pandemia da covid-19, decidiu criar e divulgar seu próprio projeto social. Nascia então o “Amor em Ação”, que beneficia, atualmente, moradores da periferia e da zona rural de Vitória da Conquista.

A ideia é bastante simples, mas eficaz. Geralmente, as pessoas procuram Juci para relatar alguma necessidade que possuem. Outras vezes, a própria técnica de laboratório identifica diferentes demandas por doações e, a partir disso, começa a se mobilizar, principalmente no meio on-line, para atender o que chega até ela como verdadeiros pedidos de ajuda.

Um impulso de querer ajudar o próximo

O primeiro pedido que atendeu com o projeto partiu de uma seguidora do seu perfil no Instagram que estava grávida de gêmeos, mas “não tinha nada ainda para os bebês”. Com a ajuda de Juci, ela passou a ter. E é justamente por meio das redes sociais, como WhatsApp, Instagram e Facebook, que a técnica arrecada a maioria das doações para o projeto.

“Quando surgiu o primeiro caso, eu não tinha expectativa nenhuma de que fosse dar certo. No impulso de querer ajudar a gestante, publiquei em meu perfil uma foto com a seguinte frase: ‘estamos precisando de doações de roupas para uma gestante que está prestes a parir gêmeas’. Daí por meio desse post, as pessoas abraçaram a ideia e chegou muita doação. Depois disso, automaticamente, foram chegando tanto novas doações quanto novos pedidos de ajuda”, relata.

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Registros de itens adquiridos para doação através do projeto “Amor em Ação”. Reprodução / Instagram.

Segundo Juci, sua vivência em um bairro periférico de Conquista teve um papel fundamental no surgimento do “Amor em Ação”. “Sempre vi a necessidade do meu povo, as condições em que a gente vive, em lugares onde pouco recurso chega”, diz. Em mais de três anos de existência, já foram muitas as pessoas e comunidades alcançadas pelo projeto, que não se limita ao bairro Jardim Valéria. 

O trabalho social liderado por Juci já alcançou diversas outras localidades, como Morada Nova, Morada das Acácias, Santa Terezinha, Copacabana 1 e 2, Jardim Sudoeste, Campinhos, Simão, Kadija, Patagônia, além de povoados da zona rural do município. Fora do perímetro urbano de Vitória da Conquista, o “Amor em Ação” realiza o que a técnica de laboratório chama de “doação itinerante”, que acontece quando o projeto consegue reunir uma grande quantidade de doações de roupas, calçados ou alimentos, etc. 

Os itens são então levados para comunidades rurais, onde são distribuídos entre os moradores que deles necessitam. “Por isso fica até difícil delimitar o alcance do projeto. Afinal, a gente já chegou em lugares que nunca nem imaginamos chegar. Além disso, na minha residência, por exemplo, chegam pessoas de muito longe para buscar doações”, detalha Juci.

Ainda de acordo com ela, o “Amor em Ação” se diferencia de outros projetos sociais existentes na cidade devido à variedade dos itens que são arrecadados. Além de alimentos e vestimentas, Juci também recebe brinquedos, equipamentos de saúde, entre outros materiais para doação. Como se não bastasse isso, tudo acontece sem qualquer tipo de apoio do Poder Público ou de políticos locais. A essência do projeto é a solidariedade humana e o espírito de fraternidade existente entre a rede de pessoas construída a partir dele.

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Doação itinerante no povoado de Caiçara, na zona rural de Conquista. Reprodução / Instagram.

Entre desafios e sonhos

Atualmente, uma das principais dificuldades que enfrenta é a falta de transporte adequado para o projeto, o que dificulta a entrega de doações em regiões mais distantes. Juci conta que até recebeu um carro como doação, mas o veículo necessita de manutenção e, infelizmente, ela não tem os recursos financeiros necessários para realizar o reparo.

“Mas em meio a tantas dificuldades, nós conseguimos ir em busca das doações e entregá-las, mesmo não tendo recurso nenhum, sem auxílio, sem patrocínio. Nunca nenhum prefeito, vereador ou político qualquer veio até mim oferecer ajuda. A gente consegue ultrapassar a barreira do cansaço e vencer todos os obstáculos para ajudar o próximo”, afirma. Com isso, são beneficiadas pessoas de diferentes idades, vítimas das mais diferentes formas de vulnerabilidade social.

No momento em que vai distribuir as doações, Juci compartilha vídeos e fotos das entregas, mas sempre busca obter o consentimento das pessoas beneficiadas antes de divulgar os registros, pois, segundo ela, foi essa exposição que fez com que o projeto ganhasse mais repercussão. A partir de agora, ela espera que o “Amor em Ação” cresça ainda mais e se estabeleça de vez como um elo entre quem pode ajudar e quem precisa de ajuda.

Para se tornar um voluntário ou colaborador do projeto, basta acompanhar as suas redes sociais, divulgando e participando das campanhas de arrecadação. “Eu tenho sonhos grandes, planejo muitas coisas. Se Deus permitir, teremos um espaço amplo para receber ainda mais doações e para que a gente consiga alcançar cada vez mais pessoas, além de tornar esse trabalho mais conhecido na cidade e em toda a região. Não custa nada sonhar”, finaliza Juci. 

Foto de capa: Arquivo / Amor em Ação.

Supervisão e edição da matéria: Afonso Ribas.

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