Sem asfalto e iluminação, população do Conveima 2 sofre com o descaso do Poder Público

Por - 15 de fevereiro de 2022

Segundo moradora, o bairro, que é um dos mais antigos de Vitória da Conquista, é também um dos mais esquecidos, tanto pelas gestões petistas quanto pelo atual governo municipal.

A impressão que a estudante de Arquitetura, Elaine Lacerda, tem ao se deparar com a realidade do Conveima 2 é de que a receita arrecadada pela Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista com o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) “vai pra [Avenida] Olívia Flores e só”. Ela define o bairro, onde mora desde que nasceu, como “um dos mais antigos da cidade e igualmente um dos mais esquecidos”. E acrescenta: “parece que aqui nem mora gente”.

As razões que a fazem chegar nessa conclusão são várias. Elaine conta que, no Conveima 2, “todas as ruas estão sem asfalto, inclusive os corredores de ônibus”. O mato elevado toma conta de terrenos e das laterais de ruas e avenidas. Há buracos por toda parte. Falta luz em diversas vias. Esgotos jorram a céu aberto. E esse é apenas um resumo dos principais problemas que a população do bairro enfrenta há décadas: desde as gestões petistas aos recentes governos do ex-prefeito, Herzem Gusmão Pereira (MDB), e da atual chefe do Executivo municipal, Sheila Lemos (DEM).

Das promessas de campanha, só restaram descaso e indiferença. “Aqui somos expostos a vários perigos: de assaltos a bichos peçonhentos. Fora que, em dias de chuva, saímos de casa limpos, mas até chegar no trabalho já estamos sujos de lama”, conta a diarista Adriana Lacerda. Em abril de 2019, ela relatava exatamente as mesmas dificuldades em uma entrevista concedida à TV Uesb sobre a situação caótica do bairro. Quase três anos depois, continua sem soluções ou sequer respostas para suas reivindicações. 

Entre a lama e a poeira

O morador Vinicius Oliveira Queiroz, de 23 anos, afirma que pelo menos as vias por onde circulam ônibus do sistema municipal de transporte coletivo já deveriam ter sido asfaltadas há muito tempo pela Prefeitura. “Nos dias de calor, é muito complicado, principalmente para quem tem problemas respiratórios e até para pessoas saudáveis. Em dias de chuvas fortes, aí já não é mais a saúde que é o problema e sim a locomoção, o nosso direito de ir e vir”, relata.

Quando chove, para chegar até o ponto onde pega o ônibus que o leva ao seu local de trabalho, Vinicius precisa entrar em terrenos baldios, caminhar por calçadas “que não existem, que é só mato mesmo”, para evitar se sujar. “Até os veículos também têm que ter cuidado, porque pela quantidade de buracos que tem [nas ruas], se a pessoa não tiver cuidado, vai quebrar alguma coisa do carro”, complementa.  

Ainda segundo ele, “o máximo que a Prefeitura faz pelo bairro, desde sempre, pois não é novidade do atual governo ou do governo anterior, é contratar um trator. Aí ele ou passa pra poder colocar cascalho em cima [da via] ou só ‘raspa’ o chão pra poder tentar planificar e remover os buracos. Só que não é solução, né? Choveu de novo, voltam os buracos e continuamos com o mesmo problema”, ressalta. 

Para o analista de TI Germinio José dos Santos Neto, ao invés vez de ajudar, a medida agrava ainda mais a situação em períodos chuvosos, pois o barro fica solto e escorregadio. “Como temos apenas duas ruas para sair daqui, diversas vezes, já tive que dar a volta por outro bairro, o Jardim Valéria, para poder sair para trabalhar”, diz. Ainda segundo ele, “qualquer chuvinha deixa as ruas intransitáveis”. Vinicius, por sua vez, afirma que, ao invés de solucionar o problema, a Prefeitura “empurra ele pra frente até passar para o próximo mandato, como sempre”.

“Aqui de noite é um deserto”

As chuvas que provocam o surgimento de lama e buracos no Conveima 2 também fazem crescer o mato presente em terrenos baldios e em laterais de ruas e avenidas. De acordo com Elaine Lacerda, “todas as quadras que não têm residência estão com mato alto, inclusive a avenida principal [do bairro]”, relata. 

Somado à falta de iluminação pública, isso se torna um risco à segurança da população, aponta o analista de TI, Germinio Neto. “Fica bastante perigoso em várias partes do bairro. A maioria dos terrenos está com o mato na altura de uma pessoa”. A Rua Vinte, também chamada de Avenida Pastor João Augusto Silveira, onde ele mora há cerca de um ano e meio, está sem luz desde que se mudou. 

“Tem uns três postes com o local para luz, mas não funciona a iluminação. Nunca vi funcionando. E o pessoal que mora há mais tempo diz que isso é um problema antigo”, conta Germinio. Aldeniza L. dos Santos é uma dessas moradoras. Há 30 anos, vive no Conveima 2. Ela diz que a Rua Vinte é parada e, à noite, se torna “um deserto”. 

A partir das 17h30, ela não abre nem o portão de sua casa, pois não se sente segura diante dessa situação. “Tem os postes, só não tem as lâmpadas. Elas queimaram e nunca mais vieram trocar”. O morador Vinicius Queiroz revela que alguns pontos do bairro são bem iluminados enquanto outros não. “A minha rua, por enquanto, é bem iluminada, mas a rua vizinha já não é. Depende da quantidade de casas que tem na rua. Quanto mais casas, mais iluminação”, diz.

Vídeo gravado à noite pelo morador Germinio Neto mostra a escuridão provocada pela falta de iluminação pública na Rua Vinte, também chamada de Avenida Pastor João Augusto Silveira, no bairro Conveima 2.

Vazamento de esgoto

Outro problema relatado pela moradora Elaine Lacerda à nossa reportagem é o vazamento de água de esgoto na via principal que dá acesso ao bairro. Segundo a estudante de Arquitetura, toda vez que chove na localidade, um dos bueiros se rompe e joga água para todo lado. “Esses dias alguns moradores até tamparam com cimento, mas com uma chuva forte que teve semana passada, [o cimento] foi retirado”.

Imagem do bueiro enviada por Elaine. O vazamento da água de esgoto costuma acontecer em períodos chuvosos. Nos dias secos, o local se torna uma grande e rasa erosão na via principal de acesso ao Conveima 2.

Ainda de acordo com Elaine, “o esgoto é vindo dos encanamentos mal feitos da Embasa”. Ela conta que vê outros moradores enviando fotos e vídeos sobre esse e outros problemas do bairro para a imprensa, mas apesar das cobranças e reclamações feitas ao Poder Público municipal, nada foi solucionado de forma definitiva até o momento.

O Conquista Repórter solicitou posicionamento da Embasa sobre a situação e, por e-mail, a assessoria de comunicação do órgão nos envio a seguinte nota:

A Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) informa que uma equipe foi enviada ao endereço informado na manhã desta quarta (16) e constatou que a rede coletora de esgoto está funcionando normalmente.

Quanto à ocorrência de extravasamentos de esgoto em períodos chuvosos, a Embasa informa que o lançamento indevido de água de chuva na rede de esgoto impede que o esgoto siga o fluxo normal de escoamento pela tubulação, causa obstrução da rede coletora e prejudica o tratamento do esgoto coletado. É importante lembrar que o sistema de esgotamento sanitário é construído para coletar apenas esgoto doméstico e transportá-lo até a estação de tratamento.

O bom funcionamento da rede coletora depende de seu uso correto e para garantir o bom funcionamento é importante observar algumas regras como não jogar lixo no vaso sanitário ou nas caixas de inspeção da rede pública de esgoto (resto de comida, papel, absorventes, preservativos, cabelo, plástico, etc); limpar periodicamente a caixa de gordura da rede interna de esgoto do imóvel; não fazer ligação na rede de esgoto para escoar água de chuva; não descartar óleo de cozinha nem borra de café na pia, pois esses materiais entopem a rede e poluem o meio ambiente.

A Embasa ressalta ainda que a população pode acionar os serviços pela Agência Virtual (Aplicativo e Site), pelo Teleatendimento Gratuito 0800 0555 195, além da ferramenta Whatsapp pelos números de (71) 99613-2858 e (71) 99717-0999.

Também pedimos posicionamento da Prefeitura acerca das demais reclamações dos moradores do Conveima 2, mas ainda aguardamos resposta para incluir na matéria. 

Reportagem atualizada em: 16/02/2022, às 14h55.

Foto de capa: Elaine Lacerda.

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