Nelson de Vivi: ex-militante da esquerda, vereador se considera hoje um defensor do conservadorismo
Por Talisson Santos - 3 de julho de 2023
“O melhor presidente de toda a minha vida foi Jair Bolsonaro”, afirma o edil, que já integrou o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
Nascido em 2 de dezembro de 1969, o vereador e economista Nelson Vieira Santos, publicamente conhecido como Nelson de Vivi, se considera um “conquistense da gema”. Aos 54 anos, o parlamentar ainda reside na mesma casa onde passou toda a infância, adolescência e juventude, na Rua Bolívia, bairro Jurema, em Vitória da Conquista.
Filho de Vitória Vieira dos Santos, que trabalhava como lavadeira, e do agricultor e ex-vereador Virgílio Figueira Mendes, Nelson possui mais de quarenta irmãos. Seis são do casamento de Dona Vitória com Seu Vivi. Os demais são frutos de outros relacionamentos que seu pai teve.
No Jurema, Nelson de Vivi começou a trabalhar muito cedo. Com 12 anos, catava ferro velho, vendia picolé e até mesmo jornal. Aos 15, teve sua carteira assinada como funcionário do Posto Sinai, na Avenida Régis Pacheco.
Foi também no início da sua juventude que ele estreitou ainda mais a relação com o seu pai, que, na época, já estava inserido na política local, exercendo seu segundo mandato como vereador. E, a partir dessa aproximação, Nelson passou a se interessar cada vez mais pelo assunto.
Dentre os filhos, foi o que mais acompanhou Vivi Mendes de perto durante os sete mandatos que o agricultor exerceu no Legislativo conquistense, entre os anos de 1983 e 2012, quando então se aposentou, aos 83 anos. Tal proximidade foi fundamental para que Nelson herdasse o capital político do pai, que era um dos vereadores mais votados do município.
Não à toa, adotou o nome “Nelson de Vivi” ao se candidatar ao cargo pela primeira vez, ainda em 2012, quando foi eleito com mais de 2,3 mil votos pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Segundo ele, a decisão de ingressar na política surgiu da vontade de “dar continuidade ao trabalho realizado pelo pai” na Câmara Municipal, algo que o economista não julga ser fácil.
Ainda de acordo com Nelson, além dos aprendizados obtidos com Seu Vivi, suas vivências na universidade e a formação obtida nas áreas de economia e gestão pública também lhe possibilitaram uma bagagem de conhecimentos para que conquistasse a confiança do eleitorado.
Ele se graduou na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), onde estudou de 2003 a 2007. Foi lá que Nelson participou pela primeira vez de um processo eleitoral. A disputa em questão era para a coordenação do Centro Acadêmico (C.A.) do curso de Economia. E sua chapa saiu vitoriosa.
“Quando eu entrei na Uesb, o curso de Economia era um curso novo, e cabia ao Centro Acadêmico lutar para que ele fosse reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC). Então, deixei o meu legado como coordenador do C.A. porque conseguimos que o curso tivesse esse reconhecimento”, lembra. Nesse mesmo período, Nelson conta que também atuou na luta pela duplicação da Avenida Olívia Flores, que dá acesso à universidade.
Carreira política: da esquerda à extrema-direita
Quem acompanha a atuação de Nelson de Vivi no Legislativo conquistense há pouco tempo pode não saber ou sequer imaginar que, no início da sua carreira política, ele foi filiado a partidos de esquerda. Primeiro, integrou o Partido dos Trabalhadores (PT), a partir de 2011. Mas permaneceu na legenda por pouco tempo. Ainda em 2012, migrou para o PCdoB, pelo qual foi eleito.
Em 2016, concorreu à reeleição pela mesma sigla, mas a quantidade de votos que recebeu não foi suficiente para lhe garantir um segundo mandato consecutivo no Legislativo municipal. Então, rompeu com o partido e, em 2020, voltou a pleitear o cargo de vereador, só que desta vez pelo Democratas (DEM), sendo eleito com 1962 votos.
Atualmente, integra a mesma legenda da prefeita Sheila Lemos, o União Brasil, que é fruto da fusão entre o DEM e o PSL (Partido Social Liberal). Além disso, tornou-se um crítico não só do PT, do qual um dia fez parte, mas do campo da esquerda como um todo. Agora, se posiciona abertamente como um defensor do conservadorismo, do livre mercado e abomina o socialismo e o comunismo enquanto ideologias políticas.
A migração para o campo da direita, segundo ele, se deve a uma “mudança de mentalidade” advinda com o passar do tempo. A partir de 2018, abraçou até mesmo o caráter extremista do viés político que então começava a se consolidar como o que hoje chamamos de “bolsonarismo”. “O melhor presidente de toda a minha vida foi Jair Bolsonaro”, afirma ao se referir ao ex-presidente da República do Brasil.
Nelson foi um dos vereadores conquistenses que mais defendeu o governo Bolsonaro entre os anos de 2018 e 2022, apoiando a sua reeleição, tal qual a prefeita. O edil acredita que, nas campanhas eleitorais desses respectivos anos, o ex-presidente foi “instigado a dar respostas em um tom elevado pois era futucado pelos jornalistas que não suportavam o fato de ele ser uma pessoa real, sem marketing”. Seguindo a cartilha bolsonarista, durante a entrevista, usou ainda informações falsas para criticar o processo eleitoral de 2022.
O alinhamento com a gestão Sheila Lemos
O alinhamento de Nelson de Vivi com a prefeita Sheila Lemos se reflete também no apoio expresso a projetos de lei do Executivo municipal, a exemplo do PL nº 09/2023, que, após ser aprovado pela Câmara, autorizou que a Prefeitura contratasse uma nova linha de crédito, no valor de até R$ 160 milhões, junto ao Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento (Finisa), da Caixa Econômica Federal.
Para Nelson, a aprovação do empréstimo era esperada por moradores de bairros periféricos que cobravam há anos pelo asfaltamento das localidades onde residem. Ele afirma ainda que votaria a favor do projeto mesmo se não pertencesse à bancada de situação, como fizeram os seus colegas vereadores Andreson Ribeiro, Ricardo Babão e Luciano Gomes, filiados ao PCdoB e membros da oposição.
Os planos de Nelson para o futuro incluem a participação na disputa eleitoral de 2024, quando pretende concorrer novamente ao cargo de vereador. Em um eventual novo mandato, quer trabalhar, sobretudo, para resolver problemas que moradores da zona rural enfrentam, como a falta d’água, além do desemprego, que atinge também quem vive na zona urbana.
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Supervisão e edição: Afonso Ribas
Foto de Capa: Ascom / CMVC.
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