Norma Dias: a líder quilombola que tem como missão ajudar o Povoado de Laranjeiras

Por - 3 de julho de 2023

Na comunidade, suas principais funções são distribuir doações e organizar documentos. Uma das dificuldades enfrentadas pelos moradores é a falta de infraestrutura da estrada que dá acesso ao povoado.

Moradora do Povoado de Laranjeiras, localizado no distrito de Pradoso, em Vitória da Conquista, Norma Aparecida Santos Dias, 41, atua como vice-presidente quilombola de sua comunidade. Entre desafios e conquistas ao longo de sua trajetória, ela carrega no coração muito amor por sua família e seu povoado, onde busca praticar a solidariedade através do trabalho voluntário.

A líder quilombola é mãe de Bianca Dias Leite, uma jovem de 17 anos, que estuda o 3º ano do Ensino Médio, e de Luciana Dias Leite, uma menina de 9 anos que está no 3º ano do Ensino Fundamental. Além de cuidar da casa e das filhas, ela cultiva uma horta, onde planta diversos alimentos como andu, cenoura e pimentão para o consumo próprio da sua família. 

O cuidado com a terra é um costume que foi passado de geração a geração. Os pais de Norma trabalhavam na roça, onde também plantavam andu. Outra atividade que desempenhou foi a coleta de recicláveis. Foram 10 anos recolhendo latinhas para sustentar suas filhas e sobreviver.

Com um olhar atento para os desafios enfrentados pela população da zona rural de Vitória da Conquista, especialmente no que diz respeito ao acesso aos serviços de saúde, ela sabia que era preciso fazer a diferença, e foi assim que sua jornada como vice-presidente quilombola começou.

A jornada

No Povoado de Laranjeiras, as principais funções de Norma são distribuir doações e organizar documentos, seja para aqueles que desejam trabalhar na área da saúde ou para os que precisam realizar exames médicos. “Muitas pessoas aqui querem trabalhar na saúde, como enfermeiras, por exemplo, porque o sonho delas é ajudar o próximo”, explica. 

Entretanto, reunir papéis e documentações para os moradores da comunidade não era o sonho de Norma. Como membro da comunidade quilombola, ela queria estar à frente da Racial Feminina, um setor responsável por dar voz às mulheres negras do povoado, principalmente para as que sofrem agressões, com a missão de fazer com que elas se sintam acolhidas e livres de humilhações.

“O meu desejo era ser a comandante da racial para ajudar mulheres humildes, negras, pessoas quilombolas, a se sentirem dignas”, conta. Mas ao invés disso, foi designada pela presidente quilombola, Sulima, a estar à frente de duas atividades importantes.

A primeira é ajudar mulheres que querem se inscrever em cursos, já a segunda é auxiliar no setor de doações, seja de roupas ou cestas básicas. “As pessoas trazem [as doações] pra mim, e eu repasso para quem realmente precisa. Nós do grupo quilombola, de vez em quando, conseguimos as cestas básicas. Normalmente quem doa essas cestas são os grupos quilombolas e também a defesa civil”, diz.

Os moradores do povoado depositam sua confiança em Norma. Ela se tornou uma distribuidora de esperança. Aqueles que a conhecem a procuram para pedir ajuda, mas nem sempre a solução está ao seu alcance. “Uma pessoa aqui da comunidade precisa de uma cirurgia urgente, corre risco de vida, mas é muita cara, custa R$ 19.500. Ficamos aguardando doações, que dependem da vontade dos que podem ajudar”, explica.

Segundo Norma, a solidariedade é presença forte no Povoado de Laranjeiras. Sempre que possível, os moradores unem esforços para ajudar quem precisa. “Quando são casos de cirurgias mais baratas, a comunidade se ajuda, pede o pix e se junta mesmo”, destaca a líder quilombola. 

Desafios do povoado 

Um dos maiores sonhos das pessoas que vivem em Laranjeiras é que o Poder Público melhore a infraestrutura da estrada que liga o povoado a zona urbana de Vitória da Conquista. De acordo com Norma, quando a chuva cai, o caminho fica intransitável.

Os ônibus que passam no local transportam crianças, homens e mulheres que estudam e trabalham na cidade. Todos sofrem quando acontecem os temporais, ficam isolados e sem saída. 

Alguns acordam antes mesmo do sol nascer, às 4h30, para pegar o ônibus das 5h e percorrer os 3 km que os separam de Conquista. Mas quando chove, não tem jeito, todos são prejudicados. Para quem precisa estar no trabalho às 7h, nem sempre há compressão dos empregadores.

Norma conta que são três riachos que cruzam o caminho, e quando as águas se agitam, as dificuldades se multiplicam. Apenas na época da seca é que encontram um pouco de alívio, mas mesmo assim, não se pode dizer que a jornada é fácil: “A gente quer uma estrada decente pra gente”, afirma.

Não é apenas o acesso à estrada que fica mais difícil quando a água entra em cena. Para sobreviver, muitos moradores do Povoado de Laranjeiras dependem da plantação de andu, porém, quando a chuva é forte, o cultivo também é prejudicado, segundo Norma, porque as sementes são muito pequenas. 

Apesar da falta de atenção do Poder Público, o povoado mantém viva a esperança de dias melhores. Em meio às dificuldades, dentro da comunidade, um tenta ajudar o outro, da maneira que for possível. “Trabalhamos por amor, para ajudar as pessoas”, afirma a líder quilombola, Norma Aparecida. 

Supervisão e edição da matéria: Victória Lôbo.

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