Editorial | Governo estadual ignorou apelo da comunidade ao demolir prédio do antigo Cienb

Por - 30 de junho de 2025

O espaço foi demolido para dar lugar a um novo Complexo Educacional. Estudantes e professores organizaram um abaixo-assinado contra a destruição do prédio, mas não conseguiram diálogo com a Secretaria de Educação.

Ghirello Imagens Aéreas

Por que é tão difícil para alguns governos dialogar com a sociedade civil e os movimentos sociais? Uma gestão pública efetivamente democrática deve, no mínimo, praticar a escuta e o diálogo com os cidadãos antes de ditar os rumos de um estado, município ou até mesmo de importantes espaços como escolas e universidades, por exemplo. Mas esse é um princípio que a Secretaria de Educação da Bahia (SEC) parece ter esquecido de exercitar ao demolir a estrutura do antigo Centro Integrado de Educação Navarro de Brito (Cienb), na Avenida Frei Benjamin, às vésperas do São João.

O local dará lugar ao novo Complexo Educacional de Vitória da Conquista. Segundo o Núcleo Territorial de Educação (NTE 20), a unidade vai contar com 36 salas de aula, laboratórios, sala de dança, teatro e restaurante estudantil, formando um amplo centro de ensino da rede estadual. Entretanto, a decisão de destruir as instalações do prédio histórico, no qual milhares de conquistenses já estudaram, foi tomada de forma unilateral, ignorando um apelo feito por estudantes e professores do Cieb por meio de publicações nas redes sociais, tentativas de diálogo com a SEC e até mesmo de um abaixo-assinado.

“Esta escola onde estudamos é o mesmo lugar onde estudaram nossos pais, e muitos outros antes deles. O Governo planeja demolir essa valiosa instituição histórica, ignorando seu significado cultural e pessoal para muitos de nós. A escola Cieb não é apenas um lugar de educação, mas um marco valioso em nossa cidade, que deveria ser preservado para as futuras gerações. Portanto, instamos o Governo da Bahia a reconsiderar essa decisão”, dizia o documento. O número de assinaturas obtido foi pequeno perto da grande comoção gerada nas redes sociais depois que a estrutura começou, de fato, a ser demolida, em 17 de junho.

O silêncio em torno do assunto, claro, foi proposital. Um leitor do Conquista Repórter havia entrado em contato conosco cerca de uma semana antes, a fim de expor a situação. Imediatamente procuramos representantes do movimento para entender o caso e seus possíveis desdobramentos. Mas como não conseguimos confirmar se o prédio seria realmente demolido, enviamos um e-mail à SEC e ao NTE em busca de esclarecimento. Afinal, nenhuma comunicação oficial sobre a medida tinha sido amplamente publicizada ou encaminhada à comunidade escolar, segundo fontes que ouvimos.

A pergunta endereçada no e-mail era clara. Queríamos saber se havia ou não a intenção de demolir a escola. Contudo, a resposta foi totalmente evasiva, enfatizando apenas que a unidade receberia “investimento de mais de R$53 milhões em modernização das estruturas”. Então, respondemos novamente o e-mail, fazendo a mesma pergunta de forma ainda mais direta. Até hoje, a mensagem continua sem ser respondida. Dias depois, só recebemos a notícia da demolição quando ela já estava em andamento, através de publicação feita no Instagram pelo Blog do Anderson.

Tal postura do governo petista nos lembra muito a forma como a Prefeitura de Conquista costuma (não) responder às nossas solicitações de posicionamento para reportagens. É lastimável e vergonhoso. “Não tivemos satisfação”. “Gostaríamos de sugerir, opinar…”, nos disse uma pessoa com quem conversamos durante a apuração. E talvez o problema mais grave não seja realmente a demolição, até porque, à primeira vista, a modernização e melhoria da estrutura de uma instituição pública de ensino pode ser bastante benéfica para a comunidade. Mas tomar decisões unilaterais e antidemocráticas não é prática de um governo de esquerda que se preze.


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