Editorial | Cinco anos do decreto de covid-19 em Vitória da Conquista
Por Da Redação - 17 de março de 2025
A cidade se reergueu, mas o saldo de vidas perdidas, as desigualdades aprofundadas e os traumas sociais deixaram lições que não podem ser ignoradas.

Cinco anos após o decreto municipal que marcou o início da pandemia de covid-19 em Vitória da Conquista, o momento exige uma reflexão sobre as decisões tomadas, os conflitos que surgiram e as cicatrizes deixadas. A crise sanitária, que já era desafiadora por si só, foi atravessada por uma gestão marcada por polêmicas, enfrentamentos políticos e decisões que dividiram a opinião pública.
Entre as medidas mais controversas esteve a reabertura das escolas em um momento em que a vacinação ainda não havia alcançado ampla cobertura. Em 2021, a Prefeitura insistiu no retorno das aulas presenciais na rede municipal, mesmo diante da resistência de professores e especialistas em saúde pública. A decisão gerou protestos e disputas judiciais, expondo as dificuldades de equilibrar educação e segurança sanitária em um contexto de incerteza.
Outra polêmica que marcou a pandemia foi o corte de salários de trabalhadores contratados, uma medida adotada sob o argumento de contenção de despesas. Muitos servidores terceirizados, especialmente na educação, viram seus vencimentos reduzidos em um período de extrema vulnerabilidade. A decisão foi duramente criticada por sindicatos e movimentos sociais, que apontaram a falta de diálogo e o impacto direto na vida de centenas de famílias.
A pandemia também alterou o cenário político da cidade. O então prefeito Herzem Gusmão (MDB), que chegou a minimizar a gravidade da covid-19 em algumas ocasiões, foi reeleito em 2020, mas sequer pôde assumir o novo mandato presencialmente. Diagnosticado com a doença em dezembro daquele ano, ele enfrentou complicações graves e foi transferido para o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Após meses de internação, Herzem faleceu em março de 2021, tornando-se um dos exemplos mais marcantes do impacto da pandemia no município. Sua morte gerou comoção, mas também expôs as contradições da gestão da crise sanitária.
Cinco anos depois, além da Operação Dropout, que investiga possíveis desvios financeiros ocorridos no período, outras marcas desse período ainda estão presentes. A cidade se reergueu, mas o saldo de vidas perdidas, as desigualdades aprofundadas e os traumas sociais deixaram lições que não podem ser ignoradas. A pandemia evidenciou a necessidade de um sistema público de saúde fortalecido, de políticas trabalhistas mais justas e de uma gestão que priorize a vida acima das disputas ideológicas.
Hoje, a grande questão que fica é: Vitória da Conquista aprendeu com os erros do passado? A melhor forma de honrar a memória dos que se foram é garantir que decisões futuras sejam guiadas pelo compromisso com a ciência, a transparência e o bem-estar coletivo. Afinal, a história não pode se repetir como tragédia evitável.
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