Edgard Larry: “A sociedade precisa estar ciente e consciente da necessidade do retorno às aulas presenciais, mas nas condições plausíveis”

Por - 15 de maio de 2021

Para o Secretário de Educação de Conquista, o debate sobre a retomada do ensino presencial não deve se restringir apenas à análise das estruturas físicas das escolas

O advogado e professor Edgard Larry Andrade Soares foi nomeado Secretário Municipal de Educação em Vitória da Conquista, no dia 13 de abril de 2021. Na gestão da prefeita Sheila Lemos (DEM), ele substituiu o Coronel Esmeraldino Correia, responsável pela pasta entre 2018 e maio deste ano. Larry é doutor em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidad Del Museo Social Argentino (UMSA), mestre em Gestão de Organizações Aprendentes pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e tem diversas especializações.

Foi diretor geral da Faculdade Independente do Nordeste (Fainor) por 14 anos, é professor adjunto no curso de direito da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) e membro da Academia Conquistense de Letras. Em entrevista concedida ao Conquista Repórter, o secretário falou sobre o retorno às aulas presenciais, a reposição salarial dos professores e as perspectivas para a sua gestão. Confira:

CR: Embora os índices, como o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), apontem uma melhoria na educação conquistense, quando pesquisamos acerca do cenário dessa área em Conquista, encontramos grandes problemáticas nos anos de 2018, 2019 e 2020. Denúncias apontam problemas no oferecimento de transporte escolar, merenda e até materiais de higiene. Você acompanhou a educação nos últimos anos? Como encontrou a pasta? 

Edgard Larry: Eu tenho acompanhado há muitos anos a educação conquistense pelo fato de ter sido membro do Conselho Municipal de Educação, inclusive fui presidente duas vezes. Em relação aos índices do IDEB, eles realmente foram alcançados em decorrência do esforço de todos os que estão trabalhando na rede municipal de ensino. É um trabalho conjunto para que Vitória da Conquista, cada vez mais, alcance esse patamar que, para o Brasil, é de suma importância. No que se refere às questões relativas aos problemas citados, como chegamos recentemente a essa pasta, estamos tendo conhecimento das mais variadas situações. Nós já estamos nos planejando para desenvolvermos ações que venham efetivamente contemplar as necessidades do setor educacional do município.

CR: Um dos questionamentos dos professores tem sido as perdas salariais dos últimos anos. A tabela salarial foi quebrada, zerando os interstícios de classe e de nível, que se referem à progressão de carreira. Como a sua gestão pretende lidar com isso? 

Edgard Larry: Essa gestão já está lidando com isso porque, desde o dia em que chegamos, nós pedimos uma avaliação do quadro atual, do que existe em relação a essas questões contratuais e salariais. Evidentemente, isso passa primordialmente por um estudo para que nós possamos definir caminhos e realizar ações da forma mais cuidadosa e prudente possível.

CR: Então existe a possibilidade de haver reposição salarial?

Edgard Larry: Como eu disse, nós estamos num momento de avaliação do que nós recebemos na secretaria em relação a diversos aspectos da educação. E um deles diz respeito, evidentemente, às questões salariais. Então, estamos conhecendo e analisando as situações para definir os rumos a serem tomados. 

CR: Em 2020, a verba do Plano Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) foi utilizada para diminuir o impacto da pandemia nas famílias dos alunos da rede municipal. A secretaria ainda continua distribuindo? O senhor considera importante a manutenção dos kits?

Edgard Larry: O kit de alimentação é um item importante que compõe o processo educacional. Então, nós estamos cientes da distribuição dos kits de alimentação, das entregas já feitas e, agora, já estamos convocando os setores específicos para uma avaliação conjuntural do que foi feito até então e de como proceder daqui pra frente. 

CR: Nós sabemos que as aulas remotas não são totalmente eficazes. Segundo o antigo secretário de Educação, Esmeraldino Correia, elas atingiram apenas 70% de todos os alunos da rede municipal em 2020. Quais são as medidas que a secretaria está tomando para diminuir essa disparidade? 

Edgard Larry: O ensino remoto é uma realidade e, podemos até arriscar dizer, uma realidade sem volta. Nós sabemos da necessidade do retorno ao ensino presencial na rede municipal. E, em relação a isso, nós temos uma preocupação grandiosa em construir os caminhos plausíveis para que esse ensino presencial venha a ser concretizado oportunamente. É claro que o ensino remoto depende, dentre outras coisas, de equipamentos e ferramentas. E não temos dúvida que a Secretaria de Educação tem se preocupado com isso. Nós pretendemos intensificar essa atenção às ferramentas de ensino remoto para que a gente possa possibilitar as menores perdas possível. Buscamos otimizar essa relação tecnológica com os nossos alunos, com a rede como um todo. Esse é um trabalho que não pode passar despercebido. 

CR: Então realmente existe uma perspectiva de volta às aulas presenciais?

Edgard Larry: Existe uma perspectiva e ela não é desconhecida nem da minha pessoa, nem da sociedade. Essa perspectiva está no mundo, no Brasil, na Bahia. A mídia, todos os dias, está colocando isso de forma cristalizada. Agora, para tanto, nós precisamos, responsavelmente, cuidar de todos os aspectos para que possamos realizar um retorno. Precisamos de um planejamento adequado com a observância precípua dos órgãos da saúde participando e orientando. Posso acrescentar, inclusive, que não depende apenas da vontade, mas de todo um conjunto de necessidades que precisamos aprender e sobre as quais estamos atentos. 

CR: Também segundo o ex-secretário, Esmeraldino Correia, já existem licitações, pias instaladas, janelas abertas nas escolas. Porém, o que está sendo noticiado na mídia ultimamente, é que há apenas duas escolas aptas para a volta às aulas. Como a secretaria avalia essa situação? 

Edgard Larry: Nós não podemos falar em planejamento de volta às aulas de forma isolada. É preciso trabalhar isso de forma conjuntural, entre aspas. Precisamos, dentre outras coisas, avaliar todas as situações específicas que não ficam restringidas meramente à estrutura física de escolas. Esta é apenas uma etapa que já estamos avaliando. Nós tivemos, durante os últimos dias, um diálogo aberto com os diretores da rede e com os coordenadores de creches. Então, estamos avançando nesse diálogo. Queremos envolver todos aqueles que fazem parte deste conjunto de pessoas que trabalham na educação do município e de outros entes que deverão também participar, dialogar, discutir, porque a responsabilidade é da sociedade como um todo. Já tivemos reunião com a Secretaria de Saúde, com a Vigilância Sanitária e estamos avançando em relação aos nossos colaboradores. Há vários elementos que influenciam no retorno às aulas. Não podemos nos ater apenas a uma pia, colocação de uma janela, que é muito importante, principalmente por conta da pandemia. Não podemos esquecer que há outros elementos, que são, inclusive, inerentes ao próprio processo pedagógico, ao cuidado com as crianças. E isso passa por várias avaliações, por norteamentos, inclusive por revisão de metodologias. Somente assim, nós conseguiremos buscar o caminho do errar menos possível. Fato verdadeiro é que não podemos cruzar os braços. Fato verdadeiro é que a sociedade precisa estar ciente e consciente da necessidade do retorno às aulas presenciais, mas nas condições plausíveis, porque isso depende de uma série de questões.

CR: Os profissionais da educação, que tiveram que se adaptar a esse período, também tiveram seus incentivos cortados. A gente falou um pouco sobre salário, só que não tocou na questão dos incentivos de zona rural, educação especial, etc. Esses incentivos continuarão cortados? O que o senhor pensa sobre isso? 

Edgard Larry: É claro que uma relação contratual passa por direitos e obrigações, mas deveres constituídos também. Há aspectos que interferem nesta relação. Precisamos avaliar esse norteamento jurídico imposto. É preciso analisar o que foi vigente ou que está vigente, o que foi cumprido ou descumprido, se é justificado ou não, para que possamos tomar as decisões. É claro que a vontade maior é proporcionar os melhores meios de valorização do profissional da educação, mas valorizar esse profissional consiste não somente naquilo que a gente pode interpretar, é preciso verificar o que está previsto nas normas jurídicas. Temos que avaliar as situações com o propósito de contribuir para a formação educacional, a partir de profissionais que estejam efetivamente trabalhando dentro de normas contratuais e que sejam asseguradas as garantias dessas condições. 

CR: O que a gente pode esperar da educação municipal a partir de agora, com a sua gestão ao lado da secretária adjunta, a professora Selma Oliveira? 

Edgard Larry: Eu estou tendo o privilégio de trabalhar com a professora Selma Oliveira, uma profissional de referência em nosso município com uma grande trajetória na educação. Nós estamos determinados a construir os melhores caminhos para fortalecer o que já se conquistou até então e promover os avanços que julgamos importantes para o sistema municipal de ensino de Vitória da Conquista. Para tanto, uma das questões que a gente coloca como prioridade é o diálogo permanente com a comunidade e com a sociedade, começando pelo próprio setor educacional, estendido à sociedade como um todo, aos outros entes do município, a todas as esferas institucionais. Só assim nós conseguiremos construir a educação que tanto sonhamos e desejamos. 

Gosta do nosso trabalho? Então considere apoiar o Conquista Repórter. Doe qualquer valor pela chave PIX 77999214805 ou assine a nossa campanha de financiamento coletivo no Catarse. Assim, você nos ajuda a fortalecer o jornalismo independente que Vitória da Conquista precisa e merece!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  • some
  • Somos uma organização de mídia independente que produz jornalismo local em defesa dos direitos humanos e da democracia no sertão baiano.
  • Apoie

© 2021-2024 | Conquista Repórter. Todos os direitos reservados.