Vídeo | Catadora de recicláveis relata dificuldade para realizar laqueadura pelo SUS

Por - 8 de novembro de 2023

Cerca de dois anos após visitar Adriana e sua família, nossa reportagem retornou à sua casa, no bairro Cruzeiro, periferia de Conquista. Desta vez, sua história nos leva a refletir sobre um tema ainda pouco falado: maternidade compulsória.

Maternidade compulsória. Esse termo, que é mais conhecido entre mulheres brancas de classe média e alta, me veio à cabeça quando revisitei a catadora de materiais recicláveis Adriana, pouco mais de dois anos após o nosso primeiro encontro. A primeira matéria da série “Histórias à Margem” feita com essa família tem algumas diferenças com relação a esta: a primeira, claro, é o formato, que antes foi somente em texto; a segunda é o contexto, visto que da primeira vez que fui em sua casa, no bairro Cruzeiro, a maior dificuldade era a falta de recicláveis nas ruas em decorrência da pandemia da covid-19.

Desta vez, me deparei com uma mulher carregando uma filha no ventre e um olhar distante, triste e amedrontado. Adriana precisou deixar seu ofício de catadora de recicláveis devido aos riscos para aquela nova vida que estava gerando. Porém, repetiu várias vezes que é o papelão, as latinhas e os ferros que recolhia junto com o marido e o filho mais velho, de 18 anos, que garante o sustento da família e, claro, a tão sonhada finalização da casa em que moram.

Não foi a primeira vez que ela tentou um método contraceptivo definitivo, mas se deparou com as burocracias do Sistema Único de Saúde e o contínuo abandono das periferias pela gestão pública. Para realizar uma laqueadura, Adriana conta que precisa fazer novamente um curso no Hospital Esaú Matos e entrar com um outro pedido, pois já fez outras tentativas. Não basta a sua vontade. O procedimento também não pode acontecer durante o parto, já que este deve acontecer pela via natural.

Adriana vê um futuro melhor para os filhos através da educação que não teve acesso. E isso se reflete na sua maternidade. Pesquisa realizada pela Nós Inteligência e Inovação Social indica que quanto mais filhos uma mulher tem, menor a sua escolaridade. 40% das mulheres que têm três ou mais crianças, cursaram até o ensino fundamental. Estas também ficam para trás quando o assunto é método contraceptivo, apenas 45% têm acesso.

Apesar de não ser apenas um número, Adriana está representada por eles. Depende do SUS para acompanhamento médico e é por ele também que é marginalizada quando o assunto é maternidade. A maternidade compulsória não é culpa dela e muito menos de sua família, é de uma sociedade que só vê a mulher no papel reprodutivo, mas quando isso acontece com pessoas pobres, as estigmatizam, fechando os olhos para a situação de abandono das periferias.

Confira abaixo uma videorreportagem da série Histórias à Margem, produzida com o apoio do ICFJ (International Center For Journalists), Meta e Ajor (Associação de Jornalismo Digital), através do programa Acelerando Negócios Digitais.

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