‘Vagalumes’ é novo núcleo de atenção à comunidade LGBTQIAP+ em Vitória da Conquista
Por Karina Costa - 30 de setembro de 2021
Grupo está se estabelecendo e pretende avançar com as pautas LGBTQIAP+; Uma das ações do projeto é o mapeamento das necessidades da comunidade no município
O Núcleo Vagalumes surgiu com o objetivo de dar visibilidade às demandas e anseios da população LGBTQIAP+ de Vitória da Conquista. É resultado de um projeto de Wilson Granja, associado fundador e diretor financeiro da associação. Para finalizar um curso de formação política, no Instituto Pensamentos e Ações para Defesa da Democracia (IPAD), ele tinha que cumprir a tarefa de criar um núcleo dentro de sua cidade, bairro ou comunidade.
“Eu propus a criação de um núcleo LGBTQIAP+ aqui em Conquista e a ideia foi aceita. Como estou voltando a morar na cidade agora, depois de viver em São Paulo nos últimos anos, o primeiro passo foi buscar pessoas para fazer parte do grupo através de indicações”, explicou Granja. Há quatro meses, o ator e professor iniciou uma série de reuniões virtuais para fomentar a criação da iniciativa. Atualmente, cerca de 20 pessoas fazem parte do núcleo, que possui canais no Instagram, WhatsApp e Telegram.
A partir dos encontros quinzenais, o grupo decidiu formalizar a implementação do núcleo, através da criação de um CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica), aprovação de estatuto e eleição de diretoria e conselho fiscal. A assembleia de constituição da associação sem fins lucrativos aconteceu no dia 22 de setembro, na Casa Memorial Régis Pacheco, localizada na praça Tancredo Neves, no Centro.
“Decidimos nos formalizar para que, futuramente, a gente possa participar de editais, pleitear recursos e parcerias para conseguir uma sede, um local em que seja possível realizar oficinas e outras atividades de formação”, contou Wilson.
Projetos e planos futuros
Uma das ações do Núcleo Vagalumes é o mapeamento das necessidades da população LGBTQIAP+ de Conquista. Por meio de um formulário online, a associação quer reunir reivindicações da comunidade e, a partir dessas informações, propor a criação de políticas públicas e projetos sócio-culturais voltados para o grupo.
Para o diretor financeiro do núcleo, o mais importante é que a pesquisa consiga alcançar o maior número possível de munícipes. “Queremos que pessoas fora das nossas bolhas participem. Na reunião da semana passada, por exemplo, quase todos que estavam lá tinham ensino superior completo ou incompleto. Nós sabemos que essa não é a realidade da maioria da população LGBTQIAP+ de Conquista”.
Através do mapeamento, o núcleo também quer identificar estabelecimentos locais em que integrantes da comunidade LGBTQIAP+ não são bem-vindos e são desrespeitados por causa da identidade de gênero. “Já ouvimos relatos de pessoas que foram constrangidas em restaurantes, bares, e às vezes em instituições religiosas. Elas poderiam ter buscado soluções legais, mas muitas vezes não fazem isso por desconhecimento”, afirmou Wilson Granja.
A formação de um coral LGBTQIAP+, com o auxílio da cantora Marlua, que é uma das integrantes do Vagalumes; a elaboração de panfletos educativos sobre os direitos da comunidade; e a realização de reuniões e oficinas em conjunto com escolas e associações de bairros são outras ações que o núcleo pretende realizar. Além disso, de acordo com Wilson, a associação planeja promover um evento no dia 14 de novembro deste ano, em homenagem ao aniversário de três anos do assassinato de Raphaela Souza, ativista da comunidade LGBTQIAP+. Ela foi morta com três tiros na cabeça em 2018.
Políticas públicas e representatividade
Wilson Granja considera inaceitável o fato de não haver, na Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista, um parlamentar eleito que seja assumidamente LGBTQIAP+. “Entre 21 cadeiras, não temos ninguém. Temos pessoas que se consideram aliadas, mas seria bem mais importante ter pessoas realmente da comunidade no Legislativo”. Segundo o diretor do Núcleo Vagalumes, o município ainda tem muito o que avançar quando o assunto é políticas públicas para essa população.
A equipe reduzida da Coordenação LGBT+ e a falta de divulgação das ações e serviços oferecidos pelo setor são, para Wilson, fatores que ilustram o quanto o atendimento à comunidade precisa melhorar em Conquista. “A maioria das pessoas não sabe exatamente qual é a função da Coordenação [LGBT+] e como ela pode nos ajudar. Isso é problemático. Eu mostrei para o pessoal do Vagalumes, em uma reunião online, um material feito pelo setor e ninguém conhecia”, explica.
Vagalumes: a origem do nome
O nome do núcleo faz referência a uma citação do livro “Devassos no Paraíso”, de João Silvério Trevisan. Na obra, que conta a história da homosexualidade no país desde o Brasil colônia, o autor cita “Sobrevivência dos Vagalumes”, do filósofo Georges Didi-Huberman. Confira o trecho abaixo.
“Se existe a escuridão opressiva ao nosso redor, nossa função é brilhar. Exatamente como os vaga-lumes, que só brilham se houver escuridão e são tanto mais vaga-lumes quanto mais escuro estiver o entorno. Talvez pareça estranho que sua luz precise das trevas para ser luz, como se “feita da matéria sobrevivente […] dos fantasmas”, no dizer do filósofo francês Georges Didi-Huberman. Mas aí exatamente se encontra aquela capacidade de renascer das cinzas, como fantasmas iluminados, que emitem sinais de liberdade na noite”.
Foto de capa: Unsplash
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