Crianças estudam em sala de aula improvisada no quilombo de Lagoa de Maria Clemência
Por Karina Costa - 7 de março de 2024
Os alunos foram alocados no espaço após a superlotação da Escola Municipal Alfredo Brito, única instituição de ensino ativa no território. O local foi cedido pela associação de agricultores da comunidade.
“Eles trouxeram as crianças para cá sem ter lugar para elas ficarem”, afirma Janete Viana, moradora de Lagoa de Maria Clemência, quilombo de Vitória da Conquista certificado pela Fundação Palmares em 2006. A Escola Municipal Alfredo Brito, situada na comunidade, foi o local escolhido pela Secretaria de Educação (SMED) para receber os alunos que foram retirados de outros dois colégios desativados na região. Sem um espaço adequado para abrigar todos os estudantes, a sede da associação de agricultores se tornou uma sala de aula improvisada. “Estão aqui porque não tem outro jeito”, destaca a líder quilombola.
Foi nesse espaço que a reportagem conversou com cerca de 10 pessoas do quilombo. As paredes são de um tom acinzentado e cobertas por colagens que demonstram que aquele é um lugar de aprendizado. Cadeiras escolares tomam conta do espaço, além de um quadro branco. Todo o ambiente foi adaptado para funcionar como uma sala de aula, e o que era para ser uma situação temporária, se tornou permanente. Há dois anos o prédio tem sido uma escola para parte dos alunos da Escola Alfredo Brito.
De acordo com os relatos ouvidos pelo Conquista Repórter, os próprios moradores de Lagoa de Maria Clemência sugeriram que a sede da associação funcionasse como uma sala de aula provisória. A ideia surgiu porque eles tinham medo de que a única escola de todo o território fosse desativada. “A ideia inicial era fechar todas as escolas daqui [o território de Lagoa de Maria Clemência abarca 8 quilombos] e ir todo mundo para o Pradoso. Não fechou porque nós não deixamos. Uma comissão daqui foi até a Secretaria [Municipal de Educação] para não deixar fechar”, conta a professora Elenilda Gonçalves.
Depois de uma mobilização, principalmente de mães de alunos, a comunidade conseguiu impedir o fechamento do colégio. Mas agora o que eles aguardam é que a gestão municipal construa mais uma sala de aula na Escola Municipal Alfredo Brito para que as crianças possam estudar em um local adequado. “Vieram aqui, mediram, mas até agora nada. Só promessas”, destaca Janete, moradora e ex-coordenadora da associação do quilombo.
Jocélia de Jesus Santos, mãe de um dos alunos da comunidade, ressalta que o espaço da associação é muito quente para as crianças. Além disso, ela conta que os alunos correm perigo ao ter que atravessar a rua até o prédio principal da escola na hora da merenda. “Mesmo com a professora junto deles, nem todos obedecem, aí uns saem correndo, tem muitos passando. Se você observar aqui é ladeira, toda hora tem um [veículo] descendo em alta velocidade”, diz.
Além do impacto na cultura e identidade étnica de crianças quilombolas, o fechamento de escolas tem causado a superlotação das instituições que permanecem ativas. No caso de Lagoa de Maria Clemência, o colégio atende alunos que estudavam na Escola Municipal Jorge Amado e na Escola Municipal Teófilo Lemos, ambas desativadas no mesmo território no ano de 2019.
O Conquista Repórter solicitou esclarecimentos da Secretaria Municipal de Educação, mas até a publicação da matéria, não obtivemos resposta.
Fotos: Afonso Ribas, Karina Costa e Victória Lôbo.
*Reportagem publicada originalmente como parte do especial multimídia ‘Educação Quilombola’, do Conquista Repórter, em dezembro de 2023. A pauta foi selecionada pelo 5º Edital de Jornalismo de Educação da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação), em parceria com a Fundação Itaú.
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