Editorial | Sob liderança conservadora, nova gestão do Conselho Municipal de Cultura é empossada
Por Da Redação - 13 de outubro de 2025
No dia 6 de outubro, o advogado e radialista Washington Rodrigues assumiu a presidência do órgão para o biênio 2025-2027. Ele chega ao cargo em um contexto onde a Cultura já é negligenciada pela Prefeitura de Conquista.
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A mesma cadeira que já foi ocupada por figuras progressistas de Vitória da Conquista, como Maris Stella Schiavo e Jeremias Macário, agora é lugar de um dos maiores porta-vozes da extrema direita no município. Na última segunda-feira, 6, o advogado, radialista e autointitulado “conservador” Washington Rodrigues assumiu a presidência do Conselho Municipal de Cultura (CMC). Ele foi um dos membros eleitos para a gestão do órgão no biênio 2025-2027, ao lado de outras personalidades como o artista plástico Allan Kardec.
A cerimônia de posse dos novos conselheiros aconteceu no dia 23 de setembro, no Centro de Artes e Esportes Unificados Praça CEU J. Murilo, conforme Decreto nº 23.897, publicado no Diário Oficial. Já a eleição dos representantes ocorreu durante o Fórum Municipal de Cultura, realizado no dia 6 do mesmo mês, também na Praça CEU.
Promovido pela Secretaria Municipal de Cultura, o encontro reuniu mais de 40 pessoas, entre artistas, produtores culturais e autoridades locais. Na ocasião, foram distribuídas as vagas de titulares e suplentes entre os cinco eixos temáticos que compõem o Conselho: Artes Plásticas e Visuais e Audiovisual; Música; Artes Cênicas e Dança; Patrimônio Cultural Material e Imaterial; e Literatura, Livro, Leitura e Bibliotecas, eixo pelo qual Washington foi empossado.
Em Conquista, ele iniciou sua carreira no rádio como apresentador e diretor da Clube FM. Em 2023, chegou a ser pré-candidato a prefeito do município pelo PL (Partido Liberal), mesmo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Conhecido pelas declarações tipicamente polêmicas de quem integra o campo bolsonarista, o radialista foi intimado pela Justiça Federal este ano, por ter chamado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “ladrão” durante um podcast.
Em 2022, durante uma entrevista na Rádio Clube FM, ele e o então colega de bancada, Humberto Pinheiro, interromperam e silenciaram as professoras Elenilda Ramos e Greissy Leôncio, do Sindicato do Magistério Municipal de Vitória da Conquista (Simmp), em um claro episódio de machismo e misoginia. Atualmente, Washington atua como radialista na Conquista FM. Recém-lançada, a emissora foi denunciada como “clandestina” pelo deputado Jorge Solla, por, segundo ele, ter concessão para operar em Belo Campo, localizada a 64 quilômetros de Conquista.
É no mínimo surpreendente o interesse repentino do comunicador pela gestão cultural no município, tendo em vista que sua trajetória, além de estar totalmente voltada para o campo da comunicação e da política, em nada se vincula às lutas da classe artística de Vitória da Conquista. Isso, por si só, já mina perspectivas positivas para a atuação e diálogo com o órgão nestes próximos dois anos.
Além disso, o comunicador chega ao cargo de presidente do Conselho de Cultura em um contexto que já é marcado por um padrão histórico de negligência do Poder Público em relação ao setor. É difícil acreditar, portanto, que a nova gestão do órgão vá alterar a lógica vigente. Ao contrário, há risco de tornar o Conselho aparelhado aos interesses políticos da extrema-direita e reforçar o distanciamento entre o CMC e quem, de fato, faz cultura na cidade.
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