Editorial | Onde está o lazer de Vitória da Conquista?

Por - 29 de julho de 2024

Situados em bairros periféricos, lugares como a Reserva do Poço Escuro e a Praça da Juventude, estão às margens das políticas públicas. É preciso questionar por que os investimentos sempre vão para as áreas “nobres” da cidade.

Afonso Ribas

Uma das reclamações mais recorrentes nas mesas dos inúmeros bares de Vitória da Conquista é que a cidade não tem espaços de lazer. Nesta semana, uma amiga me disse: “queria um lugar para levar meus netos, não tem uma peça de teatro na cidade, se tem não é divulgado”.

Se vêm pessoas de outros municípios para a terceira maior cidade da Bahia, o questionamento é: “em qual restaurante (ou bar) vamos levar?”. O que não reparamos é que Conquista poderia ter inúmeras opções de passeio numa tarde de sábado ou num domingo preguiçoso ou para turistas visitantes mesmo em dias úteis. “E o que impede que eles sejam utilizados?”, você pode estar se perguntando. Eu te respondo: os bairros em que esses lugares estão.

Racismo político, ambiental, de lazer, de acessos. Praça da Juventude, Lagoa das Bateias e um dos espaços mais importantes da nossa cidade, a Reserva Florestal do Poço Escuro, estão localizados às margens das políticas públicas, em bairros periféricos. O que o Poder Público não compreende é que ao deixar esses espaços visitáveis, ao recuperar o Poço Escuro e despoluir a nascente do Rio Verruga, não só as populações dessas localidades serão beneficiadas, mas toda a economia da cidade, que será mais atrativa para o turismo.

Temos museus, rotas históricas e até cachoeiras na zona rural (isso pode até ser uma novidade para você). Mas os investimentos sempre vão para as áreas nobres, que se tornam visitáveis e atrativas para que empresários tenham negócios de sucesso. Uma das cachoeiras do município, localizada na comunidade quilombola de Cachoeira das Araras, fica sem acesso em períodos de chuva, em vista da falta de manutenção das estradas.

Se recebesse investimento, ainda assim, esses empresários não seriam beneficiados? Novos empregos não seriam criados? Não teríamos novas alternativas para a economia? Vamos além: o período do Festival de Inverno Bahia é o que mais atrai turistas para Conquista, movimenta a economia, mas não atrairia mais se essas pessoas tivessem mais lugares para “turistar”?

Num período da história mundial em que falamos tanto sobre os impactos ambientais, com a COP 30 que será realizada no Brasil se aproximando, não seria ao menos interessante cuidar desses locais e buscar tirar o pulmão da cidade do respirador artificial? Sim, seria, mas o que a Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista fez, em conjunto com a Câmara de Vereadores, foi retirar os investimentos da Reserva Ambiental do Poço Escuro para fortalecer outros locais da cidade.

Um deles é um orquidário minúsculo, pouco atrativo e com menor potencial de ser espaço de lazer. Mas advinha? Ele está localizado numa rota que perpassa pelos bairros mais nobres e os grandes condomínios de Vitória da Conquista.

Enquanto a cidade não tem lazer, as igrejas enchem, a Avenida Olívia Flores recebe os investimentos e os bairros periféricos são asfaltados em anos eleitorais. Grande parte da população fica isolada em seus lares aos fins de semana, não discute a cidade e a roda gira para que a política anti cultural, anti periférica, conservadora e racista seja perpetuada por mais longos anos.

Enquanto isso acontece, o pulmão vai perdendo ar e as nossas águas continuam poluídas, alimentando aquelas famílias que não têm acesso ao saneamento básico.


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