“Deus te fez macho”: jovem é vítima de transfobia no Centro de Vitória da Conquista
Por Afonso Ribas - 5 de setembro de 2022
A situação foi registrada em um vídeo que já conta com mais de 25 mil visualizações nas redes sociais.
Um vídeo que circula nas redes sociais e em grupos de WhatsApp mostra o momento em que uma mulher é vítima de ataques transfóbicos na Estação de Transbordo Herzem Gusmão, no Centro de Vitória da Conquista. O caso ocorreu no fim da tarde da última quinta-feira, 2, em pleno horário de pico do sistema municipal de transporte público, quando uma grande quantidade de pessoas se concentra no local.
Enquanto aguardava o ônibus em que estava deixar o terminal, ela teve sua identidade de gênero questionada por um homem de meia-idade ainda não identificado. Em tom exaltado, ele se dirigiu à jovem com um microfone nas mãos e disse: “Você é macho. Deus te fez macho. Você não é mulher e nunca será”.
Apesar de todo o constrangimento causado à vítima, as imagens mostram que nenhum dos munícipes que passava pela estação durante o momento se manifestou contra o responsável pelos ataques. “Não só eu, mas muitas outras pessoas estavam ali, viram esse acontecimento e, infelizmente, ninguém fez nada”, contou o conquistense Lázaro Oliveira, que registrou a situação pela câmera do seu celular. Logo após isso, publicou o vídeo em seu perfil no Twitter.
Até a noite desta segunda-feira, 5, a publicação já possuía mais de 10 mil visualizações. “Eu estava sentado, ela passou andando, e aí no exato momento que ela passou foi quando começou a gritaria do senhor, sendo bem transfóbico com ela. Foi uma coisa ridícula, feia da parte dele”, detalhou. Ainda de acordo com Lázaro, a repercussão gerada pelo vídeo no Twitter levou diversas pessoas a se manifestarem na rede social, relatando, inclusive, que já viram o mesmo homem proferindo ataques LGBTfóbicos contra outras pessoas no Centro da cidade.
Segundo alguns relatos, ele é conhecido por circular na região da Avenida Laura de Freitas e da Central de Abastecimento Edmundo Flores (Ceasa) com uma caixa de som e um microfone, que usa para fazer pregações e discursos religiosos fundamentalistas. Ao ver o tweet de Lázaro, Pedro Lopes, de 25 anos, se lembrou imediatamente de uma situação parecida na qual ele e seu namorado foram vítimas de homofobia, em abril deste ano.
“Estava nessa mesma região com meu namorado e tinha um senhor pregando com uma caixa de som também, mas era na frente de uma loja. Quando eu dei a mão pro meu namorado ele começou a recitar trechos da bíblia (eu acho) que abominava a homossexualidade (dizendo que era uma abominação e aberração). Mas enquanto ele levantava a voz a gente já foi se afastando, então não ouvi o resto. Ainda bem…”, contou Pedro.
Repercussão
Ainda no Twitter, vários internautas condenaram a situação registrada pelo vídeo gravado por Lázaro. “Esse cara é péssimo, com essa caixa de som pra cima e pra baixo, só ofendendo as pessoas”, comentou um usuário. “A conivência do poder público com esse comportamento é uma insanidade. Ele não (sic) tá pregando de forma genérica, tá objetivamente perturbando a paz de indivíduos”, opinou outra pessoa.
Muitos classificaram a situação como inadmissível e afirmaram que o responsável pelos ataques deveria ser preso, já que, desde 2019, após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), atos preconceituosos contra pessoas LGBTQIAP+ são considerados crimes inafiançáveis e imprescritíveis. “Não podemos mais tolerar os intolerantes. Não podemos aceitar a violação de direitos. Não podemos permitir os desrespeitos. Não podemos nos calar diante das injustiças e tapar os olhos ao ver esse crime”, afirmou Anderson Rocha.
Candidato a deputado estadual pela Bahia, ele publicou o vídeo em seu perfil no Instagram, rede social na qual o post já alcançou quase 18 mil visualizações até esta segunda, 5, gerando mais uma onda de indignação e revolta entre internautas. “Que vergonha usar o nome de Deus para destilar ódio sobre outra pessoa”, comentou uma usuária. “Esse homem precisa ser preso! Não é a primeira nem a segunda vez que faz isso”, disse outro internauta.
Nossa reportagem tentou entrar em contato com a vítima, mas até o fechamento desta matéria, não obteve resposta. Em razão disso, optamos por não identificá-la. Até o momento, não houve manifestações de órgãos públicos como a Prefeitura Municipal e a Câmara de Vereadores acerca do caso.
Foto de capa: Reprodução / Twitter.
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