Editorial | Racismo religioso e conservadorismo evangélico contra o Beco de Vó Dôla

Por - 30 de outubro de 2023

Durante atividade para as crianças, neste mês de outubro, moradores do quilombo urbano de Vitória da Conquista foram vítimas de intolerância religiosa. Pessoas identificadas como evangélicas foram as autoras da agressão.

Consternados, mas não surpreendidos, recebemos a notícia do racismo religioso cometido por fanáticos cristãos contra o pelo Beco de Vó Dôla. De acordo com blogs locais, os “fiéis” eram da Assembleia de Deus. A violência aconteceu durante atividade de dia das crianças, realizada no espaço do quilombo, que está em busca do reconhecimento da Fundação Palmares. Os ditos “fiéis” agiram com a premissa de que iriam “expulsar satanás”. Esse racismo, infelizmente, permeia a vida e a história daqueles que já nasceram às margens do centro urbano de Vitória da Conquista e auxiliaram a construir a cidade.

Pessoas negras, de terreiro, sempre protagonizam os noticiários em meio a situações de dor e desrespeito. Ataques verbais, violência física, espaços sagrados incendiados e, mais drasticamente, assassinatos. O ataque ao Beco de Vó Dôla aconteceu semanas depois de nós, jornalistas do Conquista Repórter, termos visitado o espaço e conversado com netos e netas de Dona Dôla, matriarca da família que deu nome ao espaço territorial e que deu início à árvore genealógica do único quilombo urbano de Vitória da Conquista.

Durante o encontro, conhecemos um pouco sobre a história de marginalização daqueles que pertencem ao terreiro, principalmente pelo acesso à educação e o racismo sofrido nas escolas por colegas e professores. Felizes, nos contaram que os enfrentamentos haviam cessados. Ou, mais possivelmente, passaram a ser velados, pois as pessoas sabem que racismo é crime.

Outros terreiros conquistenses sofreram racismo religioso ao longo dos anos, como a “Casa de Xangô”, que foi vandalizada em janeiro de 2023. No final de agosto deste ano, em Simões Filho, a Mãe Bernadete, líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, foi assassinada com 12 tiros. Em período eleitoral, candidatos são atacados veementemente por visitarem espaços religiosos de ascendência africana.

Assim como fez no início deste ano, o povo de santo protestou contra os ataques em frente ao Disep (Distrito Integrado de Segurança Pública). Mas infelizmente, ações como essa não têm sido suficientes. Racismo é crime, mas a nossa sociedade é racista e tapa os olhos para situações como a sofrida pelo Beco de Vó Dôla, inclusive, judicialmente.


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2 respostas para “Editorial | Racismo religioso e conservadorismo evangélico contra o Beco de Vó Dôla”

  1. […] que também é articuladora social e cultural do Beco de Dóla, mencionou o caso de intolerância religiosa que acabou culminando na interrupção das festividades na comunidade, ocorrida no dia 22 de […]

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    Beco de Vó Dôla sofre intolerância religiosa por evangélicos

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