Vitória da Conquista apresenta queda em casos da dengue, mas cenário ainda é de epidemia
Por Lays Macedo e Karina Costa - 2 de setembro de 2024
"O desafio da gestão é atuar para evitar que os números cresçam descontroladamente", aponta pesquisador em Saúde Pública. Uma epidemia ocorre quando há aumento de casos de uma determinada doença em regiões, estados ou cidades, mas sem atingir níveis globais.

De acordo com o painel de monitoramento da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), Vitória da Conquista é uma das 26 cidades baianas que vivem uma epidemia da dengue. A partir de dados coletados em 26 de agosto de 2024, a ferramenta aponta 29 óbitos confirmados em razão da arbovirose, além de 35.494 casos prováveis e 1.873 casos graves. As informações são do Centro de Inteligência em Saúde da Bahia, que atualiza os números semanalmente, sempre às segundas-feiras.
Em 2024, o Brasil enfrentou a maior epidemia de dengue da história do país, segundo o professor e doutor em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), José Patrício Bispo Júnior. Na Bahia, Conquista ocupou as manchetes dos jornais por liderar o ranking de casos e mortes no estado. Nos meses de março e abril, a Sesab destacou os números preocupantes do município.
Entre 31 de dezembro de 2023 e 22 de junho de 2024, a capital do Sudoeste baiano registrou 21 mortes causadas pela dengue, de acordo com informe epidemiológico da Sesab. Atualmente, o número subiu para 29. Já o município de Feira de Santana, que possui quase o dobro da população de Vitória da Conquista, aparece no levantamento da Secretaria de Saúde do Estado com 8 óbitos confirmados.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o período mais crítico em Conquista ocorreu entre fevereiro e abril, quando foram registrados mais de 400 casos prováveis a cada semana. Uma redução começou a partir da Semana Epidemiológica nº 18, de acordo com gráfico apresentado pela SMS.

À reportagem do Conquista Repórter, a SMS ressaltou que o cenário de epidemia no município “vem sendo superado desde o final de abril, quando iniciou a redução contínua do número de casos prováveis de dengue”. Dados do Sistema de Informação de Saúde (SIS) e do Sistema Nacional de Notificação (Sinan) apontam uma redução de 90.01% dos casos prováveis entre as Semanas Epidemiológicas (SE) nº17 (21 a 27/04/2024) e SE nº34 (18 a 24/08/2024).
Falta de preparo da Atenção Básica
De acordo com José Patrício Bispo Júnior, docente da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o declínio dos casos da dengue é esperado nesta época do ano. Ele explica que a doença é mais comum durante o verão e em períodos com maior volume de chuvas. “O desafio da gestão municipal é atuar para evitar que o número de casos cresça descontroladamente. É esperado que a partir de novembro e dezembro, os índices aumentem fatalmente”, destaca.
O especialista ressalta ainda que, em 2024, houve o aumento da temperatura do planeta, o que favorece a disseminação do aedes aegypti. “Outro ponto importante são as questões socioeconômicas. Nós vivemos um contexto de empobrecimento da população a partir de 2016. As condições de moradia, de abastecimento e armazenamento de água favorecem o número de casos da dengue”, afirma.
Para o pesquisador, além das condições climáticas e sociais, é essencial levar em consideração a eficiência da Atenção Básica no município. “Em Vitória da Conquista, embora existam profissionais qualificados e comprometidos, temos um número de agentes de endemias consideravelmente baixo. Além disso, as equipes de saúde da família não foram devidamente mobilizadas e preparadas para atuar no enfrentamento da dengue. Isso só aconteceu muito tarde”, avalia José Patrício Bispo Júnior.

O que diz a gestão municipal
Em nota enviada ao Conquista Repórter, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que, além dos fatores climáticos observados no período, a queda do número de casos prováveis da dengue também está associada “às ações intersetoriais que foram planejadas e executadas a fim de controlar a doença”. Entre elas, o órgão destacou “a intensificação e qualificação do trabalho dos Agentes de Combate as Endemias (ACE), o fortalecimento da Vigilância Epidemiológica das Arboviroses, a ampliação do acesso ao atendimento à Atenção Primária à Saúde (APS)”, entre outras.
Quando questionada sobre o que tem sido feito para evitar um novo aumento dos índices da arbovirose, a SMS reforçou que “o município mantém suas ações e estratégias, dentro de suas atribuições, além de trabalho educativo junto à comunidade, visando reduzir o impacto da dengue”. A entidade fez questão de destacar ainda que “mais de 80% dos criadouros do mosquito encontram-se dentro das casas, nos quintais, em caixas d’água destampadas ou fechadas de forma inadequada”.
Leia a nota na íntegra aqui.
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