Apesar do medo de violência política, eleição é marcada por clima de tranquilidade em Conquista
Por Afonso Ribas, Karina Costa e Letícia Mendes - 2 de outubro de 2022
Divisão entre apoiadores de Lula e Bolsonaro foi nítida em diversas seções eleitorais, mas acirramento não se refletiu em ataques e agressões de ambos os lados.

Às vésperas da votação em 1º turno das eleições gerais, o clima entre os eleitores em Vitória da Conquista e no Brasil, de modo geral, era de medo e insegurança com relação à violência política que poderia ocorrer a caminho das urnas. Mas apesar da nítida divisão entre apoiadores do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), e do presidenciável petista, Luiz Inácio Lula da Silva, o cenário durante este domingo, 2, de forma geral, foi ameno, conforme fontes ouvidas pelo Conquista Repórter.
“Nós chegamos preocupados com o clima de tensão construído nessa eleição, com a violência, a questão das armas. Estávamos muito tensos, entretanto, aqui nesta zona, a gente percebe uma tranquilidade. Os eleitores estão manifestando individualmente as suas posições políticas e isso é válido porque estamos numa democracia”, relatou Welder Cardoso Oliveira, delegado da federação ‘Brasil da Esperança’, presente no Instituto de Educação Euclides Dantas (IEED).
No Colégio Paulo VI, localizado no bairro Brasil, zona oeste da cidade, Grazielle Pereira foi votar acompanhada da filha de 13 anos. Ela decidiu sair de casa utilizando cores neutras para evitar qualquer tipo de agressão. “Eu senti medo de vir votar hoje, tanto que não quis vestir roupas com tons que lembram qualquer candidato a presidente ou deputado, tinha medo de sofrer algum tipo de repressão aqui”, contou.
Mas não foi um clima de tensão e insegurança que Grazielle encontrou ao chegar na sua zona eleitoral. Assim como ela, Anderson Pereira Souza, funcionário público, notou um ar de tranquilidade no pleito deste ano em Conquista. “Me sinto muito seguro e tranquilo para votar. Notei uma diferença entre essa eleição e as que passaram”, disse sobre o ambiente no Colégio Estadual Heleusa Câmara.
A professora Helma Mororó, que já sofreu violência política dentro da comunidade religiosa que frequentava, refletiu muito antes de ir às ruas com uma toalha que mostra o rosto do ex-presidente Lula e uma camiseta vermelha. “Confesso que pensei muito se viria com manifestação aberta do meu voto por causa do momento de tanta violência que estamos vivendo. Um momento em que de um lado estão as armas e do outro estão os alvos. Mas me senti segura e não quis ceder ao medo”.
Divergências entre eleitores
O favoritismo dos candidatos Lula e Bolsonaro, visto nas diversas pesquisas de intenção de voto divulgadas no período de campanha eleitoral, também foi evidente entre o eleitorado conquistense. Nas diferentes seções eleitorais da cidade, foi difícil encontrar apoiadores de nomes da chamada terceira via, como Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).
Eleitora de Lula, a professora Helma disse que está vivenciando as eleições deste ano com muita esperança e alegria, apesar de se sentir triste com os últimos quatros anos de governo do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro.
Já o estudante Pedro Henrique Lima Ferraz, outro apoiador do presidenciável petista, afirmou que tenta não criar muitas expectativas quanto ao resultado da votação para não se decepcionar, mas acredita na vitória do ex-presidente já neste primeiro turno. “Estou contando com isso, na verdade”, complementa.
O empresário Tarcísio Cruz, por sua vez, espera que Bolsonaro seja o vencedor das eleições de 2022. “Eu acho que é um presidente que vem bem na parte econômica até o momento. O mercado está em crescimento, e eu sinto isso no meu dia a dia como empresário. Então, penso que, nesse momento, ele pode continuar o trabalho dele”, opinou. Uma visão completamente oposta à de Aldeane, integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
“Eu sou mulher, mãe, sou estudante e educadora popular, além de militante do MST. E nós, durante esse período [do governo Bolsonaro], temos sido afetados diretamente por falta de políticas públicas para a juventude, para as mulheres, para o povo pobre do campo e também da cidade; pela retirada de projetos e recursos na área da educação; o fechamento de nossas escolas; sem contar com a violência no campo, que tem sido estimulada pelo atual governo”, pontuou.
Clima em seções eleitorais
Durante o dia, o Conquista Repórter visitou seis colégios: Escola Municipal Guimarães Passos, Centro Integrado de Educação Luiz Navarro de Brito (CIENB) e Colégio Paulo VI, na zona oeste da cidade; Colégio Estadual Heleusa Câmara, Colégio Estadual Abdias Menezes e Instituto de Educação Euclides Dantas (IEED), na zona leste.
Na maior parte dos locais, não houve intercorrências, como foi o caso do Instituto de Educação Euclides Dantas (IEED), onde a prefeita Sheila Lemos votou e reforçou seu apoio ao candidato ao governo do estado, ACM Neto (União Brasil). Além da chefe do executivo municipal, outros políticos conquistenses foram às urnas ainda no período matutino, como Waldenor Pereira (PT), José Raimundo Fontes (PT) e Fabrício Falcão (PCdoB), que votaram no Colégio Estadual Abdias Menezes.








Tanto nessa instituição quanto na Escola Municipal Guimarães Passos, longas filas se formaram. Na unidade de ensino do bairro Guarani, eleitores tiveram que esperar por mais de uma hora embaixo do sol e alguns chegaram até a desmaiar. Isso porque, neste ano, a Justiça fez alterações em diversas seções eleitorais em Vitória da Conquista, o que contribuiu para a superlotação.
Segundo o coordenador da escola, Abdias Passos, a unidade comporta cinco seções eleitorais, com média de 450 eleitores em cada uma. Se todos forem votar durante este domingo, 2, a estimativa é de que 2.000 votantes passem pela instituição.
Em nota divulgada por volta das 13h, o Tribunal Regional Eleitoral da Bahia explicou que nas eleições 2022, a Bahia conta com número recorde de eleitores aptos a votar, cenário que resulta em maior concentração de pessoas nos locais de votação. “Esse fato, aliado à circunstância de que se trata de Eleições Gerais, em que estão em disputa cinco cargos (deputado federal, deputado estadual, senador, governador e presidente), reflete em maior tempo médio de votação por eleitor”, esclareceu.






Balanço da votação
Segundo o juiz Wander Lopes, da 41ª zona eleitoral de Vitória da Conquista, apesar de algumas intercorrências, o domingo de eleições transcorreu normalmente no município.
Às 17h, as urnas eletrônicas foram fechadas e os flash cards levados, primeiro, para o Fórum Eleitoral e, em seguida, para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde acontecem a apuração, soma dos votos e divulgação dos resultados.
Até às 18h10, de acordo com o juiz, ainda haviam filas em algumas seções eleitorais e, por isso, nem todas as urnas haviam chegado ao TSE.
*Matéria atualizada às 19h25 do dia 02/10/2022.
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