Editorial | Uma modesta análise do resultado das eleições municipais de Vitória da Conquista
Por Da Redação - 14 de outubro de 2024
Se nos pleitos de 2016 e 2020, a disputa nas urnas foi mais acirrada entre esquerda e direita, o que se viu no último dia 6 de outubro foi o avanço e a consolidação do conservadorismo nos poderes Legislativo e Executivo.

O resultado das eleições municipais em Vitória da Conquista deixou evidente o enfraquecimento da esquerda na terceira maior cidade da Bahia ante o avanço e a consolidação da direita conservadora nos poderes Legislativo e Executivo. Se nos pleitos de 2016 e 2020, a disputa nas urnas foi mais acirrada entre representantes desses dois espectros políticos, o que se viu no último dia 6 de outubro foi uma derrota que chega a ser vergonhosa para um partido que já governou a cidade por cerca de 20 anos, muitos deles com bons índices de aprovação.
Apesar de ter seus votos anulados até que a decisão sobre sua inelegibilidade seja julgada pelo Tribunal Superior Eleitoral, a prefeita Sheila Lemos (União) conseguiu não apenas conquistar a maioria do eleitorado em primeiro turno, como também alcançou uma diferença de mais de 30% dos votos em comparação ao segundo colocado, o deputado federal Waldenor Pereira (PT). Para muita gente, pouco ou em nada importou o fato de ela ser declaradamente apoiadora de Jair Bolsonaro ou mesmo o seu descaso com a zona rural e a periferia, com a Cultura e Saúde municipal, com a valorização dos professores e da educação.
Pouco importaram também as dezenas de escolas do campo fechadas em seu governo, a situação precária do transporte público nos três anos que antecederam a renovação da frota de ônibus, as estradas intransitáveis e a falta d’água nos povoados e comunidades quilombolas, além do abandono de espaços como o Poço Escuro. Valeram mais as promessas de campanha, as obras eleitoreiras concentradas na zona urbana e os discursos que colocam a Conquista que está sob sua gestão como uma das melhores cidades para se viver no Nordeste do Brasil. Melhor para quem?
Com certeza não é melhor para Suelina e sua comunidade, que fica ilhada quando chove porque a gestão não consegue negociar a abertura de um desvio na estrada que liga o povoado à sede. Muito menos para Nalva, que só tem acesso ao transporte coletivo seis vezes ao dia para sair do Santa Marta e acessar serviços no Centro. Portanto, vale parar de olhar somente para o próprio umbigo na hora de tomar decisões que ditam os rumos de toda a população, principalmente de quem está às margens de políticas públicas.
E vale também, sobretudo para quem é de esquerda, parar de se iludir de que só a crítica à oposição vai ser suficiente para vencer uma eleição, desconsiderando o valor, inclusive simbólico, de ações concretas da gestão atual que, quer você aceite ou não, beneficiaram a população, ainda que só tenham sido feitas após muita pressão popular ou por pura estratégia eleitoral. Um exemplo é a revitalização da Lagoa das Bateias e a reforma da Avenida Brumado, que mesmo sendo obras ainda não finalizadas, ajudaram a mudar e muito a narrativa segundo a qual Sheila “só olha pra Olívia”.
O jogo estava desenhado há muito tempo. A máquina ela já tinha nas mãos. Somou-se a isso uma campanha cuja comunicação foi evidentemente superior e melhor do que a de seus adversários e uma tentativa de impugnação que, apesar de pertinente e bem fundamentada, a colocou no centro do debate público no âmbito local. E que, da forma como foi usada e abusada pelos seus opositores, a colocou ainda em um lugar de perseguida, como ficou claro no último debate entre os candidatos.
Ou seja, praticamente uma receita pra campeã de BBB. Difícil é não pensar que, mesmo que sua inelegibilidade seja confirmada, Lemos consiga emplacar um outro nome da direita conservadora de Vitória da Conquista com o capital político que construiu nesses últimos anos. Seguiremos acompanhando os próximos capítulos dessa história. Afinal, ela ainda não chegou ao fim.
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