Como a importação do conceito de ‘Cidade em 15 Minutos’ esbarra na realidade urbana de Conquista
Por Cláudio Carvalho* - 28 de março de 2022
A implementação do projeto "Conquista 15 Minutos" mostra que o município tem uma leitura rasa sobre os problemas de mobilidade urbana que o acomete.
A Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista (PMVC) deu início, no dia 14 de março, ao transporte de passageiros em ônibus articulado e ao projeto “Conquista 15 minutos”, que consiste em criar condições para que o trajeto bairro-centro não demore mais que 15 minutos.
Carlos Moreno, cientista e urbanista, é o criador do conceito ‘Cidade em 15 minutos’. Uma cidade onde se chegam a todas as funções urbanas em 15 minutos, seja a pé, de bicicleta com ciclovias segregadas ou por meio do transporte público de massa (como o ônibus). O objetivo é reduzir o uso de automóveis e o espaço a ele dedicado. “Mudança de mentalidade é essencial para melhorar as cidades”, diz Carlos Moreno.
Acho que o problema é que esse conceito cria uma cortina de fumaça para os problemas centrais e sistêmicos da ampla maioria da população de Conquista. Isso levando em consideração a (péssima) qualidade dos debates na gestão pública do transporte municipal urbano em nossa cidade.
Temos uma leitura muito rasa sobre os problemas de mobilidade urbana aqui. Só quem mora no Candeias e trabalha no Centro acha que é viável importar esse conceito agora. Tem gente que viaja para a Europa, e volta falando de mobilidade, quando na cidade nem calçadas tem. Não é dificultando gratuidade do idoso, estudante ou o Vale Transporte, incentivado o transporte alternativo com vans, que se melhora os ônibus.
As estratégias e os instrumentos, comparando Conquista e Paris, por exemplo, são MUITO distintos. Conceito quase não fica em pé quando se tenta tropicalizar a ideia. O conceito quase sempre parte da cidade como uma folha em branco, como se ela não existisse nas suas múltiplas formas, nas suas culturas e dinâmicas pré-estabelecidas. Não se trabalha com base na realidade, mas em um imaginário que parte do vazio.
No fundo, é uma discussão sobre uma cidade policêntrica. A gente precisa do desenvolvimento das subcentralidades. Penso nos desafios da descentralização das oportunidades. A cidade em 15 minutos envolve sair da Vila Serrana e fazer compras no Bairro Brasil, não no Centro. Eu acho que é só mais um conceito pra generalizar as cidades, simplificar camadas que já são frequentemente ignoradas.
*Cláudio Carvalho é professor do curso de Direito da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e co-autor do livro “O direito á cidade”. É doutor em Desenvolvimento e Planejamento Urbano pela Universidade Salvador (UNIFACS) e possui mestrado em Direito pela Universidade Católica de Santos (UNISANTOS).
Foto de capa: Secom/PMVC.
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