Artigo | As ameaças fascistas na UESB e o silêncio de Lula sobre o golpe de 64
Por Da Redação - 4 de abril de 2024
Panfletos com mensagens que exaltam a ditadura militar foram espalhados pelo campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, em Vitória da Conquista. No mês de março, o golpe civil-militar completou 60 anos.

Na última semana do mês de março, numa data próxima ao aniversário de 60 anos do golpe civil-militar de 1964, panfletos que exaltam a ditatura brasileira foram encontrados no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), em Vitória da Conquista. Não bastasse celebrar um dos períodos mais sombrios e sangrentos da história do país, os textos incitam o ódio e a violência contra grupos sociais historicamente perseguidos. Como é de praxe em “produções” dos saudosistas do golpe e defensores da “família”, não poderia faltar o “alerta” sobre a “ideologia de gênero”, tão temida por aqueles que “só querem defender nossas crianças e adolescentes”.
Em tom ameaçador, um dos textos ainda afirma que “o risco é de morte massiva” para os “libertinos”. Diante da gravidade das palavras espalhadas nos corredores de uma universidade pública, a reitoria da UESB foi acionada. Os discentes, por meio de suas representações estudantis, decidiram agir. O Diretório Central dos Estudantes (DCE) do campus, sob a Gestão Maria Felipa, convocou uma reunião do Conselho das Entidades de Base (CEB).
Entre as ações definidas pelos discentes, estão a cobrança de um posicionamento da universidade e a criação de um Comitê Antifascista para organizar atos e outros tipos de mobilização. A reitoria, por sua vez, se limitou a informar que está acompanhando a situação. Ao Conquista Repórter, via email, a instituição disse que acionou a Polícia Civil para investigar o caso.
Não houve nenhum tipo de manifestação pública e institucional da UESB, nem sobre as mensagens de cunho fascista espalhadas pelo campus nem sobre os 60 anos do golpe civil-militar de 1964. Quem destacou a temática, em um evento, foi o Grupo de Pesquisa História e Memória das Políticas Educacionais e Trajetórias Sociogeracionais, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Memória, além de outros pesquisadores e entidades que fazem parte da instituição.
A reitoria em si parece ter acatado a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de não tocar no assunto do golpe militar de 1964. No mês de fevereiro deste ano, Lula chegou a afirmar em entrevista a vontade de evitar “remoer o passado”. De acordo com apuração do The Intercept Brasil, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) havia destinado R$200 mil para eventos relacionados aos 60 anos da ditadura, antes do chefe do Executivo nacional vetar os atos oficiais.
Lula preferiu o silêncio em março de 2024. Uma atitude decepcionante, mas não surpreendente. Não é de hoje a postura conciliadora do petista com os militares. Promessa do atual presidente durante a campanha eleitoral de 2022, a reativação da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) ainda não se concretizou. Segundo dados do Governo Federal, 364 pessoas continuam como desaparecidas políticas. Sem anistia? Não é bem assim.
Mas o que tem a ver a atitude de Lula, presidente do país, com as mensagens de cunho fascista encontradas na UESB, em Vitória da Conquista? O silêncio sobre o passado sangrento da ditadura e a complacência com os militares passam a mensagem de que está tudo bem. Não há necessidade de “remoer o passado”? Muito pelo contrário, é preciso lutar contra o apagamento da memória dos mortos e desparecidos políticos brasileiros. E, para isso, é necessário sim relembrar e debater as motivações, consequências e reflexos atuais desse período que massacrou e reprimiu tantos e tantas da classe trabalhadora.
Foto de capa: Arquivo Nacional/Memórias da Ditadura.
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