Reneson Breno Pereira: da periferia de Conquista aos palcos do mundo

A música é uma forma de arte que, combinando sons e ritmos, tem a capacidade de provocar emoções, unir pessoas e, em alguns casos, transformar realidades. Para Reneson Breno Pereira Aquino, nascido e criado no bairro Henriqueta Prates, na zona oeste de Vitória da Conquista, a música se tornou um guia, revelando possibilidades num cenário em que quase nada indicava ser possível chegar longe.

Filho de mãe solo, cresceu ao lado de quatro irmãos, sem jamais ter conhecido o pai, assassinado antes mesmo de seu nascimento. A infância foi vivida em uma casa modesta, marcada pelas brincadeiras de criança e pelas dificuldades financeiras. A mãe, Diana, que estudou até o quinto ano do ensino fundamental, se desdobrava em vários trabalhos para sustentar a família. Entre eles, a coleta de material reciclável, atividade que realizou muitas vezes na companhia do filho.

Foi a mãe que, entre um trabalho e outro, compartilhou com Reneson aquilo que despertaria o seu interesse pela música. Ela contou ao menino que seu pai tocava violão. “Eu pensei: poxa, se ele conseguia fazer isso, por que eu também não conseguiria?”, conta. A vontade de seguir os passos da figura paterna se transformou em motivação. “O que me incentivou a entrar nesse mundo da arte foi meu pai. Saber que ele gostava muito disso me fez querer construir minha carreira”, lembra.

Aos 14 anos, Reneson já sonhava com o violão, mas sua condição financeira o impedia de ter o que mais queria. Na falta do objeto de verdade, desenhou em uma tábua de madeira o braço do instrumento e, usando a imaginação, passou a praticar os acordes no seu mundo de faz de conta.

Convicto de que ser músico era o que queria, ele começou a buscar por pessoas que poderiam ajudá-lo nessa missão. Foi então que, por incentivo da mãe, procurou o Programa Conquista Criança, criado em 1997 no município com o intuito de atender jovens em situação de vulnerabilidade social, principalmente ofertando aulas de música, dança, judô, artesanato e outras atividades.

No projeto, Reneson conheceu seu primeiro professor de violão, Simião Célio. Iniciou as aulas e logo se destacou pela dedicação. Com o passar dos anos, começou a ensinar outras crianças voluntariamente no mesmo programa. Já não era mais apenas um aluno, tornava-se multiplicador daquilo que o movia, compartilhando seu conhecimento com pessoas que viviam uma realidade semelhante à sua.

Durante o intervalo entre uma aula e outra, ele se viu diante de uma oportunidade: uma indicação para fazer parte do NEOJIBA (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia). O convite veio de Bruna Garófalo, que na época era coordenadora do núcleo em Vitória da Conquista. Mas Reneson hesitou. A música erudita parecia distante demais de sua realidade. Até que foi convencido por Thiago Azeredo, professor de contrabaixo, que enxergou nele grande potencial.

De Conquista para a Europa

O menino do Henriqueta Prates ingressou no NEOJIBA como contrabaixista e, a partir disso, conquistou mais do que poderia imaginar. O projeto não apenas o ajudou a aprimorar sua técnica, mas também o colocou em contato com jovens de contextos semelhantes ao seu, o que derrubou a barreira que o separava da música clássica. “Isso me moldou bastante porque é uma prática coletiva”, destaca.

Após anos como bolsista do núcleo em Vitória da Conquista, sentiu que era hora de seguir adiante. Movido pela inquietação e pelo desejo de evoluir, em 2022, decidiu se inscrever no processo seletivo da Orquestra Dois de Julho, em Salvador, e foi aprovado.

A mudança trouxe novos desafios: morar sozinho, adaptar-se ao clima quente da capital baiana e enfrentar um repertório mais exigente. Com persistência, superou a insegurança. Mas as dificuldades financeiras, os impactos emocionais da pandemia da covid-19 e o peso da solidão o levaram a tomar uma decisão difícil em 2023, quando optou por retornar para sua cidade natal.

De volta à Conquista, ele reassumiu o papel de monitor. Precisava do acolhimento da família e de tempo para cuidar de si. Ainda assim, o sonho da Orquestra Dois de Julho permanecia vivo. Em 2024, participou novamente da seleção e foi readmitido no grupo, agora mais maduro. “Essa retorno para Conquista foi muito essencial. Eu tive que dar dois passos para trás, para dar cinco à frente”, conta.

Desde então, Reneson escreve um novo capítulo em sua história. No final de 2024, foi aprovado para continuar na Orquestra Principal. Em 2025, participou da 9ª turnê internacional do NEOJIBA, percorrendo países como Alemanha, Áustria, Polônia, Itália, Holanda e França, ao lado de 85 jovens talentos e do maestro Ricardo Castro. “Foi uma experiência realmente mágica”, resume.

Mais do que uma viagem, foi a realização de um sonho improvável para um garoto da periferia. O que começou com o desenho de um violão em uma tábua de madeira, tornou-se um caminho real. Hoje, aos 25 anos, Reneson se orgulha da sua trajetória, sem romantizar as dificuldades que enfrentou. Ele carrega consigo a memória do pai, a resiliência da mãe e a força do lugar de onde veio.