Problemas de infraestrutura, higiene e segurança afetam feiras livres de Vitória da Conquista
Por Lays Macedo - 3 de setembro de 2024
Feirantes reclamam de estruturas inadequadas para protegê-los em dias quentes e chuvosos, mesmo após reformas. Na Feira do Alto Maron, a falta de esgotamento sanitário é a principal queixa dos trabalhadores.

Importantes vetores econômicos de Vitória da Conquista, as feiras livres estão espalhadas por diversos bairros da cidade, como Alto Maron, Vila América, Urbis 5, Urbis 6, Centro e Patagônia. Segundo dados divulgados em 2022 pela Prefeitura Municipal, mais de mil boxes estão distribuídos nesses equipamentos, gerando emprego e renda para centenas de famílias que vivem da comercialização de alimentos.
Nos últimos anos, alguns deles foram beneficiados pela gestão municipal com obras de revitalização, incluindo a Feira da Urbis 5, em 2020; da Urbis 6 e do Vila América, em 2021; e a Feira do bairro Brasil, em junho deste ano. Entretanto, feirantes ouvidos pelo Conquista Repórter se queixam de problemas ainda comuns nesses espaços com relação à infraestrutura, esgotamento sanitário e segurança. Algumas reclamações persistem mesmo em locais que passaram por reformas recentemente.
Estruturas novas, mas ineficazes
Na feirinha do bairro Brasil, as intervenções feitas pela Prefeitura incluíram a melhoria do tráfego de veículos e pedestres na região e, principalmente, a implementação de uma cobertura de 533 metros quadrados formada por telhas termoacústicas em um dos pavilhões do equipamento. Durante a entrega, no dia 10 de junho, a prefeita Sheila Lemos afirmou que nas próximas obras de revitalização das feiras de Conquista, o projeto será semelhante, adequando-se às dimensões de cada lugar. E acrescentou que o galpão recém-inaugurado “traz conforto para quem vai trabalhar e para quem vai comprar”.
Mas não é o que acontece na prática, segundo relatos colhidos pela nossa reportagem. “É uma boa estrutura, porém mal planejada. Parece ser erro de engenheiro, sabe? Era para ter sido feita um pouco mais baixa. A estrutura ficou muito alta e sem beirais também. A gente já tem sofrido um pouco com qualquer garoa. Nos períodos de chuvas fortes, não vai ser diferente. Molha tudinho aqui em volta”, contou um feirante que preferiu não ser identificado. Ele trabalha em uma barraca situada na área entregue aos comerciantes.

A falha na cobertura já foi alvo de queixas em outros veículos de imprensa. O padrão da estrutura é o mesmo já existente na feira da Urbis 5, reformada em 2020. Por isso, as reclamações decorrentes da situação são comuns entre trabalhadores de ambos locais. “A feira aqui não era coberta antes. Embora tenha facilitado em parte, quando chove, a chuva vem toda para dentro da área que ficamos. Molha tudo. O sol entra nas laterais do mesmo jeito. A cobertura é muito alta. Então, assim, resolveu só pra quem está no meio desse espaço mesmo”, apontou feirante da Urbis 5 que também pediu anonimato. A feira onde trabalha todos os finais de semana atende não apenas moradores do bairro, mas também da Urbis 4, Cidade Maravilhosa e Vilas Serranas, todos localizados na zona oeste do município.
Em nota, o governo municipal afirmou que as coberturas das feiras da Urbis 5 e do bairro Brasil “possuem estrutura em modelo galpão aberto, sem vedações laterais”, condizente com “as legislações urbanísticas municipais”. Também informou que “a altura dos pilares foi definida a partir das orientações técnicas de engenharia, assim como as inclinações das telhas termoacústicas, tendo em vista a necessidade de ventilação e de troca de ar, garantindo a salubridade e o conforto térmico do ambiente”.

Na zona sul da cidade, a feira do bairro Urbis 6, por sua vez, foi revitalizada em 2021, com investimento total de R$600 mil, que incluiu a entrega de 119 barracas padronizadas, cobertura e armário para armazenamento de produtos. Mas os comerciantes também enfrentaram problemas semelhantes aos da Urbis 5, mesmo após a reforma. Em matéria publicada no Blog do Sena, em outubro daquele ano, eles denunciaram a falta de proteção adequada e efetiva contra chuva e sol.
Já em junho de 2024, a Prefeitura oficializou a construção de um novo espaço para os feirantes no bairro: a Praça da Feira da Urbis 6. “Com um investimento de quase R$1,3 milhão, a nova estrutura será construída em frente à Unidade de Saúde da Urbis 6. O projeto criado pela Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra) prevê uma cobertura de 600 metros quadrados sobre uma área pavimentada de 2,5 mil metros quadrados – semelhante ao equipamento recentemente entregue na Feira do Bairro Brasil”, diz um trecho do anúncio.

“Por enquanto, eu prefiro ficar aqui. Trabalho na frente da minha casa, então é bom demais”, confessa o senhor Robson Luiz Santos, que atua há mais de 15 anos com a esposa em uma barraca no local onde a feira da Urbis 6 segue funcionando até então. Contudo, pelo andar da nova obra, os dois ainda vão poder aproveitar por mais algum tempo a comodidade de trabalhar tão perto de casa. Prevista para ser executada logo após os festejos juninos, a construção está parada, pelo que constatou a nossa reportagem.
Em visita à futura praça, nada foi encontrado pela nossa equipe além de uma placa com o anúncio da obra, nem materiais de construção nem pedreiros ou engenheiros em serviço. Mas de acordo com a gestão municipal, a construção foi iniciada ainda no mês de julho e está em fase de infraestrutura. “Neste momento, as ferragens das sapatas (estrutura que fica abaixo dos pilares da cobertura) e a estrutura metálica estão sendo montadas em um espaço da G3 Polaris, empresa responsável pela obra. Quando estiverem prontos, os materiais serão transportados e implantados na feira, pois se trata de uma obra pré-moldada. Todas as etapas do trabalho estão em conformidade com o cronograma aprovado previamente pela Seinfra”, explicou a Secretaria Municipal de Comunicação (Secom) em nota.






Investimento na construção da nova Feira da Urbis 6 é de quase R$1,3 milhão. Fotos: Lays Macedo.
Sem esgotamento sanitário
Na feira do Alto Maron, o maior problema enfrentado pelos comerciantes é a ausência de coleta e tratamento dos resíduos sanitários dentro do comércio popular situado entre as avenidas São Geraldo e Bruno Bacelar. “Não temos uma boa estrutura aqui. As meninas que trabalham nas lanchonetes têm que carregar a água que lava as coisas em baldes para jogar fora”, denuncia dona Maria das Graças dos Santos, feirante do bairro há mais de dois anos. O problema é antigo.
Apesar do trecho urbano do entorno ter cobertura da rede de esgoto e ter passado por manutenção recentemente, a reivindicação dos feirantes do Alto Maron continua sem resolução. A falta de esgotamento sanitário dentro dos boxes e de higienização constante dos containers de coleta de lixo instalados no espaço resultam no contínuo escoamento de água com detritos nas redondezas.
Questionada acerca da situação, a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra), informou que “iniciou uma obra a fim de solucionar as questões referentes à rede de água e esgoto da feira (…). Porém, devido à exigência da Embasa de individualizar as ligações de cada box e barraca, o projeto precisou ser interrompido”. A gestão também disse que “segue em busca de recursos para resolução dessa demanda”.
A Embasa, por outro lado, disse não ser de sua responsabilidade os serviços de saneamento básico e instalação da rede de esgoto na feira. “A área do entorno da feira é atendida pelo sistema de esgotamento sanitário de Vitória da Conquista e não compete a esta concessionária a implantação da rede coletora interna do local”, afirmou a entidade via e-mail.

Falta de segurança
Outro incômodo relatado por Dona Maria das Graças na Feira do Alto Maron, onde vende hortaliças, é a falta de agentes públicos de segurança no ambiente. “Sempre tem gente brigando, usando drogas, fazendo xixi e até mesmo cocô entre as barracas, e nunca aparece nem a Guarda Municipal para resolver”, relatou.
A segurança e a ordem pública foram pontos levantados também por quem trabalha nas feiras da zona oeste da cidade, nos bairros Brasil e Patagônia. “Aqui se torna um caos às vezes, com muita baderna nos barzinhos especialmente. Outro dia, tiveram que chamar a polícia para abordar um cara que estava ameaçando todo mundo. Ainda dei uma volta e não vi ninguém da Guarda Municipal para nos ajudar”, contou o senhor Paulo Henrique Lima, que cuida da barraca da família no Patagônia há aproximadamente dois anos.
Uma reforma entregue em setembro de 2023 gerou melhorias no mercado de carnes da feira local e também na sua rede elétrica. O atendimento à demanda dos feirantes foi executado pelo Governo do Estado. Entretanto, mesmo com um novo projeto de iluminação, a realidade de insegurança dos feirantes não mudou. “Apesar da estrutura organizada, não estamos mais aguentando isso, de ameaças e falta de segurança”, lamentou Paulo Henrique, que trabalha diariamente no local.

A feirante Paula Barreto, que atua no bairro Brasil, a menos de 5 km de distância, lida com o mesmo problema. “Não temos atuação suficiente de policiamento nem da Guarda Municipal aqui. Às vezes, acontecem situações de furto e, assim, cada um que se vira. É uma feira muito grande, tem muitas barracas, movimento muito grande, tanto quanto a da Ceasa, mas a gente não tem a quem recorrer aqui quando acontece alguma emergência”, desabafa.
Na nota enviada ao Conquista Repórter para esta reportagem, a Prefeitura afirmou, “por meio da Guarda Municipal (GM), que o serviço de monitoramento tem sido intensificado nas localidades, com um cronograma que abrange todos os dias da semana”. E destacou que, “nos dias de feira, o serviço é ampliado, e uma viatura fica à disposição do início da manhã até a noite”. O texto também diz que “nas feirinhas do bairro Brasil e do bairro Patagônia, as viaturas realizam rondas periódicas”. Com relação à Feira do Alto Maron, a GM informou “que intensificará o atendimento durante a semana, com a inclusão de uma viatura no cronograma”.
A gestão ainda esclareceu que há cinco feiras municipais sob a gestão da Secretaria Municipal de Serviços Públicos (Sesep): Ceasa, Patagônia, Alto Maron, Mercado de Carnes e Mercado Municipal do Bairro Brasil. Já as feiras localizadas nos bairros Vila América, Urbis V e Urbis VI possuem associações de feirantes responsáveis pela administração dos espaços, barracas e bancadas.
“Nos dias de feira, a Sesep realiza a higienização desses espaços e, sempre que solicitada, a fiscalização, para assegurar o bom funcionamento das atividades. A higienização dos banheiros é mantida diariamente, garantindo melhores condições de uso para os frequentadores e feirantes. Além disso, nas demais feiras geridas diretamente pelo órgão, são realizadas quase diariamente a lavagem dos espaços, higienização dos contêineres, limpeza dos açougues e sanitários”, concluiu.
Edição: Afonso Ribas
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