Editorial: O fim do El País Brasil e o que nós perdemos com isso
Por Victória Lôbo - 14 de dezembro de 2021
Edição em português do jornal se despediu dos seus leitores nesta terça-feira, 14, por não alcançar a sustentabilidade econômica necessária para a sua manutenção. O veículo estava em operação desde 2013.

Um ano antes das eleições federais e estaduais, o El País Brasil encerrou suas atividades. Mas o que isso significa? Primeiro, mostra como é difícil sustentar um bom jornalismo em solo brasileiro. Segundo, evidencia como é importante ter referências de um jornal ético, com boa linguagem e que tenha forte influência no cenário nacional. E terceiro, reforça o quanto veículos com essas características fazem falta.
O anúncio foi feito através de uma carta aos leitores publicada nesta terça-feira, 14. No texto, a direção do jornal explicou os motivos que fizeram a sua edição em português fechar as portas após 8 anos no Brasil. “Nesse tempo, apesar de ter atingido grandes audiências e um número considerável de assinantes digitais, ele não alcançou a sua sustentabilidade econômica, o que levou à decisão por sua descontinuidade”.
A equipe do El País Brasil soube do fechamento pela própria postagem, conforme afirmou o jornalista Felipe Betim, em seu perfil no Twitter. “Dia triste para uma equipe incrível que se empenhou nesse projeto coletivo por tanto tempo“. Triste, porém, não apenas para aqueles que trabalhavam no jornal, mas para todos nós, jornalistas e leitores, que ficamos órfãos desse trabalho, que vinha cumprindo um papel de excelência para a democracia brasileira.
A jornalista Marina Rossi lembrou que o El País mapeou “os interesses no impeachment, a Lava Jato”, denunciou crimes contra os direitos humanos e teve um papel importante durante as eleições de 2018. Na semana em que jornalistas da TV Bahia foram atacados fisicamente e verbalmente pela equipe do presidente Jair Bolsonaro, em visita ao Extremo Sul da Bahia, o jornalismo brasileiro sofreu mais uma grande perda.
Esse é o resultado da falta de incentivo e das tentativas constantes de descredibilizar a nossa profissão, quando exercida com qualidade. É o que vem em conjunto com diversos xingamentos, agressões, ataques à idoneidade e, também, à honra dos profissionais de imprensa. É uma forma de promover a desinformação como meio de manipulação: algo que fez com que Bolsonaro se elegesse em 2018 e que deve ser combatido em 2022.
Essa notícia também se alinha ao desânimo e tristeza com que jornalistas do interior convivem diariamente. O fechamento de um grande jornal traz diversos questionamentos para nós do Conquista Repórter, que estamos tentando crescer e sobreviver em meio a um ambiente que tenta nos sufocar.
Neste momento, prestamos nossa solidariedade para toda a equipe do El País Brasil, que também é uma grande vítima desse processo de oclusão dos bons projetos, com a falta de investimentos, fomento e auxílio, para que o bom jornalismo tenha vida longa. Esperamos que essa situação não seja regular e que possamos vencer esse estigma. Mas para isso, precisamos e sempre vamos precisar de você.
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