“Larissa era um corpo matável”, diz Núcleo LGBTQIAP+ sobre assassinato de jovem travesti em Conquista
Por Karina Costa - 17 de fevereiro de 2022
Para integrantes do Núcleo Vagalumes, não há como desassociar a morte da jovem da transfobia.

Na segunda-feira, 14, Larissa Lins foi assassinada a tiros, no Residencial Lagoa Azul, localizado no bairro Campinhos, em Vitória da Conquista. Na imprensa local, a notícia de sua morte repercutiu acompanhada de um tipo comum de agressão transfóbica: a divulgação do “nome morto”, ou seja, aquele que lhe foi dado ao nascimento, mas não condiz com sua identidade de gênero.
Segundo informações da polícia, divulgadas pelo G1 Bahia, “as investigações iniciais apontam que o crime não se configura como LGBTfobia, e que teria relação com o tráfico de drogas”. Entretanto, para integrantes da comunidade LGBTQIAP+, não há como desassociar a morte de Larissa da violência generalizada contra essa população, que sofre rejeição da família e exclusão em diversos espaços sociais, no país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo.
“Larissa era um corpo ‘matável’. Os ‘cidadãos de bem’ vão dizer que ela procurou esse destino, que ‘nem foi transfobia, [que] as motivações foram outras’”. A afirmação está em nota emitida pelo Núcleo Vagalumes, criado em 2021 para dar visibilidade às demandas e anseios da população LGBTQIAP+ do município. O grupo lamentou a morte da jovem.
“Por falta de apoio familiar e da sociedade como um todo, [Larissa] acabou trilhando por caminhos indesejados e se tornando vítima da violência”, diz outro trecho da nota publicada no perfil do Núcleo Vagalumes, no Instagram. “Se tivesse tido oportunidades, a gente consegue pensar em uma infinidade de futuros possíveis muito melhores… não mais para Larissa, mas para muitas outras meninas como ela”, complementou o grupo no comunicado.
Os integrantes do Núcleo também repudiaram o uso do “nome morto” de Larissa em manchetes e publicações divulgadas pela mídia local. De acordo com o grupo, a jovem estava em meio ao processo de retificação dos documentos para incluir o seu nome social. “Não deu tempo. Larissa não está mais entre nós para reclamar, mas as que ainda estão sofrem com isso. Entendam!”, afirmaram por meio de nota.
Larissa tinha pouco mais de 20 anos e estava em busca do seu espaço no mundo da música. Com o nome artístico de MC Angell Lins, ela lançou, em maio de 2019, um EP intitulado “Sou”. O álbum chegou ao público com três músicas inéditas e um clipe oficial, todos disponíveis no Youtube.
Índices de violência transfóbica na Bahia
Em 2021, a Bahia foi o 2º estado brasileiro com maior registro de assassinatos de pessoas trans e travestis: 13, ao todo. Os dados foram coletados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e divulgados por meio de relatório lançado em janeiro deste ano.
Atrás apenas de São Paulo, o território baiano já esteve na 2ª posição do ranking da Antra por dois anos consecutivos: 2017 (17 assassinatos) e 2018 (15 assassinatos). Em 2021, apesar da redução de cerca de 32% nas mortes de pessoas trans e travestis, o estado subiu da terceira para a segunda posição. A região Sudeste do país concentrou o maior percentual de mortes (35%), enquanto o Nordeste apareceu logo em seguida com o índice de 34% dos casos.
Foto de capa: Reprodução/YouTube.
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