Enquanto Prefeitura se silencia, surgem novas denúncias de escolas com atividades presenciais
Por Da Redação - 17 de junho de 2021
Uma semana após solicitar posicionamento do Executivo acerca do assunto, ainda não obtivemos resposta
Nessa última quarta-feira, 16, o Conquista Repórter publicou a reportagem “É tudo no sigilo”, que denunciou o funcionamento irregular de escolas particulares de Vitória da Conquista em meio à pandemia da covid-19. Até o fechamento da matéria, a Prefeitura Municipal não havia respondido aos nossos questionamentos com relação à fiscalização desses estabelecimentos de ensino e ao chamado “acolhimento”, modalidade que alguns deles dizem ter adotado, mediante autorização, em vez de aulas presenciais, conforme exposto por algumas das fontes que ouvimos.
As indagações foram enviadas à Secretaria Municipal de Comunicação (Secom) na quinta-feira, 10, via WhatsApp. Uma semana depois, ainda não recebemos respostas. Por isso, encaminhamos, mais uma vez, nesta quinta-feira, 17, nossas perguntas à PMVC, via e-mail. Até a publicação desta matéria, o Conquista Repórter não recebeu qualquer posicionamento oficial da Prefeitura sobre o assunto.
Esclarecimentos
Além das três escolas denunciadas pelas fontes que ouvimos durante a investigação, outras três instituições foram mencionadas em um print enviado ao Conquista Repórter, que deu origem à apuração: Instituto de Educação Rui Barbosa, Escola Novas Ideias e Bica Escola. Além disso, a Escola Espaço da Criança foi citada por uma de nossas fontes. Erramos ao não entrar em contato com essas instituições, por isso procuramos cada uma delas nesta quinta, 17.
Por telefone, o Espaço da Criança afirmou que a instituição recebeu alunos de forma presencial por um tempo, na modalidade ‘acolhimento’, em dois dias por semana e com duração de até duas horas. Mas as atividades foram suspensas devido ao aumento da taxa de ocupação dos leitos de UTI em Conquista. Segundo a escola, a autorização para essas atividades presenciais foi recebida pela Avesb (Associação de Valorização da Educação do Sudoeste Baiano) tanto da Vigilância Sanitária quanto da própria Prefeitura.
Foi dito ainda que todas as 75 escolas que fazem parte da Avesb possuem a cópia de um documento que comprova a autorização. A instituição afirmou que nos enviaria o arquivo, por WhatsApp, mas até o fechamento desta matéria, não o recebemos. Também solicitamos esse documento à Secom, no e-mail que encaminhamos na tarde desta quinta, 17.
Por meio de ligação telefônica, também entramos em contato com a Escola Novas Ideias. A secretária administrativa do estabelecimento disse que a instituição nunca retomou quaisquer atividades presenciais desde que as aulas foram suspensas no município. “Temos aulas remotas todos os dias, de segunda a sexta. Mas não existe aula presencial porque não tem decreto oficial para isso”, afirmou.
A nossa equipe também tentou contato com o Instituto de Educação Rui Barbosa, mas não fomos atendidos. Todas as ligações caíram na caixa postal. Por fim, não encontramos canais para dialogar com a Bica Escola, uma vez que não estavam disponíveis na internet números de telefone, WhatsApp, e-mail ou qualquer outro meio de comunicação com a instituição. Na reportagem anterior, havíamos ligado para a Nova Escola, Colégio Galileu e Colégio Dinâmico. As respostas de todas elas, que negaram o funcionamento irregular, haviam sido incluídas no texto.
Outras denúncias
Após a publicação da reportagem, recebemos mais denúncias de escolas da rede privada de Conquista que também estariam recebendo alunos de forma presencial, bem como novos depoimentos que ajudam a embasar denúncias já feitas por outras fontes que ouvimos. Através do WhatsApp do Conquista Repórter, uma mãe de alunos que estudam na Nova Escola, nos disse que, há mais de um mês, a instituição iniciou o ‘acolhimento’ presencial com as crianças mais novas. “Eles fizeram um dia [o acolhimento], o Sinpro denunciou e aí suspenderam, mas voltaram na semana seguinte. O que aconteceu foi: a professora disse que era aula, pediu para os meninos levarem material, livros e tudo mais. Mas aí um grupo de pais, do qual faço parte, começaram a reclamar. Nós criamos um grupo no WhatsApp e desde então a gente vem cobrando a escola”, contou, mediante pedido de anonimato.
Para Carla*, a Prefeitura de Conquista permite que a prática do ensino presencial durante a pandemia se perpetue, já que não há fiscalização. “Nós [pais] não podemos impedir a escola, né? A gente entende que quem deve fazer isso é o Ministério Público e a Prefeitura”, disse. “Se as autoridades têm seus comprometimentos e não estão atuando em um realidade onde, na cidade, você tem 97% dos leitos de UTI ocupados, o que a gente tem que fazer é cobrar da escola”, afirmou.
Carla relatou ainda que os alunos, assim como os filhos dela, que não atendem o ‘acolhimento’ presencial por escolha dos pais, são prejudicados porque têm uma carga horária de aulas menor. “Quem participa do ensino presencial tem aulas todos os dias da semana. São três dias de forma online e dois presencialmente, na terça e na quinta. Já as crianças que não aderiram a essa modalidade, só têm aulas nos três dias de ensino remoto. E aí nós [pais] reclamamos porque isso não é justo. Nós pagamos a mesma mensalidade e os nossos filhos ficam dois dias sem aulas?”, questionou*.
Na tentativa de oferecer uma solução a esses pais, a escola teria estabelecido uma sessão de tutoria na sexta-feira. “Essa tutoria é no último horário e dura só quarenta minutos, sendo que os alunos que vão para o tal do acolhimento tem três horas de atendimento. Então, é uma carga horária desigual. E quem vai para a escola é beneficiado, né? No meu entendimento, isso é até uma forma, inclusive, de forçar os pais a levar os filhos para a escola”, explicou.
Segundo a mãe, o ‘acolhimento’ não é oferecido para todas as turmas, mas apenas para alunos até o 4º ano. Nesta quinta, 17, a instituição publicou um post no Instagram no qual explica a diferença entre o que chama de “atividades de acolhimento e o ensino presencial”. Na publicação, reafirma que tal modalidade tem autorização da Prefeitura para ocorrer e segue um “rigoroso protocolo”.
Além de Carla, outros leitores do Conquista Repórter e usuários da internet denunciaram atividades escolares irregulares durante a pandemia. Por meio de mensagem em um grupo no WhatsApp, um conquistense disse: “Hj [sic] mesmo eu vi estudantes na rua, saindo de uma escola na [Avenida] João Pessoa”. Em publicação no Instagram, uma usuária afirmou: “Eu vejo tanta criança com farda de escola cara na rua. Quer dizer que esse povo tá na clandestinidade?”.
Através do direct do Instagram, recebemos mais uma denúncia. “Eu conheço crianças bem próximas a mim que estão indo para escola assistir aula sim e, inclusive, os pais são orientados pela direção a dizerem que se trata apenas de reforço, o que não é verdade”. Segundo a usuária, a escola em questão não foi citada pela nossa reportagem.
Ataques ao jornalismo independente
Desde a publicação da reportagem, na quarta-feira, 16, o Conquista Repórter vem sofrendo ataques e ameaças nas redes sociais, especialmente no post de divulgação da matéria no Instagram. Muitos usuários tentam descredibilizar o trabalho de apuração realizado por este veículo de jornalismo independente. “Fake news”, “imprensa marrom”, “site sensacionalista” e muitos outros termos foram utilizados para censurar e diminuir a importância e seriedade da investigação.
Nós respeitamos o código de ética da profissão e temos consciência da grande responsabilidade que temos em nossas mãos enquanto jornalistas e da dimensão humana e social que envolve o nosso trabalho. Essas exatas palavras estão disponíveis na seção “nossos valores” do site. Durante a construção desta plataforma, fizemos questão de disponibilizar essa informação para o nosso público leitor, pois a transparência é um dos pilares fundamentais que norteiam o trabalho do Conquista Repórter.
CORREÇÃO:
*Após publicação da matéria, a fonte Carla* (nome fictício para preservar o anonimato), mãe de dois alunos que estudam na Nova Escola, pediu para retificar uma informação que havia dito, anteriormente. De acordo com ela, os filhos dos pais que não aderiram ao chamado “acolhimento” também têm aulas todos os dias – ainda que em horário reduzido – e não apenas três dias na semana, conforme havia dito. “Por exemplo, nos dois dias citados, eles têm aula de 8 às 10h. E as crianças do acolhimento permanecem na escola de 10:30 às 12. Essa proposta de 3 dias remotos e 2 presenciais não foi aceito por parte dos pais, aí eles reformularam nesse novo formato”, disse.
MATÉRIA ATUALIZADA EM 18/06/2021, ÀS 13H10:
Após a publicação desta matéria, o Instituto de Educação Rui Barbosa entrou em contato com o Conquista Repórter e enviou uma nota, negando que recebeu alunos de forma presencial na escola. A direção informou que não retornará às atividades presenciais até que haja uma determinação legal. Leia a nota na íntegra aqui.
*Foto de capa: Pixabay.
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