Editorial | Um ano após denúncias, comunidade cobra protocolo de combate ao assédio na UESB
Por Da Redação - 18 de março de 2024
Não dá mais para a instituição manter uma postura que não encara a adoção de medidas práticas contra o assédio como uma prioridade.

“Nós nos envergonhamos profundamente do que aconteceu aqui por parte da gestão da universidade”. A afirmação feita pela professora Suzane Tosta durante o ato “Mulheres contra o Assédio”, promovido na última quarta-feira, 13, pelo Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), expressa um sentimento compartilhado por muitas pessoas da comunidade interna e externa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) diante da demora da reitoria em implementar medidas efetivas de combate às violências moral e sexual na instituição.
Um ano após as denúncias feitas por profissionais da Assessoria de Comunicação (Ascom) e do Sistema UESB de Rádio e Televisão Educativas (Surte), ainda não foi estabelecido um protocolo definitivo contra uma prática sobre a qual vinha se jogando panos quentes. Foi assim por muito tempo. Mas está mais do que na hora disso mudar.
Apesar do tema ter vindo à tona somente em março do ano passado, ganhando repercussão estadual, com manchetes nos principais jornais da Bahia, o assunto não é novidade para muitos que já passaram pela universidade e têm consciência, seja como vítimas ou testemunhas, do fato da comunidade acadêmica reproduzir várias das estruturas machistas e opressoras presentes em nossa sociedade. E isso, vale repetir, precisa mudar. Para quem ainda prefere tapar os olhos diante dessa realidade, recomendamos a leitura do livro-reportagem “Vozes – assédio sexual na universidade: quem sofre, quem faz, quem vê, quem se cala”, da escritora e jornalista Giulia Santana.
Ex-aluna da instituição, ela detalhou, no livro publicado em 2019, relatos de estudantes que foram vítimas de assédio no meio acadêmico e expôs os bastidores de denúncias que nem sequer vieram a público na imprensa, além de conversar com especialistas sobre o que acontece depois que a violência é cometida. De lá para cá, não apenas um, mas cinco anos se passaram. Quantas outras denúncias podem ter sido silenciadas ou ignoradas durante todo esse período? Nunca saberemos. É por isso que não dá mais para a UESB nem qualquer outra instituição manter uma postura que não encara o tema e a adoção de medidas práticas contra o assédio como uma prioridade.
Não é à toa que o Ministério Público do Trabalho (MPT) tenha movido uma Ação Civil Pública contra a universidade por dano moral coletivo após concluir que a universidade “foi leniente em não adotar providências imediatas para fazer cessar as ocorrências de assédio moral relatadas à Ouvidoria da instituição”. Só foi também cerca de nove meses após as denúncias que a instituição anunciou, em dezembro de 2023, a elaboração de um Plano de Ação de Prevenção e Combate ao Assédio Moral e Sexual.
Mas nenhum documento protocolar foi, até então, apresentado oficialmente à comunidade. Algo que possa ser consultado e efetivamente compreendido considerando as suas diferentes características, estratégias e instâncias de atuação. Além disso, coincidentemente dois dias após o ato promovido pelo Sinjorba, a UESB divulgou, nesta sexta-feira, 15, a realização de uma mesa-redonda sobre assédio nos três campi da instituição. A impressão que fica continua sendo a de que as coisas só acontecem com base na pressão pública. E não é para ser assim, sobretudo quando se trata de uma prática que é não só opressora e violenta, mas também criminosa.
Foto de capa: Ascom/UESB.
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