Editorial | Hospital Esaú Matos em colapso: o que nos diz o silêncio diante do caos?

Por - 7 de julho de 2025

A maternidade vem ocupando as manchetes da mídia local por motivos alarmantes, como superlotação e falta de atendimento adequado para gestantes. O cenário de calamidade é resultado de anos de negligência.

Secom/PMVC

Mais uma vez, o Hospital Materno-Infantil Esaú Matos estampa manchetes por motivos alarmantes, como superlotação, confusão na recepção, presença da Polícia Militar, e relatos de partos acontecendo fora do ambiente hospitalar adequado, de acordo com matérias publicadas pelo Blog do Sena. Desta vez, o cenário é de calamidade, mas, se olharmos com atenção, perceberemos que não se trata de um colapso repentino, é o resultado de anos de negligência, omissão e descaso com a saúde pública de Vitória da Conquista.

A crise atual escancara a falta de estrutura e de gestão que já havia sido apontada por uma auditoria da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), realizada entre 2017 e 2018. Tratamento inadequado de lixo hospitalar, ausência de concursos públicos, falhas em prontuários, controle ineficiente de medicamentos e inexistência de comissões de ética foram apenas algumas das dezenas de irregularidades apontadas. O relatório, concluído em 2019, ficou engavetado até ser resgatado pelo Conselho Municipal de Saúde, o que por si só já revela uma cultura de silenciamento e de falta de transparência.

Passados quase seis anos da auditoria, os mesmos problemas continuam a rondar os corredores da única maternidade pública da cidade. Dessa vez, não é mais apenas uma planilha de “não-conformidades”. São vídeos de banheiros imundos, são gestantes à espera de atendimento por mais de 24 horas, é uma mãe dando à luz dentro de uma ambulância. Com ou sem confirmação oficial, o fato é que isso representa o medo real que acompanha quem depende exclusivamente do SUS.

E aqui é preciso dizer com todas as letras que a insegurança no parto não é uma realidade universal. Ela tem cor, tem classe e tem território. São, em sua maioria, as mulheres negras, pobres, da zona rural ou de bairros periféricos que mais sofrem com a sobrecarga do sistema. Para elas, a promessa de um parto digno se torna uma aposta de risco. Quando o SUS falha, é sempre no corpo dessas mulheres que a conta chega primeiro.

O Sistema Único de Saúde é uma das maiores conquistas da sociedade brasileira. É ele que garante atendimento gratuito e universal, mesmo diante de um cenário de subfinanciamento crônico e ataques constantes. Mas sua existência não pode ser usada como desculpa para a precariedade. Defender o SUS é também cobrar que ele funcione, e funcione bem, para quem mais precisa.

Enquanto o poder público se cala diante da superlotação, da insalubridade e do desespero de pacientes, precisamos entender que o colapso do Esaú Matos é mais do que uma crise hospitalar. É um retrato cruel da desigualdade. E ele exige respostas. Não apenas notas de esclarecimento, mas compromissos concretos, transparência na gestão e, principalmente, respeito à vida de quem mais precisa ser acolhido.

Atualização

Na tarde desta segunda-feira (7), a Assessoria de Comunicação da Fundação Pública de Saúde de Vitória da Conquista, responsável pela gestão do Hospital Municipal Esaú Matos, entrou em contato com nossa equipe e solicitou espaço para prestar esclarecimentos sobre as informações e denúncias citadas neste editorial.

Segundo a entidade, “informações inverídicas e distorcidas estão sendo propagadas sem a devida checagem junto à direção ou à Assessoria de Comunicação da Fundação”, a exemplo do suposto parto feito em uma ambulância da unidade devido à falta de leitos. O órgão afirma que a paciente em questão “deu entrada no no hospital às 7h45, com o recém-nascido nos braços, após um parto em trânsito ocorrido durante o deslocamento em ambulância”.

“A paciente foi recebida em situação de vaga zero, ou seja, sem regulação prévia, como infelizmente tem se tornado frequente. Desde a chegada, mãe e bebê receberam todos os cuidados necessários”, complementou. Ainda segundo a assessoria da fundação, “a crescente procura por pacientes que poderiam ser atendidas em unidades básicas de saúde ou hospitais municipais tem provocado sobrecarga, tumultos e episódios de desrespeito com os profissionais da unidade, como ocorreu no dia 26 de junho, quando uma paciente, sequer gestante, agrediu verbalmente e fisicamente a equipe, sendo necessário acionar a Guarda Municipal e a Polícia Militar”.

Confira a nota na íntegra aqui.


Importante: Você pode ler este texto em primeira mão assinando a nossa newsletter, onde publicamos os editoriais do Conquista Repórter. A “Nossa Semana” chega aos sábados, sempre às 8h, no e-mail dos nossos assinantes. Clique aqui e se inscreva para receber!

IMPORTANTE! Contamos com seu apoio para continuar produzindo jornalismo local de qualidade no interior baiano. Doe para o Conquista Repórter através da chave PIX 77999214805. Os recursos arrecadados são utilizados, principalmente, para custos com manutenção, segurança e hospedagem do site, deslocamento para apurações, entre outras despesas operacionais. Você pode nos ajudar hoje?

Foram doações dos nossos leitores e leitoras, por exemplo, que nos ajudaram a manter o site no ar em 2023, após sofrermos um ataque hacker. Faça parte dessa corrente de solidariedade e contribua para que o nosso trabalho em defesa dos direitos humanos e da democracia no âmbito regional sobreviva e se fortaleça! Clique aqui para saber mais.

  • some
  • Somos uma organização de mídia independente que produz jornalismo local em defesa dos direitos humanos e da democracia no sertão baiano.
  • Apoie

© 2021-2025 | Conquista Repórter. Todos os direitos reservados.