“É um silêncio constrangedor”: artistas denunciam descaso da prefeita Sheila Lemos com a Cultura
Por Maria Eduarda Leite* - 29 de agosto de 2025
Quase seis meses após a entrega de uma carta de reivindicações no gabinete civil, agentes culturais alegam que não são ouvidos pela gestão municipal.

No dia 7 de março, o Conquista Repórter esteve na Prefeitura de Vitória da Conquista quando agentes culturais protocolaram no gabinete civil uma carta com mais de 20 reivindicações. Quase seis meses após a entrega do documento, os artistas denunciam que suas demandas não são ouvidas pelo governo municipal. “O que temos é um silêncio constrangedor”, diz um trecho da nota pública divulgada pelo Coletivo Movimenta Cultura Conquista, em 20 de agosto, no Instagram.
De acordo com o grupo, nem a Secretaria Municipal de Cultura nem o Conselho de Cultura têm dialogado efetivamente com a categoria. “E mais, deslegitimam um documento que tem quase 4 mil assinaturas, resultado de uma mobilização histórica dos artistas que vêm debatendo questões importantes para o setor cultural da cidade”, afirma o coletivo.
O documento reivindica uma série de ações urgentes, como a revitalização e a reabertura do Teatro Carlos Jehovah, da Casa Glauber Rocha e do Cine Madrigal, além da ampliação do orçamento destinado à Cultura. Outras solicitações são a ampliação de espaços comunitários para leitura, o fortalecimento de mostras de cinema e cineclubes e a reestruturação do Conselho Municipal de Cultura.
Segundo o Coletivo Movimenta Cultura, ainda em março, no dia 25, representantes do grupo foram recebidos pelo chefe de gabinete civil, Ivanildo Souza, pelo secretário de Cultura, Eugênio Avelino (Xangai), e pelo coordenador de Cultura, Alecxandre Magno. Mas, de acordo com os artistas, a reunião não trouxe avanços nem respostas às demandas apresentadas.
A partir do primeiro encontro, ficou estabelecido que uma nova reunião aconteceria em até 45 dias, mas, passados quase seis meses, isso não aconteceu. Para os artistas, o silêncio da prefeita e de sua equipe reforça a falta de compromisso com a pauta cultural e com a população conquistense.
“A unidade entre os coletivos é fundamental para fortalecer e exigir que o Poder Público se manifeste sobre nossas reivindicações. É necessário continuar criando mobilizações e uma direção firme, autônoma e democrática para garantir que nossas pautas sejam atendidas”, afirma Dayse Maria, atriz, produtora cultural e integrante do Coletivo Movimenta Cultura Conquista.
Descaso histórico
O descaso da gestão municipal com a Cultura não é recente. Em 2021, artistas se reuniram para realizar um ato em defesa do Teatro Carlos Jehovah e do Mercado Rachel Flores, ameaçados de demolição por um projeto de shopping popular. O ato, chamado de “Ocupação Fuxico”, teve oficinas, performances e debates, cobrando políticas culturais e a preservação dos espaços.
Já em 2023, um manifesto e uma carta foram encaminhados à Secretaria Municipal de Cultura pela Associação do Setor Audiovisual do Sudoeste Baiano (SASB) e por profissionais das artes cênicas. Os documentos reivindicavam a reativação de espaços culturais, especialmente do Cine Madrigal, cinema de rua fechado há mais de dez anos, além de recursos contínuos para a produção local.
No início de 2025, a Prefeitura devolveu mais de R$333 mil à União por não utilizar, dentro do prazo legal, recursos da Lei Paulo Gustavo destinados à reforma de salas de cinema, como o Cine Madrigal. O valor fazia parte de um total de cerca de R$2 milhões recebido pelo município, mas que não foi integralmente executado até 31 de dezembro de 2024.

Em maio deste ano, artistas contemplados por editais da Lei Paulo Gustavo foram surpreendidos com notificações da Receita Federal em razão de um erro da Prefeitura. A gestão declarou os repasses como rendimentos tributáveis, o que gerou irregularidades na declaração de Imposto de Renda.
Diante da negligência histórica com o setor cultural, os trabalhadores convocam todos a cobrar ações concretas da gestão Sheila Lemos (União Brasil). “Não aceitaremos que a Cultura seja tratada como sobra de orçamento”, diz o manifesto do Coletivo Movimenta Cultura.
*Maria Eduarda Leite é estudante do 8º semestre do curso de Jornalismo da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) e estagiária do Conquista Repórter.
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