Governo municipal se compromete a preservar o Teatro Carlos Jehovah e o Mercado de Artesanato

Por - 23 de novembro de 2021

O tema foi debatido em reunião promovida pelo Conselho Municipal de Cultura (CMC) na noite dessa segunda, 22, com a presença de membros da classe artística conquistense, do secretário de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Xangai, e do chefe de Gabinete Civil, Lucas Dias

Artistas locais, representantes do governo municipal e outros integrantes da sociedade civil se reuniram, na noite dessa segunda-feira, 22, para discutir a preservação do Teatro Carlos Jehovah e do Mercado de Artesanato Rachel Flores, localizados na Praça da Bandeira, no Centro de Vitória da Conquista. O debate, convocado pelo Conselho Municipal de Cultura (CMC/VC), aconteceu na sala multiuso da Praça CEUs J. Murilo (Centro de Artes e Esportes Unificados), no bairro Alto Maron.

A reunião foi realizada com o intuito de mediar o diálogo entre a Prefeitura e a classe artística, além de cobrar esclarecimentos e transparência a respeito do destino dos espaços culturais. Essa foi a primeira sessão extraordinária do Conselho desde a realização do ato ‘Ocupação Fuxico’, organizado pelo coletivo ‘Só Por Cima do Meu Trabalho’ e motivado pelo rumor de que o Executivo municipal teria a intenção de demolir o teatro e o mercado.

Estiveram presentes na reunião o secretário de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Xangai, além do chefe de Gabinete Civil, Lucas Dias, que representou a prefeita Sheila Lemos (DEM). Durante a leitura da ata da última sessão do CMC, a presidenta Hendye Gracielle informou que o Conselho encaminhou um ofício à Prefeitura solicitando respostas sobre a manutenção do Teatro Carlos Jehovah e do Mercado.

No documento, o CMC questionou se há uma reforma ou revitalização em curso ou planejada, se existe um planejamento de intervenção na edificação que abriga o teatro e pediu ainda que todos os projetos fossem enviados ao Conselho, caso estivessem elaborados. O órgão solicitou também informações sobre o plano de reabertura do Carlos Jehovah, uma vez que já houve a retomada de eventos presenciais na cidade.

O Conselho Municipal de Cultura encaminhou um ofício à Prefeitura solicitando respostas sobre a manutenção do Teatro Carlos Jehovah e do Mercado de Artesanato. Foto: Conquista Repórter.

De acordo com Gracielle, os questionamentos ainda não haviam sido respondidos pela Prefeitura. Apesar da falta de esclarecimentos, o chefe de Gabinete Civil, Lucas Dias, disse que, “para a análise de qualquer projeto, a prefeita tem como pré-requisito a preservação do espaço para o teatro, dos boxes dos artesãos e das lojas que ali se encontram”. 

Além disso, o representante de Sheila Lemos afirmou que há um pedido de interdição do local feito pelo Corpo de Bombeiros e pela Defesa Civil, mas os documentos não foram publicizados até o momento. “Havia problemas com o telhado e com as instalações elétricas, o que poderia colocar em risco as pessoas que ali, porventura, estivessem”. 

Sobre o rumor a respeito da demolição, Dias enfatizou que “ainda que seja necessário fazer um novo prédio, no mesmo local, vamos preservar seu tamanho e formato em arena. Então, nós não queremos acabar com o teatro de maneira nenhuma. Se circulou algum boato na imprensa, não tem qualquer respaldo do município”.

O chefe de Gabinete Civil se comprometeu, durante a reunião, a enviar ao Conselho uma resposta oficial ao ofício encaminhado à Prefeitura. Nesta terça-feira, 23, de acordo com a presidenta da entidade, um documento foi entregue ao CMC por Lucas Dias. O conteúdo do arquivo será lido e analisado pelos conselheiros e, posteriormente, apresentado à sociedade civil durante a próxima reunião do órgão municipal.

Já o responsável pela pasta de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Xangai, disse que está disposto a receber os artistas e ouvir suas reivindicações na Secretaria.

Falta de diálogo com os artesãos

“Estávamos sendo despejadas de forma truculenta pela gestão”, disse a artesã Angela Rodrigues na reunião dessa segunda, 22. Ela e Nilzete Brito, costureira e prestadora de serviço, estiveram presentes na sessão como representantes das trabalhadoras do Mercado de Artesanato Rachel Flores.

De acordo com as munícipes, em março deste ano, a Prefeitura deu dez dias para que os artesãos deixassem o mercado e transferissem seus boxes para um prédio na Rua do Triunfo, no Centro da cidade. O motivo apresentado pela gestão municipal para o realocamento foi uma reforma que deveria ser realizada no local. 

A justificativa, na época, foi a mesma apresentada pelo chefe de Gabinete Civil, Lucas Dias: a necessidade de reestruturações a pedido do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil. “Nós fizemos um movimento, levamos a Câmara de Vereadores toda para lá [para o Mercado de Artesanato], chamamos a imprensa e a prefeita foi até nós. Depois disso, ela ficou de conversar com a gente em agosto, mas não houve conversa”, contou Angela.

Naquele período, os artesãos questionaram a ausência de um projeto para a reforma e do relatório da Defesa Civil, a falta de diálogo da Prefeitura e a situação precária do espaço que iria abrigar, temporariamente, os trabalhadores. Segundo Angela, o local não estava adequado para receber ninguém. “Queriam nos colocar em um lugar sem ventilação, no meio de uma pandemia, sem nenhuma segurança ou condições de higiene”.

Os artesãos encaminharam, ainda em março, um ofício ao Gabinete Civil e à Câmara Municipal. “Os vereadores disseram que iam abrir uma plenária para a gente discutir isso, mas nada foi feito. A prefeita também ficou de nos receber e nada”, afirmou Angela. 

Sobre a realocação dos prestadores do Mercado Artesanal, o chefe de gabinete da prefeita disse que a gestão municipal voltou atrás na decisão e reafirmou que ela foi baseada nos pedidos da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros. “A partir do momento que a Prefeitura tiver um projeto para o local, nós nos comprometemos a vir discutir com vocês. Me comprometo também a enviar os documentos de interdição”, ressaltou.

Reivindicações para os equipamentos culturais

Além da possível demolição do Teatro Carlos Jehovah, do Mercado de Artesanato e a falta de diálogo da Prefeitura com os artistas locais, outros temas foram discutidos durante a reunião do Conselho Municipal de Cultura, nessa segunda, 22, como a necessidade de políticas públicas para as artes e de reparos em ambos os espaços culturais.

“A gente precisa de iluminação cênica adequada porque aquilo ali não é iluminação cênica. Precisamos de um regimento interno não só do Carlos Jehovah, mas de todos os equipamentos de cultura da cidade. Precisamos de uma equipe treinada e capacitada permanente, que entenda as necessidades dos artistas e do público”, enfatizou Kétia Damasceno, da companhia de teatro Operakata.

Érica Prado, escritora e integrante do movimento ‘Só Por Cima do Meu Trabalho’, destacou a importância do Teatro Carlos Jehovah enquanto espaço cultural acessível aos grupos de pessoas mais pobres e vulneráveis. “Esse local é um centro de cultura em que nós, pessoas mais carentes, podemos estar. É também um espaço de trabalho, então, qualquer fechamento, mesmo que temporário, é prejudicial”.

Já a jornalista e militante Thaís Pimenta lamentou a ausência do Legislativo conquistense na reunião do CMC. “Esse tema era pra ser pautado diariamente na Câmara de Vereadores, mas ele só aparece em alguns momentos específicos quando o debate é levado para a mídia ou há algum tipo de movimentação”, afirmou.

Sobre o Mercado de Artesanato, foi destacada a necessidade de reparos na estrutura física do local. Nesta terça-feira, 23, durante o período de chuvas, os artesãos tiveram que utilizar baldes para conter a água que caía através de goteiras no teto. Em vídeo enviado à nossa reportagem, é possível observar a situação precária do telhado. Confira:

Para a presidenta do Conselho Municipal de Cultura, Hendye Gracielle, a reunião dessa segunda, 22, foi importante porque conseguiu aproximar os artistas e, principalmente, o movimento ‘Só Por Cima do Meu Trabalho’, iniciado em defesa do Carlos Jehovah, das instâncias institucionais. 

“Houve o diálogo e todos puderam apresentar suas reivindicações. Tivemos também uma participação muito expressiva, principalmente se compararmos com outros momentos, como o Fórum Municipal de Cultura, que foi esvaziado. Agora não podemos deixar que essas pautas caiam no esquecimento”, avaliou Gracielle.

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