Editorial | Cassinos digitais e a ilusão que engana os mais vulneráveis
Por Da Redação - 7 de abril de 2025
A prisão de um influenciador em Vitória da Conquista revela as entranhas de um esquema que representa uma ameaça para trabalhadores precarizados.

A prisão de um influenciador nesta semana, em Vitória da Conquista, revela as entranhas de um esquema que usava a imagem de sucesso nas redes sociais para atrair vítimas a plataformas ilegais de apostas. Com promessas de “renda extra” e ganhos absurdos, o rapaz exibia uma vida de luxo enquanto, segundo a Polícia Civil, lucrava sobre prejuízos alheios. O influenciador indicava os melhores horários para jogar e oferecia links personalizados para cadastro, onde as pessoas entregavam seus dados, faziam depósitos e, muitas vezes, perdiam tudo.
A engrenagem, conforme apontam as investigações, favorecia poucos ganhadores com valores bem abaixo do prometido. Enquanto isso, o suspeito acumulava patrimônio. Uma loja de R$ 70 mil, um carro de R$ 180 mil e um imóvel de alto padrão avaliado em R$ 500 mil. A ostentação de carros importados e viagens criava a ilusão de um modelo replicável de sucesso, especialmente atraente para jovens e pessoas em situação de vulnerabilidade financeira.
É preciso lembrar que cassinos e jogos de azar são proibidos no Brasil desde 1946, com base no Decreto-Lei nº 9.215, justamente por seu potencial de exploração e manipulação. A prática, além de ilegal, já foi denunciada por investigações jornalísticas, como a da revista piauí, que mostrou como essas plataformas operam de forma obscura, alimentando vícios, fraudes e lavagem de dinheiro. Na ponta mais frágil do sistema, estão trabalhadores precarizados, estudantes endividados e famílias inteiras mergulhadas em falsas esperanças.
O crescimento dos cassinos digitais representa uma ameaça concreta para trabalhadores. Essas plataformas se aproveitam da insegurança econômica e da promessa de “renda extra” para fisgar quem tem pouco a perder e tudo a arriscar. Com salários baixos, desemprego e alta do custo de vida, muitos veem nesses jogos uma chance de resolver problemas financeiros rapidamente. O que recebem, no entanto, é um ciclo de perdas, endividamento e frustração.
Diferente dos jogos regulamentados com fiscalização rígida, os cassinos digitais, que na maioria das vezes são hospedados no exterior, operam sem qualquer garantia de transparência. Os algoritmos são ocultos, os resultados podem ser manipulados e não há canais seguros para contestação de perdas. Além disso, o apelo emocional e a sensação de controle sobre as apostas criam um ambiente propício à compulsão, especialmente entre trabalhadores cansados, endividados ou em busca de uma saída rápida para suas dificuldades.
Mais do que um problema legal, trata-se de uma questão social. O que está em jogo é o agravamento das desigualdades, enquanto poucos lucram com os cliques e apostas, milhares se afundam em prejuízos silenciosos, invisíveis nas estatísticas, mas devastadores no cotidiano das famílias.
A retórica da “renda extra” virou arma de marketing para um mercado que deveria ser combatido e não promovido por influenciadores. A prisão é um alerta urgente. O lucro fácil que enriquece uns poucos cobra um preço altíssimo de quem menos pode pagar, que é onde para a roda da fortuna.
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