Comunidade de Vó Dôla é reconhecida como primeiro quilombo urbano de Vitória da Conquista

Por - 23 de janeiro de 2024

Certificação foi emitida pela Fundação Cultural Palmares por meio de portaria publicada no Diário Oficial da União no dia 18 de janeiro. O processo para autorreconhecimento do território quilombola teve início em 2021.

Desde o último dia 18 de janeiro, a Comunidade de Vó Dôla se tornou, oficialmente, o primeiro quilombo urbano de Vitória da Conquista, após receber a certificação da Fundação Cultural Palmares por meio de uma portaria publicada no Diário Oficial da União. O processo para a obtenção do certificado de autorreconhecimento teve início em 2021. Para as mais de 300 pessoas que vivem na comunidade, o documento fortalece o legado ancestral e a força coletiva de um grupo que resiste há décadas a diversas formas de racismo na periferia da cidade.

Com cerca de 370 mil habitantes, Conquista possui a 10ª maior população quilombola do país em números absolutos, de acordo com o Censo 2022, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Nos anos 2000, foram mais de 30 comunidades reconhecidas enquanto remanescentes de quilombos no munícipio, através do programa Brasil Quilombola e do decreto nº 4887/2003. Mas essa é a primeira vez que um quilombo localizado na área urbana recebe a certificação.

A comunidade tem como principal referência geográfica o Beco de Vó Dôla, que fica no bairro Pedrinhas, onde se concentra boa parte dos descendentes da matriarca. Em nota enviada ao Conquista Repórter, representantes do quilombo destacaram que, ao conquistar o documento da Fundação Palmares, eles passam a “ter prioridade no acesso às políticas públicas em todas as áreas, especialmente à educação escolar quilombola, à saúde da população negra, às políticas de desenvolvimento social e ao ensino superior pelas cotas para quilombolas”.

Para Afonso Silvestre, historiador responsável pelas atividades de certificação do quilombo urbano em 2022, essa é uma oportunidade para Vitória da Conquista compreender a importância histórica desse território. “Existe ali muita riqueza cultural, uma riqueza que precisa ser compartilhada com a cidade. E para isso, a cidade precisa estar de braços abertos para acolher e para ser acolhida pelo Beco de Dôla”, afirma.

Mulheres e crianças do Beco de Vó Dôla no 9º Encontro das Comunidades Quilombolas, realizado em 18 de novembro de 2023, em Vitória da Conquista.

Cultura e ancestralidade

O primeiro quilombo urbano de Vitória da Conquista recebe o nome da sua matriarca, Vó Dôla, que chegou na cidade nos anos 50 com seus seis filhos. A família saiu do povoado de Campo Formoso, na zona rural, a 30km da sede do município e, após um período, se estabeleceu no local que hoje é conhecido como bairro Pedrinhas. Toda a história da comunidade gira em torno de lideranças femininas, como Dona Zita e Mãe Fátima, que faleceu em novembro de 2018 e conduziu o Terreiro de Xangô por mais de 30 anos.

O Beco de Vó Dôla, por sua vez, é um espaço envolvido por herança cultural que abriga ainda uma série de projetos socioeducativos desenvolvidos, principalmente, por mulheres da comunidade. Nele, funcionam a Biblioteca Comunitária Kilombeco, coordenada por Maria Joseane Sobral e Laiz Gonçalves; o Grupo Samba de Roda Negras do Beco; a banda de percussão Marujada Mirim; e o coral Vozes do Beco. Esse último irá lançar, no próximo dia 2 de fevereiro, um trabalho musical intitulado “General Marinheiro”.

Gosta do nosso trabalho? Então considere apoiar o Conquista Repórter. Doe qualquer valor pela chave PIX 77999214805 ou assine a nossa campanha de financiamento coletivo no Catarse. Assim, você nos ajuda a fortalecer o jornalismo independente que Vitória da Conquista precisa e merece!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  • some
  • Somos uma organização de mídia independente que produz jornalismo local em defesa dos direitos humanos e da democracia no sertão baiano.
  • Apoie

© 2021-2024 | Conquista Repórter. Todos os direitos reservados.