Artigo | Coopmac completa 65 anos e realiza modernização dos seus arquivos
Por Afonso Silvestre* - 3 de novembro de 2025
Fundada em 1960, a Cooperativa Mista Agropecuária Conquistense faz parte da história do município e da região Sudoeste. Existe um projeto para a criação de um memorial, em parceria com a Uesb.
												
							Afonso Silvestre
						                    Fundada em 1960, a Cooperativa Mista Agropecuária Conquistense (Coopmac) faz parte da história do município e da região Sudoeste. Em 2025, ao completar 65 anos de existência, a entidade concluiu, no mês de setembro, o trabalho de organização dos seus arquivos. O registro desse momento é importante porque está diretamente ligado à preservação da memória da cidade.
Desde a sua criação, a Coopmac atua como protagonista em momentos importantes, especialmente os ligados a dois ciclos do desenvolvimento, sendo a cafeicultura e a educação, da qual a cidade tornou-se um polo a partir da instalação da Universidade do Sudoeste da Bahia (Uesb), nos anos de 1980. A decisão que selou a criação da Uesb aconteceu numa reunião realizada na cooperativa. A partir desse encontro, o antigo curso de formação de professores se transformou em universidade.
Diante da necessidade de preservar essa memória, o trabalho de organização dos documentos iniciou-se em 2024. Foi coordenado por mim, Afonso Silvestre, que sou historiador e também atuei na modernização e regulamentação do Arquivo Público Conquistense (2012-2016), na criação do Memorial Câmara (2016) e organização e regulação do Arquivo Público de Barra do Choça (2022).
A ação foi feita em duas etapas que envolveram limpeza, triagem e classificação dos documentos, além da separação de acordo com as tipologias. Também foram criados documentos reguladores, plano para descartes, orientações para gestão dos arquivos e capacitação de funcionários ao longo do processo.
A primeira etapa foi realizada com o auxílio da bióloga Alenice Nunes, entre 2024 e abril de 2025. Já a segunda parte foi um trabalho mais aprofundado, com vistas à recuperação de documentos referentes aos trabalhadores da instituição. O processo começou em maio e terminou em setembro, com as colaborações da bibliotecônoma Maíra Gomes, da marceneira e designer de interiores Jade Silvestre e do estudante de História e estagiário do Laboratório de História Social da Uesb, Luis Henrique Magalhães.
Os documentos, que incluem mapas, livros, fotografias, jornais e outros registros, foram guardados em espaço adequado e passaram a ser geridos por funcionários capacitados. Foram separados em três categorias: 1) Correntes, dos quais se lança mão no dia a dia, registros de processos em andamento; 2) Intermediários, aqueles concluídos, mas ainda passíveis de consulta ou auditoria; 3) Permanentes, aqueles que compõem registros de memória e história da instituição.
O processo
O trabalho foi realizado com todos os cuidados para a proteção dos documentos e dos profissionais, por tratar-se de ambiente com alto risco de contaminação por fungos e bactérias. Foi estabelecido para tanto o tempo recomendado de 4 horas diárias em contato com os arquivos, com pelo menos dois intervalos para higiene das mãos e do rosto, além do uso dos equipamentos de proteção individual.
Em abril, após a primeira etapa da triagem, separação e classificação, foram descartados os conteúdos de 1.352 caixas, o equivalente a 1 milhão e 600 mil folhas de papel. Por tratar-se de uma quantidade grande de material, optou-se pelo aterramento dos papéis. A ação foi feita no Parque da Coopmac, em terreno que se configura como área de expansão da cooperativa.
O aterramento pode ser uma alternativa sustentável, dependendo das condições do solo e do objetivo do descarte. Nesse caso, como se trata de pouco mais de 15 metros cúbicos, o papel não formará barreiras de impedimento de passagem de água e ar. Para garantir maior biodegradabilidade e ajudar na aceleração da decomposição, foram retirados todos os objetos metálicos e plásticos de cada conjunto de folhas, tais como invólucros, borrachas, pastas plastificadas, clipes de metal ou similares.
O segundo descarte, em setembro, foi feito em parceria com o Recicla Conquista, que recebeu e fragmentou os papéis, inutilizando-os. Este trabalho foi mais complexo por envolver uma quantidade maior de documentos que geraram, porém, menos descarte que na primeira etapa.
Ao final dos trabalhos, foram descartados 20m³ de documentos, equivalendo a 14 toneladas de papéis armazenados ao longo de aproximadamente 50 anos. Totalizaram-se 2 milhões e 200 mil folhas de papel.

Documentos históricos
Os documentos preservados como permanentes referem-se à memória da instituição e retratam a realidade econômica, política, histórica e social também do município e região produtora de café no entorno. Esses arquivos passaram por procedimentos de higienização para melhor conservação.
Foram identificados documentos desde os anos 1940 que dão a medida das realidades sociais vividas pelo município em suas diversas épocas. São atas, registros quantitativos das exposições agropecuárias e outros eventos, de operações comerciais com quase um século, jornais, documentos em vídeo e CDs de dados, um acervo fotográfico bastante rico, plantas de arquitetura e engenharia.
Há ainda arquivos que constituem fontes primárias para levantamentos estatísticos e pesquisas. Diante disso, a Coopmac preocupou-se também com a preservação e guarda dos documentos da sua memória enquanto instituição. Para isso, pretende, por meio de parcerias com a Uesb, prosseguir no trato desses registros e criar um Memorial, para o qual já existe um projeto.
*Afonso Silvestre é historiador, arquivista, memorialista, escritor, músico e artista visual. É funcionário público municipal em Vitória da Conquista, onde já realizou, desde 2004, 32 certificações de comunidades remanescentes de quilombos. Também é responsável pela modernização do Arquivo Público Municipal.
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