No Dia da Consciência Negra, movimentos sociais e políticos realizam marcha antirracista em Conquista
Por Afonso Ribas e Karina Costa - 20 de novembro de 2021
Organizado pelo Fórum Sindical e Popular, o ato pediu o impeachment do presidente Jair Bolsonaro e repudiou as atitudes declaradamente racistas do governo. O protesto foi finalizado no Beco de Vó Dôla, um quilombo urbano no bairro Cruzeiro.
Neste sábado, 20, data em que celebra-se o Dia da Consciência Negra, moradores de Vitória da Conquista foram às ruas participar da marcha antirracista, organizada pelo Fórum Sindical e Popular. O movimento, que teve início na Praça 9 de Novembro, no Centro da cidade, pediu o impeachment do presidente Jair Bolsonaro e a saída do vice, o general Mourão, e também repudiou as atitudes declaradamente racistas do governo federal. O ato foi finalizado no Beco de Vó Dôla, um quilombo urbano localizado no bairro Cruzeiro.
A mobilização contou com a participação de integrantes de movimentos sociais e organizações políticas, representantes do Povo de Santo, além de vereadores. Naila Araújo, membro da UJC (União da Juventude Comunista), destacou a necessidade dos trabalhadores e trabalhadoras manifestarem seu descontentamento através da ocupação das ruas. “A nossa classe trabalhadora é preta, negra e indígena. Então, nós temos que denunciar as políticas genocidas e racistas do governo Bolsonaro, que vem atacando, principalmente, a população preta”, disse.
Naila ressaltou ainda que os negros e negras foram as pessoas que mais morreram durante a pandemia da covid-19. “Foi essa população que mais teve que se expor no transporte público, que mais necessitou do serviço único de saúde, o SUS, um sistema que vem sendo atacado e precarizado em favorecimento das empresas privadas de saúde”.
Aline Dourado, integrante do Levante Popular da Juventude, também esteve presente na manifestação deste sábado. Para a militante, o presidente Bolsonaro não reconhece a existência do racismo no Brasil. “Ele acha que nós temos democracia racial e isso não existe, é um mito. É por isso que nós estamos aqui hoje lutando pelo povo preto, por mais políticas públicas e qualidade de vida”, afirmou.
Enquanto os manifestantes caminhavam pelas ruas, representantes das entidades que fizeram parte da organização do ato discursavam ao microfone. A professora e historiadora Márcia Lemos falou sobre a exploração do povo negro. “Nossos ancestrais não eram escravos, eles foram escravizados, assim como os povos originários. Por isso, nós estamos aqui em um ato contra um governo que nega a existência da sua população, dissemina a morte e a miséria”.
Beco de Vó Dôla: um quilombo histórico
O ponto de finalização da marcha antirracista foi o Beco de Vó Dôla, na rua das Pedrinhas. Segundo Laíz Gonçalves Souza, articuladora cultural e neta da mulher que dá nome ao quilombo, o espaço é um terreiro de mais de oito décadas de existência. “Nós somos resistência. Já sofremos demais com esse governo genocida. Por isso, o povo de Dôla, do quilombo e da biblioteca comunitária quilombo de Vó Dôla, grita Fora Bolsonaro”, destacou.
Heberson Sonkha, militante do Movimento Negro e membro do Fórum Sindical e Popular, acredita que o encerramento do ato no Beco de Vô Dôla é simbólico devido a importância histórica e cultural do local. “É importante estarmos aqui para resgatar esse espaço, um quilombo urbano que conseguiu, durante muito tempo, organizar a população negra do [bairro] Cruzeiro. Daqui saíram bandas de afroreggae, toda uma produção cultural. E aqui também é um terreiro, e todo terreiro é lugar de resistência”.
A programação do ato, no quilombo, incluiu também a distribuição de feijoada para os participantes do movimento, a realização de samba de roda com o Grupo Marujada Mirim e com as ‘Negras do Beco de Dôla’, um desfile das pretas e pretos, além de uma roda de conversa sobre autoconhecimento quilombola.
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