“A variante Delta tem um potencial de disseminação maior e vai ser um desafio para cidades como Conquista”

Por - 3 de setembro de 2021

Após identificação das variantes Delta e Beta na Bahia, a Comissão Intergestores Bipartite (CIB) aprovou a aplicação da 3ª dose das vacinas contra a covid-19 em idosos; Infectologista destaca que a carga viral da cepa Delta é 1.260 vezes maior do que da Gamma, Beta e Alfa

De acordo com a Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab), até julho deste ano, circulavam no estado 23 linhagens diferentes do novo coronavírus. Porém, o cenário mudou com o acréscimo de mais duas variantes identificadas no último dia 26 de agosto. O Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (Lacen-BA) detectou três amostras da cepa indiana (Delta) e uma da sul-africana (Beta). Um homem, de 41 anos, que testou positivo para a variante originária da Índia, morreu em Salvador.

Em Vitória da Conquista, nesta quinta-feira, 3, foram confirmados três casos de munícipes infectados com a variante Gamma (P.1), responsável por quase 80% das infecções no estado, segundo a Sesab. A detecção de uma nova cepa na cidade ocorreu um dia após a Prefeitura liberar, por meio de decreto, a realização de eventos sociais, profissionais e científicos com até 500 pessoas, a depender da capacidade do local. A mesma medida segue em vigor em todo o estado até 10 de setembro. 

Outras ações de flexibilização têm sido tomadas pelo Executivo Municipal, como a autorização do funcionamento de bares até às 3h. Para o infectologista Augusto Anibal, do Instituto Conquistense de Oncologia (ICON), “voltar atrás [em relação ao afrouxamento das medidas de controle da covid-19] não é nenhum demérito quando a situação pode impor risco de adoecimento da população, impor mais uma vez pressão aos serviços de saúde, o que aconteceu no mundo”.

Um fator essencial para conter a disseminação das novas variantes, segundo o infectologista, é a presença de uma vigilância epidemiológica ativa e de um projeto nacional de controle da doença que seja livre de erros. “Precisamos de vigilâncias que interajam entre si. Brumado, Itapetinga, Jequié, Vitória da Conquista, toda a micro e macrorregião têm que conversar a respeito disso. Temos que continuar testando as pessoas, os indivíduos sintomáticos. Quando você tem uma vigilância ativa, você percebe antecipadamente o surgimento dessas variantes”.

“Temos que continuar testando as pessoas, os indivíduos sintomáticos. Quando você tem uma vigilância ativa, você percebe antecipadamente o surgimento dessas variantes”, Augusto Anibal, infectologista. Foto: Conquista Repórter.

Variante Delta e vacinação 

Em Conquista e em outros municípios da Bahia e do Brasil, grandes eventos e festas já foram confirmados para 2022. No final do mês de agosto, foram divulgadas datas para a realização da 16ª edição do Festival de Inverno Bahia, no próximo ano, na terceira maior cidade da Bahia. O infectologista Augusto Anibal acredita que é “pouco provável” pensar em um contexto de “volta à normalidade” daqui a alguns meses.

“O país, até meados de março e abril, não fez a lição de casa como deveria. Alguns municípios sim, mas o Brasil em geral não conseguiu fazer isso. Não houve um alinhamento do governo federal com municípios e estados em relação às medidas protetivas, à vacinação e agora em relação à vigilância da variante Delta”, afirmou o especialista.

CIB autorizou a aplicação da dose de reforço das vacinas contra a covid-19 para idosos. Foto: Governo da Bahia.

Anibal destacou que a carga viral da cepa Delta, por paciente, é 1.260 vezes maior do que a de outras variantes previamente detectadas, como a Gamma, Beta e Alfa. “O indivíduo infectado com ela [Delta] começa a contaminar outra pessoa dois ou três dias antes do que acontece com o antigo Sars-Cov-2. Então, é uma variante que tem um potencial de disseminação maior e vai ser um desafio para o nosso país e para grandes cidades, como Vitória da Conquista”. 

Além da vigilância ativa, o infectologista acredita que é extremamente necessário avançar na campanha de vacinação contra a covid-19. Ele destacou a imunização dos jovens, que conseguem manter anticorpos por mais tempo e, ao serem vacinados, auxiliam a proteger indiretamente outras populações. “Além das terceiras doses que virão, dos cuidados da vigilância e da ciência, é justamente a segunda [dose] aplicada na população mais jovem que vai possibilitar uma menor capacidade do vírus de se disseminar e produzir variantes”.

A aplicação de doses de reforço em pessoas com comorbidades e pacientes oncológicos, especialmente com a circulação da variante Delta, também merece a atenção dos órgãos responsáveis pelas estratégias de imunização, segundo Anibal. “Pela robustez do vírus, do ponto de vista infeccioso, ele impõe riscos a essas populações. Então, deve-se ter uma estratégia em nosso país, vinda do Ministério da Saúde, e no mundo todo”.

Com a identificação das variantes Delta e Beta na Bahia, o Governo do Estado propôs o início imediato da aplicação da terceira dose das vacinas nos municípios que já alcançaram a faixa etária de 18 anos. Em reunião da Comissão Intergestores Bipartite (CIB), realizada em 27 de agosto, foi aprovada a terceira aplicação em idosos com 80 anos ou mais; idosos que vivem em Instituições de Longa Permanência (ILPI); imunossuprimidos; e profissionais de saúde ativos da linha de frente, com idade acima de 60 anos.

Foto de capa: Freepik

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