Sem reforma e manutenção adequada, Praça CEUs J. Murilo sofre com o descaso do Poder Público

Por - 23 de agosto de 2022

Eleição para o novo Grupo Gestor do espaço acontece na próxima terça-feira, 30. Uma das principais demandas da comunidade que utiliza a praça é a reforma e reabertura do seu Cine Teatro.

Paredes com pintura desbotada, lixeiras reviradas, salas sem uso e pouca iluminação. Esse é o atual cenário em que se encontra a Pracinha da Cultura J. Murilo, conhecida como Praça CEUs. Localizada no bairro Alto Maron, em Vitória da Conquista, o espaço, voltado para atividades socioculturais, recreativas, esportivas, de formação e de qualificação, tem sofrido com o descaso da administração pública. 

Inaugurada em 2015 pelo ex-prefeito Guilherme Menezes de Andrade (PT), o equipamento tem como principal objetivo acolher crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social e econômica. A expectativa era de que a CEUs se tornasse um lugar de grande mobilização comunitária, onde cada vez mais ações fossem implementadas para a comunidade do seu entorno, o que vinha acontecendo, apesar de algumas limitações e dificuldades, pelo menos até 2019.

Em 2020, com o distanciamento social imposto pela pandemia da covid-19 e o fechamento temporário de espaços públicos diversos, a Praça CEUs foi um dos equipamentos culturais de Conquista que deixou de oferecer ações e atividades presenciais à população do município. Inativo e sem o devido amparo do Poder Público, o espaço foi acometido por uma situação de abandono que se agravou em meio à gestão da prefeita Sheila Lemos.

“A gente estava desenvolvendo um trabalho social muito bom, mas infelizmente a Prefeitura não ajuda”, lamenta o mestre de capoeira e artesão, Adeilton França da Silva, conhecido como Mestre Balança. Além de ter ministrado aulas de capoeira na CEUs, ele foi um dos gestores do espaço entre 2018 e 2020. O capoeirista afirma que a gestão municipal sempre colocou empecilhos tanto para o andamento dos projetos desenvolvidos na praça quanto para a reparação da infraestrutura do local. “O interesse da Prefeitura, na realidade, é que a gente não faça nada naquela praça”, acrescenta.

A reforma sem fim

Um dos principais problemas que vem se arrastando desde 2020 e segue sem solução é a falta de salas adequadas para a realização das atividades de cunho cultural e educativo. Isso porque o Cine Teatro da CEUs, onde eram oferecidas aulas e oficinas de capoeira, teatro, hip-hop, ballet, entre outras, foi interditado pela Prefeitura sob a justificativa de que fariam uma obra de restauração do espaço.

De lá para cá, dois anos se passaram e até o momento a sala permanece intocada e sem uso. Além disso, ganhou novos enfeites: mofo pelas paredes, defeitos nas instalações elétricas e equipamentos quebrados. De acordo com Mestre Balança, além de estar degradada, também não tem a iluminação devida. “A sala está jogada às traças, porque há tempos disseram que iriam fazer uma reforma, mas nunca aconteceu”, conta.

A diretora do Teatro Vocacional Alto Maron, Gabriela Pereira de Souza, que também integrou o Grupo Gestor de 2018 a 2020, é uma das pessoas que esteve à frente da luta por melhorias na praça. Ela relata que, durante a pandemia, foi feita uma reunião on-line para discutir conflitos internos envolvendo a não utilização do Cine Teatro.

No encontro, os gestores elaboraram um relatório em que descreveram as necessidades do espaço e da Praça CEUs como um todo, que também conta com quadra poliesportiva, pista de skate, biblioteca e parque infantil. Segundo Gabriela, o documento foi entregue à prefeita Sheila Lemos, mas o grupo de gestores não recebeu nenhuma devolutiva a respeito das demandas apresentadas. 

“Jogada às traças”

Diante do fechamento do Cine Teatro, a alternativa adotada por alguns grupos que frequentavam o espaço foi migrar para a sala multiuso da praça, um aposento pequeno, mal iluminado e que não comporta uma quantidade apropriada de pessoas. “Não é adequada para um trabalho contínuo, é pequena, não tem o piso adequado e também precisa de reformas”, diz a instrutora de teatro. 

O grupo ApoDío, fundado por Gabriela em 2016 e formado por adolescentes e jovens da periferia de Conquista, também teve sua ocupação comprometida na Praça CEUs devido às circunstâncias do isolamento social e do fechamento do Cine Teatro. Antes, aproveitavam o local de forma plena, promovendo oficinas de teatro do oprimido, espetáculos e ensaios de performances teatrais que, em seguida, eram reproduzidas em outros ambientes públicos da cidade.

Um dos atores que integra o ApoDío, Caio Gabriel, conta que, antes da pandemia, a própria coordenação da praça os auxiliavam nas suas principais reivindicações, por isso, não costumavam enfrentar grandes dificuldades. No entanto, após a paralisação geral, o equipamento não foi mais o mesmo. “Sem nossa presença lá e sem a do Grupo Gestor, não tem ninguém para ocupar o espaço, logo, não tem ninguém para dizer quais são nossas demandas e o que a gente de fato precisa”, afirma.

Mediante essas circunstâncias, os membros do ApoDío agora se reúnem no Centro Camillo de Jesus Lima (CCCJL), equipamento ligado à Secretaria de Cultura do Governo da Bahia que reabriu no fim do ano passado, após a flexibilização das medidas sanitárias em prevenção à covid-19. Outro grupo que passou a realizar suas atividades no CCCJL é o Coletivo Poc, formado por pessoas LGBTQIAP+ de Vitória da Conquista.

O grupo chegou a utilizar a Pracinha da Cultura J. Murillo até o início de 2020, antes do período de isolamento social.  Um dos membros do Poc, Felipe Bonfim, explica que antes era possível realizar os ensaios e demais ações do coletivo e que as demandas a serem sanadas não eram tão alarmantes quanto agora.

Com a diminuição de casos da covid-19 e a vacinação em andamento, “encontramos um local muito diferente do que havíamos deixado dois anos antes”, relata. Por isso, apesar de ter a sala multiuso, a turma preferiu pausar as atividades na Praça. “Não é o local apropriado para execução das [nossas] atividades, que exigem um ambiente mais intimista e acolhedor”, reforça. 

Atualmente, Felipe tem frequentado a CEUs apenas para conduzir e acompanhar as reuniões do Coletivo LGBT-Comunista, que utiliza a sala multiuso por falta de opções gratuitas para realização de um cine-debate em Vitória da Conquista, para além do eixo acadêmico promovido pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Para ele, mesmo diante das dificuldades, “é preciso que a gente ocupe lugares diversos, promovendo a cultura em várias zonas da cidade.”  

Eleição para novo Grupo Gestor

Para garantir que o Poder Público abra os olhos para as necessidades da Pracinha, existe o Grupo Gestor. As suas responsabilidades incluem a participação no planejamento do uso do equipamento e a promoção de ações de forma voluntária e deliberativa junto à Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer (Sectel). 

Neste ano, a eleição para o grupo acontecerá no próximo dia 30 de agosto, em assembleia marcada para às 18h. Serão eleitos os representantes da comunidade e da sociedade civil organizada, bem como representantes do próprio Governo Municipal. A gestão será de dois anos, no período de 12 de setembro de 2022 a 12 de setembro de 2024. Além disso, os membros poderão ser reeleitos.

Para Caio Gabriel, com essa eleição renasce a esperança de que os novos gestores consigam a reforma e a manutenção efetiva do local, bem como a reabertura do Cine Teatro, que precisa adquirir nova iluminação cênica, novos equipamentos sonoros e melhor estrutura. “Assim, esse espaço vai poder finalmente comportar todas as atividades que aconteçam lá dentro e voltar a movimentar culturalmente a região”, assegura.

A reabertura da do Cine Teatro também é uma das preocupações de Gabriela Souza, mais uma vez candidata à representante da Pracinha. “Essa vai ser a minha principal luta”, promete. Felipe Bonfim sugere que a gestão se atente também à fachada do espaço externo a fim de “atrair novamente o olhar não só dos moradores da região do Alto Maron, como de toda a população conquistense.”   

O Conquista Repórter solicitou posicionamento da Sectel acerca dos fatos apurados e contextualizados pela reportagem. No entanto, até a publicação da matéria, não obtivemos resposta. 

Foto de capa: Blog do Anderson.

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