Editorial | Jornalistas não propagam “fakenews”: a quem interessa parar o jornalismo independente?

Por - 19 de setembro de 2024

O Conquista Repórter foi envolvido como réu em um processo eleitoral, acusado de disseminar desinformação, em vista de reportagem sobre contratos milionários da Prefeitura Municipal.

Era tarde do domingo, 1º de setembro, quando a Justiça Eleitoral entrou em contato conosco para informar que o Conquista Repórter foi envolvido como réu em um processo eleitoral, acusado de disseminar desinformação, em vista da reportagem “Prefeitura de Conquista fechou R$70 milhões em contratos com empresa criada há 5 meses”, publicada no dia 26 de agosto. Na acusação, a prefeita de Vitória da Conquista e a coligação “Conquista Segue Avançando” afirmavam de forma pejorativa que os “jornalistas” – sim, entre aspas – estavam desinformando o eleitorado.

De forma equivocada e injusta, buscaram através da justiça limitar o exercício fundamental da liberdade de imprensa, direito constitucional, e o direito à informação. Fomos acusados de propagar informações sabidamente inverídicas sobre a administração pública local, com o intuito de prejudicar um dos candidatos na disputa eleitoral. A alegação era de que nossas publicações teriam influenciado de forma desleal o pleito. Mas, afinal, o que estava realmente em jogo?

Em uma democracia, a imprensa livre é um pilar essencial para o funcionamento da sociedade. Nossa função é simples: informar. No entanto, quando essa função entra em choque com os interesses de determinados grupos políticos, somos alvo de tentativas de censura disfarçadas de ações judiciais. No caso em questão, relatamos fatos amplamente acessíveis ao público, com base em fontes oficiais e reconhecidas, como é o caso do Portal da Transparência. E, mais importante, demos espaço para que a administração municipal apresentasse seu lado da história.

As acusações contra nós, alegando que nosso jornalismo era desinformativo e politicamente tendencioso, caíram por terra. Em uma decisão justa, a Justiça Eleitoral reconheceu que o Conquista Repórter não tinha qualquer responsabilidade na suposta desinformação propagada. Afinal, como veículo jornalístico, nossa obrigação é levantar questões, divulgar os dois lados e permitir que o público forme sua própria opinião.

Quando noticiamos sobre contratos públicos e suas possíveis implicações, o fizemos com base em documentos oficiais e em fatos que são do interesse público. Não se tratava de “fakenews” nem de uma tentativa de manipular os eleitores. No entanto, vimos nossa credibilidade sendo atacada, nossos jornalistas desafiados, e nosso compromisso com a verdade sendo posto em dúvida. Tentaram nos calar. Mas resistimos.

Quem se beneficia de um jornalismo silenciado? Apenas os que querem perpetuar esquemas, manipular narrativas e controlar o debate público. Quando se ataca um veículo independente, ataca-se o direito da população de saber o que está acontecendo nos bastidores do poder. Essa tentativa de nos silenciar não era apenas um ataque ao Conquista Repórter, mas a todos que acreditam na importância de uma imprensa livre e autônoma.

O mais preocupante desse episódio é que ele revela algo muito maior do que um simples processo eleitoral. Vivemos em tempos onde a liberdade de expressão e o direito de informação estão sob ameaça constante. Quando jornalistas são acusados de difamação apenas por fazerem seu trabalho, o risco não é apenas para o veículo de comunicação, é para toda a sociedade.

Em um contexto onde as redes sociais permitem que qualquer um publique o que quiser sem a devida responsabilidade, a imprensa profissional se torna ainda mais importante. Nossa missão vai além de reproduzir fatos: investigamos, checamos e damos visibilidade a todos os lados de uma história. E quando essa missão é atacada, devemos nos unir em defesa do jornalismo de qualidade.

Tentaram nos calar, mas não conseguiram. Seguimos firmes na nossa missão de informar sem medo e sem amarras. Agradecemos profundamente à Associação de Jornalismo Digital (Ajor) e à TornaVoz, que nos apoiaram durante este processo. Juntos, mostramos que a imprensa livre não pode ser silenciada, e que o direito à informação prevalece quando há união em torno de valores democráticos essenciais.


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