Editorial | Aumento da tarifa do transporte em Conquista evidencia uma política de exclusão
Por Da Redação - 28 de julho de 2025
Ao mesmo tempo em que cobra mais caro da população, o município falha em garantir o básico, que é frequência, cobertura e qualidade.

A partir de 1º de agosto, quem pagar em dinheiro pelo transporte coletivo em Vitória da Conquista terá que desembolsar R$ 4,20, R$ 0,40 a mais do que o valor atual. O reajuste, anunciado pela Prefeitura no dia 22 de julho, atinge justamente quem mais depende do transporte público e menos acesso tem ao Cartão BEM: a população das periferias urbanas e da zona rural, que enfrenta filas, distâncias e limitações cotidianas para simplesmente se locomover pela cidade.
O aumento escancara uma política de mobilidade urbana que opera pela lógica da exclusão. Ao mesmo tempo em que cobra mais caro da população, o município falha em garantir o básico, que é frequência, cobertura e qualidade. Como mostra o especial Acesso Negado, publicado pelo Conquista Repórter em setembro de 2024, milhares de pessoas que vivem nos distritos e povoados de Conquista seguem abandonadas por um sistema de transporte insuficiente, esporádico e ineficiente.
No Assentamento Santa Marta, por exemplo, a moradora Nalva quase perdeu o dia de vacinação dos filhos porque o ônibus passa poucas vezes ao dia. Ela precisou caminhar mais de um quilômetro com três crianças e um bebê no colo até o ponto, contando com a ajuda de vizinhos para conseguir embarcar. Já Dona Izaltina teve que recorrer ao filho para voltar para casa, depois de perder o ônibus das 11h ao esperar os óculos ficarem prontos no centro da cidade. Essas histórias, como tantas outras, mostram que em Conquista não é só a tarifa que pesa, é o descaso.
A Prefeitura justifica o reajuste como incentivo ao uso do bilhete eletrônico. Mas nas comunidades com pouco acesso à internet, sem agências da Atuv por perto ou com dificuldades bancárias, o cartão eletrônico é inacessível. Assim, quem já vive à margem continua pagando mais, tanto no valor da passagem quanto no custo social e físico de circular por uma cidade que insiste em ser excludente.
A ausência de uma política de mobilidade pensada para todos e todas contribui diretamente para a manutenção das desigualdades. A segregação no acesso ao transporte é reflexo e motor da segregação social, territorial e racial. O ônibus que não passa, o ponto sem cobertura, a estrada de barro esquecida e a ausência de diálogo com as comunidades são sintomas de uma cidade fragmentada, que nega direitos fundamentais a quem mais precisa.
Quando se trata de transporte coletivo, Vitória da Conquista ainda opera sob interesses privados. As linhas são definidas com base na lógica da lucratividade, não da universalização do acesso. A mobilidade, que deveria ser ferramenta de justiça social, se transforma em mais um instrumento de exclusão, reforçada agora pelo aumento da tarifa.
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