Editorial | A realidade escondida pela “cidade mais bem saneada do Nordeste”
Por Da Redação - 3 de novembro de 2025
Enquanto na zona urbana a cobertura de esgoto passou de 60,7% para 83,2%, em distritos rurais como Dantilândia o serviço alcança apenas 0,9% da população. Os dados mostram o abismo social e a negação de direitos.
Secom/PMVC
O que você imagina quando pensa em saneamento básico? Ou melhor: quem você visualiza quando pensa no acesso à água tratada, coleta de lixo e esgotamento sanitário? Em algum momento, passa pela sua cabeça a população rural? Ou parece difícil imaginar que água, esgoto tratado e até mesmo obras de drenagem também são necessidades para quem vive no campo?
Quando comparamos a cobertura de água e esgoto entre os distritos rurais e a zona urbana de Vitória da Conquista, e associamos isso ao marketing que vende a cidade como “a mais bem saneada do Nordeste” ou “referência em saneamento básico”, a impressão que fica é a de que os moradores do campo não necessitam desse direito e de que há pouco a ser feito para universalizá-lo.
Mas, na verdade, o que existe é um abismo de desigualdade que, além de ser pouco conhecido, acentua contradições que revelam a omissão do Poder Público, especialmente de órgãos como a Prefeitura Municipal e a Embasa, perante desafios cotidianos enfrentados por moradores da zona rural, como o isolamento e a falta de água tratada, agravados ainda mais em períodos de seca e de enchente.
Foi isso que mostrou uma reportagem publicada na última quinta-feira (30) pelo Conquista Repórter. Dados levantados pela nossa reportagem mostraram que, em 12 anos, a cobertura de esgoto estagnou em distritos como Dantilândia, alcançando apenas 0,9% da população local. Já em Veredinha, essa porcentagem subiu de 0,5% para apenas 1,1%.
Enquanto isso, na zona urbana, passou de 60,7% para 83,2%. Já o acesso à água tratada regrediu em algumas comunidades, não acompanhando o crescimento do número de habitantes na zona rural. Em José Gonçalves, por exemplo, caiu de 65,8% para 65,5%.
Na raiz desses problemas está um Plano Municipal de Saneamento Básico pelo qual a Prefeitura desembolsou quase R$1,5 milhão. Um documento que chegou a ser apresentado em audiência pública, mas nunca se tornou lei e motivou até uma ação do Ministério Público pelo descumprimento do Marco Legal do Saneamento, que estabeleceu o mês de dezembro de 2022 como prazo para que os municípios aprovassem seus respectivos planos como lei.
Ou seja, além de não ter cumprido o Marco, Vitória da Conquista investiu recurso em um amplo e importante projeto que está longe de gerar efeitos concretos na vida da população. É dinheiro público sendo gasto aos montes e não sendo revertido em benefícios para a população. O desafio de universalizar o saneamento não é só técnico, é político. E a responsabilidade de enfrentá-lo começa pelo reconhecimento de que o campo também é cidade, e seus moradores também têm direito à água limpa, ao esgoto tratado e a um futuro menos desigual.
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