Chuvas intensas em Conquista causam estragos e reacendem debate sobre drenagem urbana

Por - 10 de novembro de 2025

Os bairros Patagônia, Jurema, Santa Marta e Vila América foram os mais afetados pelo temporal no domingo, 9, segundo a Defesa Civil.

Uma forte chuva atingiu Vitória da Conquista neste domingo, 9, causando alagamentos, quedas de árvores e prejuízos em diversos bairros. Em menos de 45 minutos, o volume de água chegou a 57,62 milímetros, acompanhado de ventos de até 70 km/h, trovões e relâmpagos, segundo dados da Defesa Civil.

Os bairros Patagônia, Jurema, Santa Marta e Vila América estão entre os mais afetados. A Defesa Civil contabilizou 52 chamados da população desde a noite de domingo, com registro de queda de árvores nas zonas urbana e rural, quatro imóveis danificados e alagamentos em diversos pontos. Em um pronunciamento nas redes sociais, a prefeita Sheila Lemos (UB) disse que duas famílias estão desalojadas.

Um dos locais afetados foi o Hospital Estadual Afrânio Peixoto, onde a água invadiu corredores e áreas internas. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram profissionais de saúde utilizando rodos e baldes para tentar conter a enxurrada que tomou parte da unidade.

Durante o temporal, um grave incidente foi registrado na Avenida Juracy Magalhães, quando um homem teve o carro engolido por uma valeta e arrastado pela correnteza. Apesar de ter conseguido sair do veículo, ele acabou sendo levado pela força da água. Minutos depois, o servidor público Gerald Saraiva foi encontrado a alguns metros do local, na Avenida Bartolomeu de Gusmão, onde recebeu atendimento do Samu 192, sendo encaminhado ao Hospital São Vicente. 

Na manhã desta segunda-feira, 10, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alerta amarelo de perigo potencial para Conquista e outros municípios baianos. O instituto prevê chuvas entre 20 e 30 mm por hora ou até 50 mm por dia, com ventos de 40 a 60 km/h. Há baixo risco de queda de galhos de árvores, descargas elétricas, alagamentos e corte de energia elétrica.

Plano de saneamento engavetado

Os estragos causados pelo temporal voltam a expor a fragilidade da infraestrutura urbana e a ausência de políticas públicas eficazes de drenagem e saneamento básico em Vitória da Conquista. O que se repete a cada estação chuvosa é um retrato de um problema antigo e conhecido: a cidade não está preparada para lidar com grandes volumes de chuva.

Em janeiro deste ano, as chuvas intensas interditaram estradas vicinais, dificultando o acesso a comunidades e interrompendo serviços essenciais. Trechos de ligação entre povoados ficaram intransitáveis, com pontes danificadas, erosões nas vias e lamaçal em diversos pontos. Em algumas localidades, o transporte escolar e o escoamento da produção agrícola foram suspensos temporariamente por questões de segurança.

Meses depois, o tema da infraestrutura voltou ao centro das discussões. Uma reportagem exclusiva do Conquista Repórter, publicada em outubro deste ano, mostrou que a Prefeitura de Vitória da Conquista pagou quase R$1,5 milhão pela elaboração de um Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB) que nunca se tornou lei. O documento estratégico deveria orientar as ações de drenagem pluvial, abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto e manejo de resíduos sólidos.

O plano, no entanto, nunca saiu do papel. E, diante das chuvas intensas, os prejuízos não se limitam aos danos materiais. As enchentes também afetam o trânsito, o funcionamento de serviços públicos e o dia a dia da população, especialmente nas áreas periféricas.

Em pronunciamento nas redes sociais nesta segunda, 10, a prefeita afirmou que o alagamento no bairro Jurema ocorreu porque um carro caiu no canal de drenagem. No entanto, moradores discordaram da explicação, apontando que o problema é antigo. “Se puxar o histórico, aquela mesma área já sofre sequelas toda vez que chove […]”, comentou um usuário. 

Outros questionaram ainda o uso dos empréstimos feitos pela Prefeitura, com mensagens como “E cadê o dinheiro dos empréstimos para resolver esses problemas recorrentes?” e “Já tem gente dizendo que o próximo empréstimo resolve isso. Os últimos três não resolveram, mas autoriza mais um que vai dar certo! Pode ter certeza”.

Outra moradora relatou as consequências do alagamento. “Perdi praticamente tudo em casa, cama, guarda-roupa, geladeira, fogão. O sofá molhou todo, o armário desabou! Foi uma cena de terror. O problema é que isso se arrasta há anos e nada é feito. Você vê uma casa sendo alagada, as pessoas perdendo tudo, a água batendo no joelho e uma criança gritando, pedindo a Deus para não morrer!”.

Em casos de emergência, a população deve buscar a Defesa Civil pelo número de celular (77) 3422-5958, ou pelo WhatsApp (77) 98856-5070.

*Maria Eduarda Leite é estudante do 8º semestre do curso de Jornalismo da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) e estagiária do Conquista Repórter.

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