Editorial | Quando a política municipal age contra o esporte e a cultura popular
Por Da Redação - 27 de outubro de 2025
Após impor restrições aos skatistas para uso do Ginásio Raul Ferraz, o secretário de Esportes, Francisco Estrela, proibiu capoeiristas de treinar no Estádio Edvaldo Flores. As atitudes reforçam a segregação social ao transformar espaços públicos em territórios proibidos.
Reprodução/Site Avoador
Vitória da Conquista vive um tempo em que o Poder Público parece temer o movimento. Depois de proibir capoeiristas de treinarem na quadra do Estádio Edvaldo Flores, como denunciado pelo Avoador na quinta-feira, 23, e impor restrições aos skatistas no Ginásio de Esportes Raul Ferraz, a gestão municipal reafirma um projeto de cidade excludente, que vê com desconfiança, quando não com desprezo, tudo o que nasce da periferia, da cultura negra e das expressões livres da juventude.
A capoeira, reconhecida como patrimônio cultural brasileiro e símbolo de resistência afro-brasileira, é tratada como incômodo. O skate, esporte urbano e símbolo de contracultura, é controlado por regras e barreiras que afastam quem sempre lutou para existir no espaço público. Em comum, há uma tentativa de disciplinar, enquadrar, vigiar. A cidade que deveria acolher o corpo em movimento escolhe, mais uma vez, reprimi-lo.
O discurso oficial fala em “organização”, “segurança” e “ordem”. Mas, na prática, o que se vê é o velho conservadorismo de sempre. O medo do popular, do livre, do diverso. Quando uma secretaria municipal impede que jovens, trabalhadores e crianças usem os equipamentos públicos para praticar esportes e manter viva sua cultura, ela não está apenas restringindo atividades, está negando o direito à cidade.
O ginásio, a quadra, a praça, a pista de skate, todos são espaços que pertencem ao povo. São territórios de convivência, formação, saúde e cultura. Retirar o acesso a esses lugares é empobrecer a vida coletiva. É fazer da cidade um espaço cada vez mais segregado, onde o lazer e a cultura são privilégios de poucos, e não direitos de todos.
A repressão à capoeira e ao skate não é um fato isolado. É parte de um projeto político e ideológico que tenta apagar tudo o que não se encaixa na estética, na moral e na lógica do Poder. Uma gestão que fecha os espaços da cultura popular, que silencia manifestações artísticas e que deslegitima o esporte comunitário não governa para o povo, governa contra ele. Um governo que reconhece a cultura como ela se manifesta no atual Conselho, branco e conservador, para reafirmar o discurso de Suíça Baiana.
Vitória da Conquista precisa decidir que cidade quer ser. Uma cidade viva, plural, que reconhece a força das ruas e da cultura que brota delas? Ou uma cidade paralisada pelo conservadorismo, que transforma o espaço público em território proibido?
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