Editorial | Culto evangélico na Uesb evidencia o mito da “cristofobia” em Conquista
Por Da Redação - 22 de setembro de 2025
Na Câmara de Vereadores, Edivaldo Ferreira Júnior (PSDB) saiu em defesa do grupo cristão com discurso que distorce o conceito de racismo religioso. No Brasil, os povos de terreiro são os verdadeiros perseguidos e violentados pela expressão de sua fé.

Com louvor e pregação em alto volume, o grupo “Aviva Universitário” adentrou o espaço comum da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), em Vitória da Conquista, para evangelizar a comunidade acadêmica. O evento aconteceu no dia 10 de setembro, com aval da reitoria. Cinco dias depois, a Associação dos Docentes da Uesb (Adusb) lançou uma nota evidenciando como esse tipo de iniciativa fere a laicidade do Estado. Diante disso, não demorou muito para surgir o falacioso discurso da “cristofobia”.
Autor do PL que autorizou o uso da bíblia nas escolas da rede municipal, o vereador Edivaldo Ferreira Júnior (PSDB) logo saiu em defesa dos cristãos. “Isso é para a gente pensar: quem é que realmente está praticando algum tipo de racismo religioso?”, disse o parlamentar em sessão ordinária da Câmara Municipal, na quarta-feira, 17. A pergunta não só desrespeita todas as pessoas negras que são de fato perseguidas por sua fé, como também distorce completamente o conceito de racismo religioso.
É fato comprovado que, no Brasil, as pessoas adeptas às religiões de matriz africana são as principais vítimas de intolerância. Além disso, no país estruturado pelo racismo, o termo “intolerância religiosa” já não é suficiente para descrever as violências às quais são submetidos os povos de terreiro. Para além do preconceito contra a religião, o racismo religioso está diretamente ligado à rejeição da negritude, suas práticas e símbolos.
No Brasil em que 47,4 milhões de evangélicos e 100,2 milhões de católicos podem expressar livremente sua fé, não é possível falar em “cristofobia”. Para o Nexo, a cientista social Brenda Carranza explicou que “a cristofobia se torna o álibi discursivo que certos setores cristãos conservadores acionam contra a ameaça dos avanços que o exercício democrático trouxe às minorias sexuais e ao movimento feminista.”
Enquanto o discurso da falsa cristofobia se espalha, povos de terreiro são atacados. Um estudo da Universidade Federal Fluminense (UFF) aponta que, entre os anos 1996 e 2023, publicações da imprensa digital registraram 512 conflitos étnico-raciais-religiosos, com destaque para invasões e depredações de locais sagrados (25%) e ofensas e agressões verbais (14,5%). E ainda existe a realidade da subnotificação dos casos.
Diante desse cenário, é inconcebível colocar cristãos como vítimas de racismo religioso. Assim como é uma afronta ao princípio da laicidade a realização de cultos evangélicos em espaços comuns de uma universidade pública. O estudo dos saberes ancestrais por meio de grupos de pesquisa e projetos de extensão, em ambientes fechados, restritos para quem quiser participar, trata de produção de conhecimento e não evangelização.
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